História valiosa

No Tributo, Fernanda Montenegro relembra a opção de ficar fora da TV Globo nos anos 1970

A atriz comentou que o salário das telenovelas era infame na década de 1970, além da exposição não convir a ela

Publicado em 18/10/2024

Em homenagem ao aniversário de 95 anos de Fernanda Montenegro, a TV Globo exibiu Tributo, uma programação especial em que a atriz revisita sua carreira. A atração foi adiada por um pedido judicial do Flamengo, mas valeu a espera pelo depoimento por causa da crítica que o ícone da dramaturgia fez à emissora.

O especial foi exibido nesta quinta-feira (17), e consiste em uma edição inédita de entrevistas concedidas pela atriz ao longo dos anos de teatro e teledramaturgia.

A atriz legendária contou em uma das entrevistas exibidas no Tributo que, na década de 1970, o dinheiro não estava nas telinhas. Ela aconselhou formas melhores de ganhar dinheiro na TV para atores iniciantes.

Sua filha, Fernanda Torres, está atualmente no burburinho do Oscar, que a mãe perdeu para Gwyneth Paltrow. A matriarca decidiu logo cedo que não queria viver uma vida exposta. Ela e seu marido, Fernando Torres, decidiram ficar no teatro.

“De 1970 a 1981, foi só teatro. Tinha convites da Globo, mas eram sempre salários infames, compreende? Uma proposta muito baixa de salário”, avaliou. “Eu disse: ‘Fernando, nós estamos loucos? Nós não podemos pôr a nossa vida na televisão. Não. Nós temos que comandar nossa vida mesmo que seja modestamente, e é o teatro’.”

A trajetória da atriz brasileira demorou para cruzar com os caminhos da TV Globo, já que ela e o marido fizeram novelas em outras emissoras. Durante os anos 1950 e 1960, ambos surgiram em produções na TV Tupi, Excelsior, TV Rio e Record. Entre essas, somente a Record sobreviveu.

A escolha de ficar fora da Globo se deu por conta do excesso de exposição sobre seus colaboradores. A atriz disse ainda que, nessa época, a Globo contava vantagem de seus atores.

“E [isso foi] justamente no período em que a Globo gritava que quem era bom estava na Globo. E a gente ria, porque a gente se achava muito bom e não estava na Globo. Que ótimo, nós dois sejamos talvez os únicos bons que não estavam na Globo. E ficamos aí totalmente voltados só para o teatro, pelo Brasil inteiro”, disse Fernanda.

Manoel Carlos, novelista famoso por criar o arquétipo da Helena do Leblon, foi quem fisgou o talento de Fernanda Montenegro para a Globo. “Em 1981, Manoel Carlos chamou Fernando e a mim para uma novela dele na Globo”, declarou ela.

A novela do Maneco que atraiu Fernanda Montenegro foi Baila Comigo (1981). Inicialmente, a atriz faria o papel principal, mas a produção preferiu Lilian Lemmertz, a primeira de todas as Helenas do Maneco. Montenegro conta que só conseguiu um salário bom porque Manoel Carlos “brigou por ela”.

“Se o autor ou o diretor quiser muito você, então você pode se propor na casa”, conta a atriz. Depois de conseguir sua remuneração, Manoel Carlos informou a atriz que ela faria outro papel, Sílvia Toledo, coadjuvante em Baila Comigo. “Vocês vão mexer no meu salário?”, perguntou ela.

O documentário biográfico Tributo – Fernanda Montenegro está disponivel para assinantes do Globoplay. No doc, a atriz abre as portas de casa e revisita histórias marcantes – inclusive a cerimônia do Oscar – junto da filha.