Há tempos o público não via o SBT importar da Televisa uma história tão carismática quanto A Que Não Podia Amar. Embora loucamente apaixonada por Gustavo (José Ron) no início da trama, foi com Rogério (Jorge Salinas) que a heroína Ana Paula (Ana Brenda Contreras) acabou vivendo, de fato, sua mais intensa história de amor.
Veja também:
Rogério, é preciso admitir, não costumava ser flor que se cheire. Obcecado pela jovem enfermeira, ele chegou a arquitetar uma falsa acusação de roubo contra o irmão dela, Miguel (Osvaldo Benavides), só para chantagear Paula, obrigando-a a casar-se com ele em troca de tirar o rapaz da prisão.
Porém, o sentimento sincero pela moça acabaram por transformar o coração e o caráter do cruel fazendeiro, que, em nome desse amor desmedido, foi capaz de aceitar assumir o bebê que ela agora espera do ex-namorado, Gustavo, com quem o traiu.
A bem da verdade, o público costuma adorar ver um antagonistas dos mais perversos encontrando a redenção em nome do verdadeiro amor. Vejamos outras novelas em que os papéis de mocinhos e vilões também se confundiram.
Gael (Sérgio Guizé), de O Outro Lado do Paraíso (2017)
No início desta trama de Walcyr Carrasco, Gael enfurecia a audiência cada vez que aparecia em cena para agredir a própria esposa, Clara (Bianca Bin), a quem submetia a uma dinâmica completamente abusiva de relacionamento.
Mais tarde, porém, o público se apiedou do rapaz ao descobrir que sua agressividade era um reflexo da absurda violência que ele sofrera da própria mãe, Sophia (Marieta Severo), na infância. Ao se colocar contra as maldades da vilã para se aliar a Clara, Gael selou de vez sua redenção e passou a figurar como um poderoso candidato ao happy ending com a mocinha.
As agressões contra ela no início da trama, porém, haviam sido pesadas demais para o público perdoar, e Clara acabou mesmo nos braços do advogado Patrick (Thiago Fragoso). Ainda assim, Gael não se saiu tão mal no fim da história, ganhando até um novo amor, Taís (Vanessa Giácomo).
Fernão (Maurício Mattar), de A Padroeira (2001)
No começo da década passada, o mesmo Walcyr Carrasco assinava sua segunda novela na Globo, após o estrondoso sucesso de O Cravo e a Rosa (2000). Porém a trama, concebida como uma homenagem à fé católica em Nossa Senhora Aparecida, não agradou inicialmente ao público.
Mudanças foram, então, providenciadas, e uma delas afetou diretamente o triângulo amoroso central entre Cecília (Deborah Secco), Valentim (Luigi Baricelli) e Fernão. Concebido desde o início como o vilão perverso que separaria os pombinhos, Fernão acabou se redimindo e conquistando, em parte, o coração de Cecília, que passou a sentir-se realmente dividida entre ele e Valentim.
O público adorou a reviravolta, e muitos passaram a torcer para que, no final, Cecília escolhesse Fernão ao invés de Valentim. Prevaleceu, porém, o argumento inicial, e foi com o galã original que a heroína terminou a história.
Estela (Cleo Pires), de Araguaia (2010)
Em sua primeira – e única – protagonista na Globo, Milena Toscano (Manuela) acabou relegada a segundo plano quando sua química com o mocinho, Murilo Rosa (Solano), não funcionou perante o público.
Sorte de Cleo Pires, cuja vilã Estela se viu promovida a par romântico oficial do galã da história. Os dois, inclusive, terminaram juntos o folhetim. Já Manuela foi parar nos braços do motoqueiro Rudy (Henri Castelli), criado especialmente para preencher a ‘lacuna’ em seu coração.
Caio (Humberto Carrão), de Malhação (2009)
Na temporada 2009 de Malhação, não faltaram pretendentes ao coração da mocinha Marina (Bianca Bin). Os bons-moços Luciano (Micael Borges) e Alex (Daniel Dalcin) eram a princípio os candidatos oficiais ao coração da moça, que no decorrer da temporada se decidiria por um deles. Já Caio, o antagonista confesso, surgia como um terceiro pretendente a Marina, em nome não do amor, mas do interesse.
Uma reviravolta, no entanto, surgiu quando os telespectadores começaram a se empolgar com a química entre Marina e Caio e a pedir para que os dois se envolvessem pra valer na história. E, como a voz do povo é a voz de Deus, a autora Patrícia Mortezsohn prontamente atendeu.
Caio deixou as vilanias de lado, redimiu-se e virou o par oficial da heroína, com direito até a nova vilã para separá-los. Pena para Micael Borges, cujo ‘protagonista’ perdeu tanto espaço na trama que acabou até saindo de cena perto da reta final.
André (Marcello Antony), de Belíssima (2005)
Não é raro nas novelas vermos certos personagens passarem de mocinhos a vilões ou vice-versa. Alguns deles, porém, chegam a transitar várias vezes entre o bem e o mal ao longo da história. Foi o caso do papel de Marcello Antony nesta trama de Silvio de Abreu, recentemente retransmitida dentro do Vale a Pena Ver de Novo.
André surgiu no início da história como um simples operário, de aparente boa índole, que acabava conquistando o coração da ricaça Júlia Assumpção (Glória Pires). Com o desenrolar da trama, no entanto, descobriu-se que se tratava de um bandido contratado pela avó da heroína, a maquiavélica Bia Falcão (Fernanda Montenegro), justamente para seduzi-la, casar-se com ela e tomar-lhe todos os seus bens!
O problema é que, nesse tempo de convivência com Júlia, André acabou apaixonando-se verdadeiramente pela esposa-vítima. Sua redenção foi selada de vez somente no último capítulo, quando o filho de Quiqui (Serafim Gonzalez) deu sua vida para salvar a da amada e morreu nos braços dela.
Clara (Mariana Ximenes), de Passione (2010)
E quando a redenção do vilão (ou da vilã) não passa de mera fake news? Foi exatamente o que aconteceu com a antagonista de Passione – por sinal, outra obra de Silvio de Abreu, um mestre em personagens ambíguos.
Desde o começo da história, o público estava ciente de que Clara havia seduzido o ingênuo Totó (Tony Ramos) simplesmente para pôr as mãos na herança que ele receberia da mãe desconhecida, Bete Gouveia (Fernanda Montenegro). Em dado momento da história, porém, para surpresa geral, Clara mostrou-se arrependida de suas maldades ao apaixonar-se verdadeiramente por Totó.
Ou ao menos era o que ela – e o autor da trama – queriam que todos pensassem, dentro e fora das telas. Não demorou muito para a própria Clara revelar que o ‘surto de bondade’ não passara de puro fingimento, com o único intuito de ganhar tempo para dar cabo do maridão novo-rico! E, como reviravolta pouca que é bobagem, veio depois a vez de Totó dar o troco na esposa malvada, ao ressurgir das cinzas para revelar que havia sobrevivido ao atentado planejado por ela.
Fabinho (Humberto Carrão), de Sangue Bom (2013)
Colocar Humberto Carrão para dar uma de malvado não costuma mesmo dar certo na Globo. Escalado para viver um jovem invejoso e mau caráter em Sangue Bom, o ator mandou até muito bem no papel. Mas não teve jeito: o público não conseguia torcer contra o carismático intérprete!
Notando isso, os autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari logo trataram de promover uma virada do personagem, que aos poucos foi se redimindo e formando um par explosivo com a igualmente marrenta Giane (Isabelle Drummond).