Exagerada. Fútil. Arrogante. Egoísta. Vaidosa. Essas características compõem a personalidade de Lara Alencar, personagem de Cristiana Oliveira na novela Topíssima, que estreia nesta terça-feira (21), na Record TV.
Veja também:
Mãe da protagonista Sophia (Camila Rodrigues), a moça é herdeira das Universidades Alencar, mas nunca se interessou em administrar a empresa da família. Na verdade, a sua única preocupação é manter uma aparência jovem.
Em entrevista ao Observatório da Televisão, Cristiana Oliveira conversou sobre sua nova personagem, que não aceitará o romance da filha com o Antônio (Felipe Cunha) – rapaz humilde e morador do Vidigal (RJ).
No bate-papo, a atriz também falou como lida com o envelhecimento, momentos difíceis que passou na família e sobre o possível remake da novela Pantanal, onde interpretou a inesquecível Juma. No final do ano passado, foi noticiado que a Globo estaria interessada em reviver esse clássico da teledramaturgia brasileira.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Como surgiu o convite para integrar o elenco de Topíssima?
“Foi há uns três meses ou mais. (recebi um convite) dizendo que eu ia fazer a Lara, me apresentaram o personagem, eu me apaixonei e falei sim na hora. Agora, quem me chamou de verdade, se foi um diretor ou alguém específico, isso eu não sei. Só o meu empresário sabe. Mas na hora que eu li a personagem, eu me apaixonei”.
Qual característica da personagem mais de encantou?
“Ela é louca, engraçada, exagerada, teatral. Ela está o tempo todo interpretando papéis. Ela chora e se olha no espelho para ver se está chorando bem. Mas, ao mesmo tempo, tem o universo interior dela, com os conflitos internos dela que é muito difícil de eu fazer. A Lara é um personagem muito fácil de eu fazer um estereótipo, uma caricatura. O que de uma certa forma, em algumas situações eu até faço, porque a Lara faz caricatura às vezes de personagens que ela cria na cabeça. É difícil eu, como atriz, fazer o lado verdadeiro. Eu estou tentando fazer essa onda de sentimentos e coisas dela, mas não está fácil de fazer. Tem horas que ela é seríssima, objetiva. Tem horas que é espalhafatosa. Tem horas que ela é escandalosa. É um personagem que não é linear, tem maneiras de interpretar”.
Personalidades parecidas
A Lara tem características semelhantes à da Mara, sua personagem em A Terra Prometida?
“Ela é muito fútil. Ela só dá valor para dinheiro, imagem, juventude. Ela tem 60 anos e quer aparentar ter 30. Ela se acha um máximo. Ela acha que é a mulher mais linda e gostosa do mundo. É arrogante, preconceituosa, egoísta. Ela tem uma personalidade muito parecida com a Mara. Eu brinco que só trocou uma letra de Mara para Lara. Termina uma e começa outra, como se fosse contemporânea. O embate da Mara com a filha dela, que era a Ioná [Day Mesquita], é igualzinho ao da Lara com a Sophia e o Antônio. Mas eu não fiquei preocupada em mudar não. Me chamaram para ser a vilã, se tiver algumas coisas iguais é porque são pessoas parecidas. Mas ela tem umas partes engraçadas, umas coisas que diferenciam ela”.
Aceitação do público
Você acredita que a Lara vai cair no gosto do público?
“Eu não sei. A Lara vai dar muita raiva porque ela tem esse lado que eu falei. São poucas as vezes que você olha para ela e vê um ser humano verdadeiro, porque ela se preocupa com tudo. Ela deixa de visitar a filha quando está sofrendo porque tem que pintar o cabelo, que tem um dedo de raiz branca. Então ela é de uma futilidade, de uma preocupação com juventude e beleza. Faz botox para cacete, já fez um monte de plástica e se acha a menininha. Sabemos que tem muita gente assim por aí. Eu mesmo conheço algumas, de bom caráter, não são iguais a Lara, mas que são preocupadas o tempo inteiro com o espelho. Está sendo interessante fazer. É um universo que eu sei que, infelizmente, está cada vez maior desse tipo de mulher. Não estou dizendo que são todas, pelo amor de Deus, porque a gente vem numa conquista muito importante pelo lado feminino. As mulheres se preocupam muito com o trabalho, com a família, têm que ser multifacetadas. Então, de maneira nenhuma, eu estou falando que todas são assim. Mas tem muitas que são assim, e a Lara se encaixa nesse perfil”.
Empoderamento feminino
Topíssima traz um enredo carregado de empoderamento feminino. E sabemos que as mulheres sofrem com algumas questões, como deixar o filho em casa para trabalhar. Você passou por isso?
