30 anos depois...

Globo é obrigada a rever seus conceitos para reprisar História de Amor

Novela de Manoel Carlos retorna cheia de simbolismos

Publicado em 04/02/2025

Para o retorno de História de Amor no dia 10 de fevereiro, a atual direção da Globo foi obrigada a rever uma série de diretrizes e conceitos estabelecidos pela própria gestão atual. Uma delas é trazer de volta aos holofotes atores que passavam por um processo de apagamento na emissora — figuras que contribuíram para a história do canal, mas estavam banidos de qualquer tipo de referência.

Regina Duarte e José Mayer estão entre os protagonistas dessa trama. Sem entrar em juízo de valor, ambos foram dispensados de maneira não amigável. Ela por posicionamentos negacionistas e suposta propagação de fake news. Já o ator, por acusação de assédio sexual feita por uma camareira, chegando ao ponto de ser tema de editorial lido no Jornal Nacional, ainda na fase de andamento do processo.

Globo: tudo pode mudar

A grande surpresa foi Regina Duarte ter sido chamada de volta a Globo para gravação em off da chamada para a reprise da trama que volta dentro da segunda faixa diária de reprises, intitulada Edição Especial. É emblemático o retorno da atriz à emissora convidando os telespectadores a reviverem as emoções da novela, função geralmente exercida pelos locutores da casa.

A veterana foi a que mais interpretou Helenas, nome que batiza as protagonistas criadas por Manoel Carlos. Além de História de Amor, interpretou em Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006).

A prova de que “nada como um dia após o outro” para revisão de conceitos, a emissora teve que engolir em seco suas restrições a esses ex-funcionários diante da escassez de boas tramas para preencher a demanda aumentada pela criação de uma nova faixa de reprise, além do Vale a Pena Ver de Novo, abastecer praticamente de toda a grade do Canal Viva e da maior parte do conteúdo do Globoplay, sua plataforma de streaming.

O retorno de História de Amor é cheio de outros simbolismos. Marca os 30 anos de sua produção e ajuda a quebrar o antigo tabu de não reprisar a mesma história mais de uma vez. Essa trama já havia voltado ao ar em 2002 através do Vale a Pena Ver de Novo e em 2014 pelo Viva.

Homenagem ao Maneco

A volta de História de Amor também homenageia os 95 anos de seu autor. Marca ainda a despedida de Manoel Carlos da faixa das seis, horário em que começou na emissora em 1978 com Maria Maria. Foi com Felicidade (1991), anterior a História de Amor, que marcou o retorno do novelista à Globo após ter se afastado em meio a uma crise emocional.

Abalado com a morte súbita do ator Jardel Filho, protagonista de Sol de Verão (1982), O criador da novela largou não apenas sua história, que foi continuada por Lauro César Muniz, mas também a Rede Globo, alegando que não escreveria mais novelas.

Levou tempo para que o trauma fosse vencido. Maneco, como é conhecido no meio artístico, só voltou a escrever em 1986, com a condição de que fosse uma obra curta e entregasse de uma só vez todos os episódios, o que resultou em Novo Amor, produzida pela Manchete, com apenas 62 capítulos.

Já para a Globo, o retorno demorou uma década, e assim mesmo no menos pressionado horário das seis. Foram 15 anos após o incidente em Sol de Verão para que voltasse a encarar outra produção do exigente horário nobre, que foi Por Amor. O sucesso foi tanto que engatou nessa mesma faixa horária mais cinco novelas: Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida, Viver a Vida e sua última produção, Em Família.