Amigos da Coluna Por Trás da Tela, hoje eu recebo a visita de Marina Machado. É um grande prazer conversar com uma excelente profissional. Nós nos conhecemos na All TV e depois nos reencontramos na TV Bandeirantes.
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Marina é uma jornalista competente, aplicada, se prepara muito para levar a melhor informação ao espectador, com cultura e inteligência acima da média. É do time de jornalistas que eu gosto porque não confunde a missão de levar as notícias aos interessados com a missão de estrela de TV – algo muito comum nos dias de hoje. Se você gosta de jornalismo e informação, acompanhe a incrível Marina Machado.
CHRISTIANO BLOTA – Marina, é um grande prazer a sua visita à Coluna. Eu trabalhei contigo em dois lugares diferentes (All TV e Bandeirantes) e conheço sua dedicação, comprometimento e competência como jornalista.
MARINA MACHADO – Muito obrigada, Chris. Vivemos juntos o meu começo de carreira no jornalismo. Nossa parceria na bancada do Jornal da All TV foi de uma sintonia rara. Ganhei um amigo e um colega que admiro muito.
CB – Acho que nunca falamos sobre isso, mas como você se descobriu jornalista?
MM – Eu nasci jornalista. Pelo menos é o que todos dizem na minha família. Quando criança eu ganhei um “Meu primeiro Gradiente”, que era um gravador de fita cassete todo estilizado para crianças e tinha um microfone acoplado. Era o brinquedo do momento. Com ele em mãos, eu passei a entrevistar qualquer ser humano que passasse na minha frente. Quando tive hepatite A, aos 11 anos, tive que ficar em casa por um mês. Para me entreter, desenvolvi um telejornal. Criei até cenário para fazer a apresentação, escrevi laudas de matérias e gravamos na filmadora da família. Sempre gostei de entender um assunto e transmiti-lo para outra pessoa.
CB – E a sua primeira oportunidade. Como surgiu?
MM – Eu entrei na TV Bandeirantes como estagiária do entretenimento. Só consegui a vaga porque ligava todo santo dia para a Carol do RH. Anos depois, já sendo muito minha amiga, ela me contou que eu era a pessoa mais chata do mundo pela minha insistência. Eu não queria ficar no entretenimento, queria ir para o Jornal da Band. Passava nos estúdios e na redação e sonhava. Trabalhei anos em produções da Band até que, de tanto bater na porta do jornalismo, ganhei uma oportunidade. Entrei para o jornal do antigo Canal 21 e fui galgando meu espaço até chegar à bancada do Jornal da Band, que tive a honra de apresentar ao lado do Ricardo Boechat e do Boris Casoy. Fui repórter do jornal até recentemente. Foram 14 anos nessa função maravilhosa.
CB – Qual foi seu melhor momento na profissão?
MM – Essa é a pergunta mais difícil. Como repórter vivi momentos muito fortes, emotivos e significativos. Como apresentadora são outras vivências. O maior desafio na apresentação foi quando tive que ficar três horas ao vivo, e direto, sem intervalo, falando sobre o massacre na Escola Estadual Raul Brasil. Na reportagem tive encontros muito marcantes. Entrevistei o Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na lua, estive em Hiroshima e falei com um sobrevivente da bomba atômica, e na Serra da Canastra coloquei a mão em um lobo-guará. Não consigo escolher… Desculpe… (risos)
CB – Marina, como você avalia o atual momento do jornalismo no Brasil?
MM – Terrível. Absolutamente terrível. Muitos fatores contribuem para o descrédito que estamos vivendo. Temos a mensagem de WhatsApp, o post do Facebook, o tal de “alguém falou”, mas os grandes culpados somos nós mesmos. O jornalismo deixou de ser um espaço para notícias e virou uma gritaria de opiniões e verdades. Certezas absolutas e muitas divisões. Se não somos os causadores dessa divisão política profunda, somos os incentivadores dela. Eu, a vida toda, batalhei para humanizar a comunicação. Eu chego com perguntas e você, ser humano que ocupa aquele cargo ou que vive aquela situação da pauta, tem as respostas. Qualquer agressividade no meu tom, qualquer insinuação acusatória, é apenas uma ferramenta para gerar animosidade e desconforto. Nenhuma comunicação de qualidade acontece quando os lados estão se provocando. Ninguém se ouve. Só acusa e defende. No fim, o público fica refém de visões e narrativas e a realidade se perde nessa batalha.