“Com certeza eu passei por isso. Quando eu comecei a fazer novela, a minha mais velha tinha dois anos de idade. Logo depois, eu saí e fui para Pantanal. Em Pantanal nenhum familiar podia ir (nas gravações), só os atores. Eu ficava muito tempo longe dela, então ela teve que crescer junto com babá e com a minha ausência. Isso causou problemas que demoraram muito para serem solucionados. Não o que a gente pode fazer? Aconteceu. Não adianta chorar pelo leite derramado. Eu não me arrependo de nada. Se eu fiz era porque tinha que ter feito aquilo, senão eu não seria o que sou hoje. Eu não teria essa estabilidade que tenho na minha vida. Não teria descoberto tantas coisas. E hoje ela é a minha parceira, trabalha comigo. É a minha gerente, administra tudo, é supercompetente. Acho que alguma coisa de boa criação eu dei para as minhas filhas. Mas, é claro, eu fui ausente sim, principalmente da primeira”.
Remake Pantanal
Recentemente saiu nos noticiários que a Globo estava interessada em fazer um remake da novela Pantanal. O que você acha dessa ideia?
“Eu não sei. Já foram feitos tantos remakes de clássicos da teledramaturgia brasileira, de uma outra forma e com um outro tipo de interpretação. Eu acho que tudo é válido, só não consigo imaginar como vai ser. Eu acho que com a tecnologia que não tinha na época. Possa ser que até fique tecnicamente melhor, mas o nosso Pantanal teve uma pureza. Todo mundo acabou arriscando de uma forma tão despretensiosa, que eu acho que deu certo por isso. Já tentaram me perguntar sobre isso e eu não soube responder. Eu torço muito para que seja um sucesso. Aí que eu me sinto velha mesmo porque já estão fazendo remake, uma outra Juma (risos). Tem 30 anos, é natural”.
Quem você acha que poderia fazer a Juma? Tem que ser uma atriz novata, assim como você no passado?
“Não sei. Talvez. Fora Marcos Palmeiras, Cláudio Marzo, Antônio Petrin, Ângela Leal, que eram atores veteranos, a maioria era nova [estreantes]. Eu acho que deu um frescor diferente. Eu acho que abrir teste para encontrar um novo talento, uma nova cara para fazer a Jama, eu acho legal”.
Você aceitaria um convite para participar de uma nova versão dessa novela?
“Eu adoraria fazer a Filó, personagem que a Jussara Freire fez. Ela era linda, de um amor tão genuíno. O amor dela pelo filho, o amor dela pelo Zé Leôncio. Eu estou precisando fazer um personagem bonzinho (risos). Eu estou brincando. Agora eu estou na Record e não penso em nada disso. Estou falando porque é uma coisa que ainda não bateu o martelo. Eu estou falando que se fosse acontecer, eu adoraria fazer a Filó”.
Vaidade
A sua personagem tem uma preocupação extrema com a vaidade. Como você lida com essa questão?
“Eu sempre cuidei, isso não é novidade para ninguém. Eu faço botox desde os 35 anos. Já botei peito, agora quero tirar. Não sou viciada em clínica de estética, mas me preocupo, limpo e hidrato a minha pele. Sempre cuido da alimentação, faço exercícios. Eu não durmo com o rosto sujo, estou sempre limpando, hidratando e tonificando porque faz parte de mim. Mas eu me sinto muito melhor cuidando de dentro para fora. Quando eu digo longevidade é uma vida mais longa e com uma saúde melhor, do que só ficar me preocupando com dietas malucas para emagrecer. Eu me cuido muito de dentro para fora, espiritualmente e mentalmente. Cuido da minha saúde, faço exercício todo santo dia, eu acho que é isso que me mantém. Nunca fiz plástica, nunca estiquei o meu rosto. Aceito o meu envelhecimento com muita naturalidade, sem me desesperar, me acostumo com minhas rugas. Sou feliz, tenho uma família que amo, tenho meu neto, pretendo ter mais netos, tenho um marido que amo e que está envelhecendo junto comigo. Então eu não tenho nada da Lara nesse sentido. Só fisicamente, no sentido de que ela é um mulherão”.
Chamando a atenção
O que é ser um mulherão?
“Eu sempre fui um mulherão, magra ou gorda. Eu sempre fui uma mulher muito forte, apesar de ter minhas fragilidades, tristezas e fraquezas, que eu lido de uma forma muito boa. Eu sempre fui analizanda durante muitos anos. Já fiz coach, sou formada em coach. Eu não dou coach, eu fui coaching na verdade. Então foi uma coisa que melhorou muito a minha vida. Eu tenho uma outra forma de enxergar o mundo, eu lido melhor, e a maturidade também eu acho que é uma grande aliada para a mulher de 56 anos, da minha idade. Então isso é uma coisa que me mantém serena, tranquila e feliz com as coisas. Para mim, sofrimento é uma coisa muito difícil de acontecer porque eu lido de uma forma madura.
Momentos difíceis
Você já passou por momentos de sofrimentos?
“Imagina, uma pessoa que já perdeu cinco pessoas da família: três irmãos, pai e mãe; e vários amigos, já lidou com morte e situações muito delicadas da vida. Isso vai fortalecendo, criando uma carcaça e vamos ficando mais forte para tudo. Vai desimportantizando certas coisas cotidianas, que quando a gente é jovem dá muita atenção. Por isso que a minha preocupação maior é realmente a minha saúde. Eu tenho problema de coluna, tenho cinco hérnias, tenho problema no quadril. Eu passo oito a dez horas no salto e de noite tenho que ficar parada de dor. Tudo isso me preocupa, isso sim me dá angustia. Agora, se estou ficando mais velha, mas flácida, isso não me importa”.
