Quinn, atleta da seleção canadense de futebol, chamou a atenção em sua estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio além de seu desempenho em campo. Embora tenha nascido com o sexo feminino, não se identifica como homem nem como mulher e, por isso, adotou a não-binariedade. Chamar Quinn nas transmissões esportivas se tornou um desafio para narradores (e também para este colunista nesta reportagem). Natália Lara, do SporTV, recebeu elogios por não usar “ele” ou “ela”, mas “elu”, sem designar o gênero. Eduardo Castro, do BandSports, também respeitou a identidade de gênero de Quinn.
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“Elu” é um pronome neutro, termo que se destacou entre os assuntos mais comentados nas redes sociais nesta quarta-feira (21). Em entrevista exclusiva à coluna, Natália Lara comenta sobre a decisão de se referir a Quinn sem gêneros durante a transmissão da partida do Canadá contra a seleção feminina do Japão ao lado do comentarista Conrado Santana, ambos estreantes em Jogos Olímpicos no Grupo Globo.
“O Conrado e eu conversamos muito ontem sobre o assunto. Propus a ele usarmos os termos neutros, fizemos uma pesquisa sobre o assunto e debatemos alternativas e como seriam os possíveis usos. É algo que a gente não está acostumado, mas foi muito legal a troca que tive com ele. Durante todo o jogo, eu sempre falava Quinn sem pronomes, mas na hora da substituição achei importante pontuar”, explica Natália.
O esclarecimento da narradora durante a partida viralizou nas redes sociais e repercutiu positivamente pelo respeito ao gênero de Quinn, que conquistou a medalha de bronze na Rio-2016 e revelou ter identidade não-binária em setembro de 2020.
O debate sobre a identidade de gênero ganhou importância mundial, tanto que o narrador canadense Nigel Reed se desculpou publicamente por ter usado pronomes ao citar Quinn durante a transmissão local: “Quero pedir desculpas sinceras a Quinn e aos fãs canadenses por meu uso impróprio de pronomes esta manhã. Eu sabia, mas falei mal no momento e não quis desrespeitar. Espero que você possa perdoar meu erro, com o qual vou aprender”.
À coluna, o veterano Eduardo Castro, 20 anos mais velho do que Natália Lara, admite ter encontrado dificuldades para evitar o uso dos pronomes de gênero para identificar Quinn, porém ressalta que procurou tratá-la com o respeito que “elu” e outras pessoas LGBTQIA+ merecem.
“É um assunto que me toca sim, mas sou um jovem de 47 anos, que formou seu modelo mental em um momento em que não havia essa discussão. Ainda preciso me formatar para que, na velocidade de uma transmissão, isso saia naturalmente. Acho, sim, que cada pessoa deve ser chamada pelo nome e pela maneira que ela própria se identifica. Isso será cada vez mais comum. Mas nem sempre sai automaticamente. Sabia que Quinn só queria ser chamada desta maneira, sem prenome ou qualquer outro detalhe. Tentei seguir. Se escapou, escapou mesmo”, pondera o narrador do BandSports.
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