
O brasileiro já acompanhava as imagens com as principais registros nacionais e do mundo além de um verdadeiro espetáculo de gols bem antes da chegada da primeira emissora de TV no país, a Tupi, implantada em 1950 pelo empresário Assis Chateaubriand.
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Mesmo após o início das estações televisivas, os limitados recursos tecnológicos e financeiros impunham aos primeiros telejornais a quase total ausência de imagens, ficando praticamente restritos os registros visuais ao close do apresentador.
Sem presença de repórteres, os então locutores sequer conseguiam se fixar para a câmera em direção ao telespectador já que recursos como teleprompter ainda não existiam obrigando os primeiros apresentadores a manterem-se fixados na leitura das laudas sob a bancada. Ou seja, nas primeiras décadas, os jornais pela TV pouco se diferenciavam dos radiojornais que os inspiraram e se mantiveram por muito tempo como líderes de audiência.
Que bonito é…
Essa situação começou a mudar somente após os primeiros anos de exibição do Jornal Nacional, criado pela Rede Globo em 1969. Por meio de uma alternativa inovadora, a população passou a dispor de impressionantes sequências dinâmicas, bem editadas e com um toque artístico, disponibilizadas semanalmente. O grande destaque era o Canal 100, exibido nos cinemas antes da programação de filmes.
Com sede no Rio de Janeiro, a empresa produzia cinedocumentários com imagens de eventos e momentos que marcaram a história do Brasil e do mundo, além de agitar as vibrantes torcidas que se contorciam nas poltronas de madeira das salas escuras com os vibrantes registros marcantes da paixão nacional, o futebol.
A trilha Na Cadência do Samba (Que Bonito É), virou para várias gerações, símbolo sonoro dos lances esportivos captados em cores pelas películas cinematográficas. Somente em 1960 chegaram às TVs as pioneiras e pesadas câmeras externas, seguidas, na metade da década, pelas primeiras fitas de videotape. Até então, estávamos em uma era pré-satélite. Assim, somente em 1970 foi possível transmitir parte da primeira Copa do Mundo ao vivo, ainda em preto e branco. É que a TV colorida só chegaria ao Brasil gradativamente à partir de 1974.
Futebol nas Telonas
Em 1958, os brasileiros acompanharam os principais lances da Seleção na Copa do Mundo na Suécia por meio dos cinemas, que registraram em películas históricas as inacreditáveis atuações de Pelé e Garrincha. Mesmo com o avanço da televisão e sua concorrência desleal, a paixão do Canal 100 pelo futebol manteve a empresa presente nas coberturas das Copas do Mundo e das principais partidas nacionais até o seu encerramento.
Durante a ditadura Vargas, entre 1930 e 1945, o Canal 100 ainda enfrentou a censura e imposição do concorrente chapa-branca “Cinejornal Brasileiro”, produzido pelo rigor doutrinário do Departamento de Imprensa e Propaganda do governo – o DIP – inspirado no modelo nazista.
Resgate do Acervo Histórico
Com espaço cada vez mais restrito, a produção do Canal 100 foi despejada das salas de cinema em 1986, ressurgindo na década de 1990 em outra mídia, encontrando abrigo na extinta TV Manchete, com poucas novas imagens e se garantindo no potencial de seu rico acervo. Para recuperar esse valioso patrimônio, foi lançado um projeto de catalogação e digitalização do material, mantido até o ano 2000.
“Criado pelo cineasta Carlos Niemeyer em 1957, o cinejornal revolucionou a cobertura esportiva e cultural no Brasil, tornando-se um marco na história audiovisual do país” – destaca o texto de apresentação do projeto de resgate executado pela Cinemateca Brasileira.
São mais de oito mil latas com rolos de fitas, além de 15 mil registros textuais. Boa parte das imagens e sons originais está prestes a se deteriorar e precisa ser digitalizada com urgência para evitar perdas irreparáveis. Até o momento, o programa de recuperação conseguiu captar apenas 40% dos recursos emergenciais necessários.