
Antes ausência provisória e agora definitiva de seu apresentador, o SBT bateu o martelo e vai manter o “Programa Silvio Santos” no ar, mesmo sem a presença terrena de seu titular.
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Certamente, isso aumentará o peso da hereditariedade em cima de Patrícia Abravanel, que merece a oportunidade de desenvolver sua própria atração. O maior exemplo está dentro do próprio seio familiar: o neto, Tiago Abravanel, que de forma latente é o que mais herdou a veia comunicadora de Silvio Santos. Com aprovação e incentivo do próprio avô, foi construir sua carreira de forma independente.
Reprise do acervo Silvio Santos
Se for para manter a nostalgia, não seria melhor reexibir os próprios programas comandados por seu titular? Essa dinâmica fica ainda mais fácil, pois a empresa já dispõe, prontos e editados, de vários conteúdos do acervo que tinham sido preparados para um subcanal que faz parte do streaming + SBT.
Tal decisão não necessariamente canibalizaria a plataforma. Pelo contrário, a reprise casada com o canal aberto poderia até alavancar o novo empreendimento da família.
E mesmo que essa primeira seleção se esgote, não devem faltar outras no acervo da empresa. Afinal, mesmo sabendo que preservação audiovisual é um problema no Brasil devido ao reaproveitamento das fitas, é difícil acreditar que algum funcionário tenha tido a audácia de regravar em cima do programa do patrão.
Pontos positivos na manutenção do programa
Mesmo em luto, os questionamentos eram tantos que as herdeiras tiveram que tomar a importante decisão pressionadas e em pleno período de dor. E escolheram continuar com a atração que, no último dia 2 de junho, completou 61 anos no ar.
Por um lado, isso pode garantir a curto prazo a manutenção da tradição, de telespectadores e patrocinadores. Além disso, mesmo com a passagem do titular e sua substituição, mantém o recorde mundial de ser o programa mais duradouro comandado pelo mesmo apresentador. Dificilmente vai surgir um mais longevo para retirar seu nome de Silvio Santos do Guinness World Records.
Pontos negativos
Por outro lado, o canal pode assistir a triste desidratação aos poucos da sua emblemática e mais importante atração, que poderia se eternizar como icônica encerrando no seu auge. E esta seria uma das maiores entre as tantas homenagens recebidas por Silvio Santos.
A decisão, além de prematura, foi feita no escuro. Isso porque não dá para vislumbrar um futuro se baseando nos últimos desempenhos, totalmente influenciados pela expectativa de quando ou se o Homem do Baú voltaria ao seu programa. Além disso, impactado pelas notícias que ocuparam toda a mídia em torno das internações recentes sofridas pelo titular.
Patrícia prejudicada
Fora que essa decisão sacrifica mais do que beneficia a, até então, interina Patrícia Abravanel. É de fato uma das herdeiras, mas não necessariamente titular de um programa que é a cara e a personalidade de seu criador. Fica difícil para ela desenvolver todo seu potencial e personalidade, aprisionada em um formato consolidado por seis décadas!
Mesmo que tenha a total liberdade para atualizar, o preço disso fica ainda maior por ser filha, com as eventuais críticas por modificações, assim como cobranças e comparações desconfortáveis para qualquer um.
Caso inédito
Na TV brasileira, não temos exemplos de projetos autorais desse tipo tendo continuidade imediata com outro apresentador após a morte do titular. O próprio Silvio Santos teve uma oportunidade nessa linha, mas preferiu não dar prosseguimento por não acreditar em um formato continuado.
No dia 22 de maio de 1986, o apresentador Flávio Cavalcanti largou o programa no meio, sendo substituído pelo jurado Wagner Montes, morrendo logo em seguida. A admiração de Silvio Santos por esse comunicador era tanta que ele retirou a emissora do ar em sinal de luto, algo que não fez nem por si nas orientações que deixou para as filhas após sua morte.
O empresário tinha tudo para dar sequência com à atração, que obtinha grande audiência e vendas comerciais. Toda a produção disponível, assim como a presença em seu elenco do Wagner Montes, um declarado admirador e seguidor da escola Flávio Cavalcanti. No entanto, preferiu colocar fim à atração.
Dois anos depois, a mesma decisão foi tomada por um dos gurus da televisão, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. O Boni, como é conhecido, encerrou no auge o Cassino do Chacrinha, com a morte de seu titular em 30 de junho de 1988.
O programa era campeão de audiência e um dos maiores faturamentos da Rede Globo. E ainda, a emissora tinha em seu elenco os substitutos históricos e imitadores de Chacrinha que entraram no palco em algumas ocasiões com as ausências por doença e outros motivos de força maior: Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e João Kleber – este que dividiu com o titular seu último programa gravado.
Fora que ainda tinha à disposição o diretor Leleco Barbosa – filho do comunicador – e as emblemáticas chacretes e a jurada Elke Maravilha. Mesmo assim, optou pelo fim.
A força do programa é tanta que teve excelente repercussão com as reprises feitas pelo Canal Viva com as poucas fitas salvas no arquivo, assim como o anunciado retorno do Cassino do Chacrinha sob comando do ator Stepan Nercessian, que viveu o apresentador em homenagem recente no teatro. A atração anunciada pela Band para este ano, pelo jeito, foi arquivada, já que não tocaram mais no assunto.
Praça é Nossa: caso raro
Historicamente, somente uma atração de cunho autoral ganhou sobrevida sem a presença do titular. Mas, mesmo assim, sem a continuidade imediata após a morte do comandante original. E por coincidência tem uma relação quase paternal com Silvio Santos. Trata-se da Praça da Alegria – de Manoel da Nóbrega, pai artístico e empresarial de Señor Abravane
O humorístico criado em 1956 permaneceu no ar até a morte de seu titular, tendo passado pelas TVs Paulista, Rio e Record. Um ano após a despedida terrena de seu mentor, sob a supervisão do filho Carlos Alberto de Nóbrega, ressurgiu na Rede Globo em 1977. A continuidade teve novo comando de Luiz Carlos Mieli e foi programada justamente para enfrentar Silvio Santos, que tinha partido para a extinta Rede Tupi levando consigo sua grande audiência. No entanto, o humorístico repaginado não conseguiu vencer o Homem do Baú, saindo do ar menos de um ano depois.
Em 1987, o formato ganhou nova edição já sob comando do herdeiro Carlos Alberto de Nóbrega na Rede Bandeirantes. Ao ver a atração na concorrente, a equipe foi contratada por Sílvio Santos um mês depois da reestreia e está no ar até hoje, mantendo-se como uma das maiores audiências do SBT.