Em seus capítulos finais na tela da Rede Globo, a novela Verão 90 provou na noite desta terça-feira (23) que ainda tinha fôlego para surpreender o público.
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Depois de passar toda a trama de Izabel de Oliveira e Paula Amaral sem dar um piu, o capanga Figueirinha (Lucas Domso) soltou a voz (alheia) para chantagear em alto e bom som a patroa megera, Mercedes Ferreira Lima (Totia Meireles). E qual não foi a surpresa do público quando, ao invés de usar as cordas vocais de seu próprio intérprete, o personagem surgiu dublado pelo consagrado ator Tony Ramos!
A brincadeira do diretor Jorge Fernando de ‘terceirizar’ a voz de Figueirinha foi, de fato, bastante criativa. No entanto, o recurso de manter um personagem de boca fechada durante uma história inteira, para só deixá-lo falar nos 45 minutos do segundo tempo, já foi bastante utilizado na dramaturgia brasileira. Relembremos alguns casos.
Luzineide (Eliane Costa), de Torre de Babel (1998)
Poucas ‘mudinhas’ fizeram tanto sucesso e são tão lembradas nas novelas como a fiel escudeira de Bina (Cláudia Jimenez) nesta trama de Silvio de Abreu. O bordão “cala a boca, Luzineide!”, constantemente proferido por Bina, popularizou-se justamente porque a pobre baixinha, acusada de “falar demais” pela amiga tirana, jamais abria a boca em cena!
Esse ‘jejum verbal’, porém, foi quebrado em grande estilo no último capítulo do folhetim. Depois de disparar um justíssimo “Cala a boca, Bina!”, Luzineide falou pelos cotovelos em uma única cena, na qual revelou que Sandrinha (Adriana Esteves) havia explodido o shopping center que dava nome à história.
Animal (Raul Labanca), de Fera Ferida (1997)
Sisudo e mal-encarado, Animal tinha uma aparência de dar medo a quem quer que passasse diante de si. Menos ao poderoso Major Bentes (Lima Duarte), patrão a quem o perigoso capanga era totalmente submisso, a ponto de sequer se permitir falar em sua presença – e tampouco de qualquer outro personagem!
Animal teve uma única fala em Fera Ferida, quando, nas cenas finais da trama, descobre que seu chefe ostentava ilegitimamente a patente de major. “Mas, para mim, ele será para sempre o meu general!”, declarou o matador de aluguel, para surpresa da audiência.
Sheyla Shirley (Marcelo Szykman), de Amigas e Rivais (2007)
O salão de beleza de Gardênia (Josmar Martins) abrigava os personagens mais cômicos e excêntricos desta trama assinada por Letícia Dornelles no SBT, com base no original mexicano de mesmo nome.
Entre eles, estava Sheyla Shirley, homossexual afetadíssimo que sequer precisava abrir a boca para ‘borboletear’ constantemente pelo estabelecimento – mesmo porque Gardênia, seu opressivo patrão, jamais lhe permitiu dar um piu em cena.
Jesus (Germano Filho), de Partido Alto (1984)
Alívio cômico desta trama de Aguinaldo Silva e Glória Perez, o personagem foi o precursor dos ‘mudos por obrigação’. Sempre que tentava abrir a boca, era imediatamente podado por sua esposa, a megera Iara (Ilva Niño), que adorava esculhambá-lo.
Lurdinha (Simone Gutierrez), de Passione (2010)
Formava com Jackie (Alexandra Richter) a ‘dupla dinâmica’ das secretárias de Olavo da Silva (Francisco Cuoco), o ‘Rei do Lixo’. Acusada de ‘falar demais’ pela colega de escritório, nunca abriu a boca em cena, o que não a impediu de formar um par romântico pra lá de fofo com o carteiro italiano Mimi (Marcelo Médici).