O público irá conhecer Antonio Ramos nesta terça-feira (21), durante a estreia da novela Topíssima na tela da Record TV. Interpretado por Felipe Cunha, o rapaz vem de uma origem humilde, mora no morro do Vidigal (RJ), trabalha como taxista e sustenta a família desde que o pai, Seu Gonçalves, faleceu.
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Filho de Mariinha (Silvia Pfeifer) e irmão de Gabriela (Rafaela Sampaio), Antonio viverá uma relação conturbada com a poderosa empresária Sophia (Camila Rodrigues). Em entrevista ao Observatório da Televisão, Felipe Cunha contou como foi o processo de criação desse personagem tão íntegro.
Conciliando o trabalho que estava desenvolvendo na novela Jesus, o ator precisou um passar por mudanças corporais e conhecer de perto a rotina dos moradores do Vidigal e o trabalho de taxistas. Ao longo da conversa, o artista também falou sobre a parceria com Camila Rodrigues e carreira.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Como é estrear como protagonista de uma novela?
“É engraçado porque sempre é uma curiosidade sobre o protagonismo. Todos os personagens que fiz, eu levo de uma forma tão próximas uns dos outros. Eu falo que o Jairo tinha a sua importância assim como o Antonio tem, como o Adriano Montana tinha. Eu acho que tem nichos e níveis de emoções diferentes, mas todos eles eram admiráveis de uma forma igual. O Antonio me deixa feliz por ser um cara mais próximo de mim. Acho que é o personagem mais próximo de mim mesmo que eu já fiz na vida. Ele é o retrato de muita gente da sociedade que vive para realizar seus sonhos de uma forma mais simples possível e acredita na humanidade, nas pessoas. Trabalha para a comunidade que vive, ele é de fato um cidadão atuante. Enfim, ele é um personagem delicioso”.
Esse protagonista chegou no momento certo da sua vida e da sua maturidade?
“Eu estou maduro? Eu acho que não. Eu venho de uma região pouco favorecida culturalmente também. Nunca imaginei que um rapaz que nascesse do Vale do Jequitinhonha, com todas as dificuldades que tem a região, pudesse estar hoje protagonizando uma novela. Realmente é um sonho. Isso constrói a minha responsabilidade de ser mais honesto com as pessoas, comigo e com meu trabalho”.
Você é uma pessoa determinada?
“Eu sou. Queria ser menos, porque aí vira teimosia. É preciso saber a hora de desistir também, desistir é importante”.
Preparação para o personagem
Como foi sua preparação para compor o Antonio?
“É um desafio porque o Antonio para mim é como aprender uma nova língua. Eu sou mineiro, moro no Rio de Janeiro há quatros anos. Então trazer o registro o ‘carioquês’ num espaço de 19 dias, que foi o que eu tive e vindo de um trabalho bíblico onde tudo é mais denso, pausado, é quase como aprender uma língua nova. É óbvio que eu sigo em processo, na televisão não gravamos numa ordem cronológica exata. Eu comecei gravando o capítulo 30, para que aqui na frente eu estivesse mais azeitado na forma de falar. Andei muito de táxi. Eu lembro que no primeiro mês, eu vim todos os dias de táxi para a Record para entender como era (a linguagem carioca). Fiquei um tempo no Vidigal também para entender. Uma coisa interessante é que a comunidade tem um som diferente e música própria, que é o que vimos no clipe. É uma batida diferente, é tudo mais ágil, imediatista. O Vidigal e o táxi foram processos individuais, mas eu e a Camila fizemos várias leituras e encontros para conseguir engrenar”.
Você chegou a morar no Vidigal durante esse processo?
“Eu não cheguei a morar porque foi quando tinha aqueles impasses de facções, aí eu acho que não era seguro. Por isso até não decidimos não gravar lá. No início, as imagens colhidas de planos abertos eram lá. Depois teve a enchente, dificultou muito e a gente acabou migrando. Mas estive lá várias vezes, conversei com muita gente. Teve o Seu Carlos que trabalha com o transporte e leva pessoas da zona sul para conhecer o morro como turista. Ele foi uma pessoa que auxiliou bastante”.
Machismo
Está circulando por aí que o seu personagem é um pouco machista. É isso mesmo?
“Eu acho que todos nós temos preconceitos. O Antonio traz veladamente vários. Eu fico perguntando se tenho preconceitos, tento visualizar esses preconceitos. Acredito que todos nos carregamos um ou outro. Através do Antonio, eu me conheço mais. É uma via de mão dupla. Ele me ajuda a construir e a identificar a minha personalidade cada vez mais, e eu vou ajudando ele. Estamos juntos nessa”.