CB – E o nosso futuro? (risos) Digo, o futuro dos jornalistas, em um mundo em que a internet veio com força, as máquinas substituem os homens e as funções se acumulam.
MM – O nosso futuro depende de nós. Frase batida pacas, mas é bem isso. O jornalismo é essencial para a democracia. Somos os olhos, os fiscais, os defensores dos mais necessitados. Sempre seremos isso. Como utilizaremos o tempo que as pessoas nos dão para ouvir o que temos a dizer é que vai definir o nosso futuro. Temos que atualizar a nossa linguagem, quebrar protocolos velhos, conversar como seres humanos e não como intelectualoides. Temos que traduzir o complexo para facilitar o entendimento. Temos que olhar para o macro para entender o impacto no micro e vice-versa. Temos que entender que não há só um lado da história e que tudo na vida tem prós e contras. E essas duas faces da moeda precisam ser apresentadas para que o público, nosso verdadeiro chefe, possa formar a própria opinião.
CB – Marina, me fale um pouco do Sem Censura, programa que você apresenta na TV Brasil.
MM – O Sem Censura é uma realização. Primeiro, porque ele tem uma tradição quase 40 anos na TV brasileira. Foi comandado brilhantemente pela Leda Nagle por mais de duas décadas. Portanto, para mim, ter o convite de assumir esse posto foi uma honra. O programa mudou muito do que ele era, por isso, durante o primeiro ano ganhou até o nome de Novo Sem Censura. Nele eu consigo fazer exatamente o que venho comentando nas perguntas anteriores. Eu trago nas minhas perguntas um olhar humano sobre aquele entrevistado. Ora temos autoridades do Governo Federal, ora temos esportistas, músicos, artistas… cada programa é um desafio novo. E o melhor do Sem Censura é que ele é sem censura. Trago sempre dois jornalistas de outras emissoras ou mídias para serem debatedores. Temos ricos debates sobre os mais diversos pontos de vista, sempre em um ambiente respeitoso e aberto. Temos no último bloco um quadro chamado ‘De Bate Pronto’, em que faço as perguntas mais escabrosas para o entrevistado. E esse quadro é o queridinho do público, porque é nele que entramos na vida real daquela personallidade que estamos entrevistando. Eu realmente adoro comandar o programa e sentir o retorno do público.
CB – Além do Sem Censura, algum projeto em paralelo?
MM – Vários (risos), sou muito ativa. Tenho uma sociedade nova saindo do papel, mas ainda não posso comentar sobre o que é. Dou mentorias de comunicação aplicada no dia a dia e cursos de media training. Já tenho dezenas de profissionais que participaram da ‘Jornada da Comunicação de Alta Performance’. Tenho dado palestras sobre comunicação e escuta ativa. Recentemente fui coprofessora em um curso de liderança na FGV-SP. Além de trabalhar como locutora e mestre de cerimônias.
CB – Agora a minha pergunta clássica da Coluna: quando Marina Machado não está na tela do celular, da TV, do computador, o que ela faz ‘Por Trás da Tela’?
MM – Sou mãe de dois meninos lindos, um de 10 anos e um de dois. Madrasta de uma mulherona de 18 anos. Esposa de um cara incrível que ama subir montanhas e vulcões pelo mundo. Gerencio a casa, essa tropa toda, levo e busco na escola, medito todos os dias, jogo vôlei de praia quando a minha agenda em Brasília (para onde vou toda segunda-feira e retorno na terça) me permite. E leio livros, muitos livros.
CB – Muito feliz com a sua presença por aqui. Espero que possamos conversar mais vezes. Muito obrigado, Marina Machado.
MM – O prazer foi todo meu, Chris. Obrigada por trazer tantas histórias e opiniões enriquecedoras na sua coluna e por me convidar para fazer parte desse time.