O poeta Mário de Andrade possui uma citação que diz o seguinte: “As pessoas não debatem conteúdo, apenas os rótulos”, e na sociedade em que vivemos, isso está cada vez mais latente. Na televisão (entretenimento) principalmente. Quando o homem é bonito, é taxado como “galã”. Quando não é tão bonito, dizem que é engraçado. Enfim.
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Eriberto Leão fugiu de todos esses estereótipos ao interpretar o médico Samuel em O Outro Lado do Paraíso. Se entregou de corpo e alma ao personagem, e, sem dúvida nenhuma, passou emoção sem igual ao público, ao falar de um assunto pouco explorado na dramaturgia brasileira.
Com cuidado, Eriberto representou milhares de pessoas que vivem situações parecidas com a de seu personagem na trama de Walcyr Carrasco. E, com sensibilidade e respeito, fez muita gente repensar a sua vida. A missão de um artista é essa: levar sua arte ao próximo. E, emocionar.
Extremamente politizado e espiritualizado, o ator, no mesmo papo, consegue falar de Schopenhauer a Nietzsche sem perder a doçura. A seguir, confira um papo intimista com esse artista peculiar, no qual falou um pouco de tudo e revelou detalhes de Samuel, um dos personagens mais amados da trama de Walcyr Carrasco.
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A trama está se encaminhando para a sua reta final. Qual o balanço que você faz desse projeto até aqui?
A novela é um sucesso estrondoso. Todos nós estamos muito felizes.
O Samuel foi um personagem que tirou você da sua zona de conforto?
Completamente. Samuel é complexo, transita entre o drama e a comédia. Me sinto muito realizado e grato por estar vivendo esse grande personagem.
Você foi muito corajoso ao interpretar esse personagem. O que você aprendeu com o Samuel que irá levar em sua jornada pessoal e profissional?
Obrigado. Penso que Samuel fez com que eu me aprimorasse no meu ofício, ele exigiu muito de mim. Ainda bem! (risos). Além disso, a troca com os incríveis atores do nosso núcleo gerou uma sintonia tão grande que sempre vou querer buscá-la. Pois é possível sermos um só corpo apesar da nossa individualidade. Essa é a chave!
Você percebe que sua missão foi bem executada? Missão essa, de mostrar para o telespectador que não vale a pena viver em um mundo de mentiras?
Sim. A mentira aprisiona. A verdade liberta. A trajetória de Samuel mostrou isso.
Como está sendo o retorno desse personagem nas ruas?
Incrível! As pessoas me abordam com muito carinho, com muita intimidade. Creio ser esse o maior retorno que um ator pode ter. Estou muito feliz.
Já passamos do capítulo 125, qual foi a cena que mais mexeu com você?
Foram tantas… Mas a cena com a Adinéia (Ana Lúcia Torre), em que ela e Samuel conversam depois do flagra armado pela Clara (Bianca Bin), pode ser apontada como uma das que mais mexeu comigo. E com a Ana Lúcia Torre também, arrisco dizer. Tiveram cenas com a Suzy (Ellen Rocche), e com o Cido (Rafael Zulu) que mexeram também, mas uma cena forte entre mãe e filho tem sempre um componente atávico, ancestral que mexe muito com a gente.
E qual foi a mais difícil de se executar?
Creio que foram as cenas da época em que Samuel tinha o fetiche de se vestir com lingeries. E como fiquei realizado ao vê-las prontas! A direção fez uma leitura sublime e muito sintonizada com o texto do Walcyr Carrasco.
Percebo que você é um cara extremamente grato. E, o seu núcleo parece que foi um presente do universo, né?
Gratidão é o reconhecimento de que não somos nada sozinhos. Então você agradece a tudo e a todos que te levaram a viver um momento como esse que vivo hoje. Sou grato ao Walcyr Carrasco, ao Mauro Mendonça Filho, ao André Felipe Binder e a toda equipe de direção, ao pessoal da técnica (Nos divertimos muito e eles emanam muita energia boa e criativa na hora de gravar), ao pessoal do figurino, maquiagem, cabelo, enfim a todo mundo que faz uma novela acontecer. E claro ao elenco, a última peça desse grande mosaico que chega na casa de todos diariamente.
Você é um ator intenso. E, extremamente estudioso. Você se cobra muito? Gosta de se assistir?
Me cobro sim. E assistir faz parte do processo criativo e de ajustes, se necessário. Particularmente adoro assistir às cenas do nosso núcleo. Samuel tem vida própria. Quando assisto me surpreendo, pois tudo é novo e impactante como se não lembrasse exatamente de como a cena foi gravada. Isso é bom demais.
Você está sendo elogiado por grande parte dos críticos de TV. Você esperava esse sucesso? Ou melhor, esse reconhecimento?
A gente trabalha arduamente para fazer o melhor. Quando há o reconhecimento é muito prazeroso. Estou muito realizado com o Doutor Samuel.
Como você lida com as críticas?
De uma forma natural, suave.
Após a trama, quais são os seus novos projetos?
Um longa-metragem, duas séries e uma homenagem ao Belchior e ao pessoal do Ceará. Para ver como o Samuelzinho, Samuca, Tigrão está rendendo bons frutos (risos). E se reconhecemos uma árvore pelos seus frutos, não poderia estar mais pleno e com a raiz, que são os pés fincados no chão.
Qual o Brasil você deseja para os seus filhos?
Ah, meu Deus… Que o Brasil cumpra seu destino de Farol do Mundo. Para isso, além do combate à corrupção endêmica, precisamos de muito investimento em educação e cultura.
Qual o final que você deseja para o Samuel?
Deixo isso para nosso grande autor.
Qual o balanço que você faz de sua carreira até aqui? Você é um vitorioso. Viver de arte em um país que não valoriza os seus artistas, não é para qualquer um…
Sou grato pelo fato de que toda minha dedicação, amor, esforço e sacrifício, terem gerado uma trajetória da qual me orgulho muito. Sou um homem realizado. Mas tenho muito chão pela frente, muitos personagens e planos para viver e realizar.