Parceria com Camila Rodrigues
Camila disse que você é um cara mais tranquilo, diferente da personalidade dela que é mais agitada. Como foi encontrar uma sintonia entre vocês dois para fazer o casal Sophia e Antonio?
“Eu nunca tinha trabalhado com a Camilinha, esse é o primeiro trabalho. Eu comecei o processo de Topíssima antes de terminar Jesus, então eu estava no ar como Jairo e entendendo quem era esse personagem. A Camila já estava mais imersa nesse trabalho desde o ano passado. Acho que tem todas aquelas dificuldades iniciais de entender o personagem e personalidade que ela tem, de não querer influenciar negativamente ou positivamente. A gente uma tendência de querer que as coisas sejam do nosso jeito, e os personagens não necessariamente. O Antonio tem vida própria, chega um determinado momento em que ele se encontra e traça, delineia sua própria personalidade. Meu trabalho é conduzir ele ali. É engraçado porque, embora sejamos bem diferentes, somos parecidos em vários outros aspectos. Por isso que funcionamos trabalhando juntos, porque completa e equilibra”.
O casal Sophia e Antonio
A Sophia e o Antonio são de mundos diferentes e enfrentarão dificuldades no relacionamento. Você acha que a diferença social ainda atrapalha alguns relacionamentos na vida real?
“Eu acho que sim. Eu acho que a gente vive um retrocesso também na forma de pensar as relações. A novela deixa bem claro que nem sempre onde se tem o melhor berço se tem os melhores princípios. O Antonio é um cara que vai trazer essa consciência para a vida da Sophia. O público vai se identificar muito com ele, muito com a Mariinha, que é a mãe dele, e muito com a irmão dele, a Gabriela. Porque é um retrato de fato da sociedade. Não que o núcleo que tem o dinheiro, que é o da Sophia, não tenha essas mensagens para passar. Eu acho que o barato é: esse núcleo humildade, digamos assim, promove uma transformação nesse universo mais farto e o universo dessas pessoas que têm dinheiro também promove uma transformação na vida dos poucos favorecidos culturalmente e financeiramente. Eu acho que é uma troca”.
Você acha que o homem sofre mais preconceito quando se envolve com uma mulher rica do que ao contrário: uma mulher pobre com um homem rico?
“A gente vem de um histórico da sociedade onde o homem é sempre o cara que tem que custear o seu familiar. Então o preconceito nasce do próprio homem de pensar que: esse relacionamento não vai ser legal porque eu não consigo viver no patamar daquela pessoa. O Antonio tem num primeiro momento essa resistência, sim, dessa diferença da classe social. Mas ele tem tantas coisas para oferecer, que elas pessoas não têm, que ele sente a vontade de ajudar. Mesmo que ele seja a pessoa que precisa de ajuda”.
Semelhança com o Antonio
No que você se identifica com o seu personagem?
“Eu acho que essa é a minha terceira novela na casa (Record). É o meu primeiro protagonista, eu vim de Apocalipse, que protagonizava junto com a Manu Do Monte a primeira fase, mas era uma fase reduzida. Eu acho que o respeito que eu tenho pelas pessoas, pelo meu ambiente de trabalho, é o que me coloca aqui hoje falando para você. Eu acho que o respeito e igualdade é o princípio de tudo. A separatividade é um grande problema na sociedade, daí nasce o preconceito, as divisões de classes sociais, cultura. Eu acho que é isso que temos em comum. Somos pessoas que realmente respeita o próximo, a si mesmo e o lugar onde trabalha”.
A rotina de trabalho muda muito ao ser protagonista?
“É uma rotina de trabalho frenética. Dorme pouco, às vezes não se alimenta muito bem. Eu desci 16 quilos para fazer esse personagem, isso em menos de dois meses. O Jairo era um sacerdote que tinha uma filha de 12 anos. Eu sempre achei que tinha uma voz muito jovem e falei: ‘tem um sacerdote que é o Paulo Figueiredo, Ernani Moraes e eu tenho 32 anos. Alguma coisa tem que acontecer fisicamente para esse personagem’. No início foi muito difícil me dedicar mesmo ao texto, a estudar, passando por esse processo físico que já cansava e castigava. Mas eu acho que valeu a pena. Acho que o resultado na tela está legal, o público vai gostar”.
Entrevista feita pelo jornalista André Romano.