A morte da irmã
Em qual momento da vida você achou que não ia aguentar uma situação difícil, mas se surpreendeu?
“Quando a minha irmã, que era a minha melhor amiga, morreu. Isso foi em novembro de 2015. A Bia era a minha alma gêmea, irmã de sangue mesmo. Ela teve câncer. Ali eu achei que fosse cair, porque ela era tudo para mim, era um braço, uma perna. A gente se falava todo dia, era a pessoa que eu mais confiava na vida. Quando eu perdi ela e vi que lidei com aquilo, eu falei que era forte sim. Não é só a morte, é quando você vê a possibilidade da morte próxima de uma pessoa que você ama. Nos últimos dias de vida, ela tinha consciência porque eu deitei na cama do hospital, abracei ela e ela falou assim: ‘deve ser muito ruim perder quem a gente ama, né mana?’. Daí eu perguntei do que ela estava falando. Ela olhou nos meus olhos e falou: ‘você sabe do que eu estou falando’. Ou seja, ela sabia que ia morrer. Eu perdi mais dois [irmãos] também com câncer. É uma doença que assola a família, por isso que eu sou tão preocupada com a saúde. Não estou dizendo que sou obcecada. Bebo de vez em quando, como as coisas que estou a fim, como meu doce de vez em quando, mas tudo no controle”.
A fortaleza da personagem Lara
A Lara é uma mulher forte como você?
“Eu não sei se a Lara é tão forte assim. A Lara é muito mais da boca para fora. Eu acho que a Mariinha, que é a Silvia Pfeifer, é muito mais forte internamente e verdadeiramente do que a Lara. Quando você vê muita gargalhada, você desconfia. Quando você vê gente esbravando, você desconfia. Isso é um pouco da Lara, por isso ela precisa de tantos papéis para se defender, exatamente porque talvez ela não seja uma pessoa forte”.
Relação com o passado
Você é uma pessoa saudosista?
“Passado é passado. O passado é importante a partir do momento em que a sua história é contada. Dizem que na vida temos que deixar um legado, todo mundo vive até para isso: vamos perpetuar coisas positivas que fazemos durante a nossa vida. Eu deixei, através de uma personagem, uma importância. A Cristiana pode morrer, mas a Juma fica na história da teledramaturgia brasileira, em uma das novelas que mais marcaram a teledramaturgia brasileira. Então o meu nome está ali, está em livro, no Google, em pesquisas. Várias novelas minhas passaram em vários países do mundo. Eu acho que já deixei alguma coisa na história, então fica lá. Agora eu, Cristiana, ter saudade do passado? Não. Inclusive eu até evito. Não é evitar de olhar foto, eu gosto de ver porque a minha história é muito bonita. Apesar de todos os sofrimentos que passei, é uma história linda. Eu tenho orgulho dessa história, mas é daqui para frente, é o que eu vou construir. Eu penso no que vou fazer daqui a cinco anos. Eu construo, sou empresária, me preocupo, não sou só atriz”.
Planos para o futuro
Quais são os seus planos para os próximos cinco anos?
“Ser uma grande empresária, que a minha marca continue crescendo do jeito que ela está. Já tenho a parte dos cosméticos, batons, perfume, semijoias, shampoo. Tenho uma linha de 90 produtos para tratamento de cabelo para profissionais. Estamos vendendo à beça. Eu não sou modelo, eu sou sócia. Eu tenho escritório em São Paulo e tudo isso está crescendo, é um lado meu muito forte. E continuar no palco, eu quero palco, televisão, cinema. Televisão diminui o espaço das mulheres mais velhas, a gente sabe disso. Não é culpa de ninguém”.
Mulheres maduras na TV brasileira
O que você acha dessa situação? Você considera uma cultura exclusiva do Brasil?
“Eu sou viciada em séries, principalmente em séries europeias e espanholas também, que fazem parte. Tem muitas protagonistas que têm a minha idade para cima: 60 anos, 60 e poucos. Tem espaço? Tem! Mas às vezes as pessoas gostam de ver um frescor na televisão. Não é brasileiro, até porque isso deve ser uma herança dos Estados Unidos. Os Estados Unidos sempre deram muito valor à juventude, agora eles estão mudando. A gente sabe que tem muitos protagonistas negros em séries de muito sucessos, que não tem mais essa coisa de encaixar [no padrão]. É importante um bom ator, uma boa atriz, não importa a cor, não importa nada. Vemos atores e atrizes, principalmente, mais cheinhas e gordinhas fazendo um put* personagem. Só que eu acho que o brasileiro ainda não tem esse costume. Existem poucos protagonistas que são dessa idade. Não estou falando nem da minha, estou falando de mais velha mesmo: 70, 70 e poucos e tal. Mas, graças a Deus, nós temos nossas divas que fazem maravilhosamente bem, que é Nathalia Timberg, Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, que já está com 90 e poucos anos. Ver grandes atrizes e atores trabalhando dá um put*a orgulho para a gente”.
Entrevista feita pelo jornalista André Romano.