
No capítulo desta quinta-feira (7) da novela Páginas da Vida, em reprise no Canal Viva nos horários de 13h30 e 23h, o personagem Tide volta à cena após cerca de 50 capítulos ausente. Na trama, a explicação foi de que o patriarca dos Martins de Andrade viajou para sua fazenda e foi passar uma temporada lá.
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Na verdade, Tarcísio Meira, falecido em agosto de 2021 aos 85 anos após complicações da covid-19, passou por alguns problemas de saúde na época e precisou se afastar temporariamente das gravações. Inicialmente o ator foi acometido de uma virose, e chegou a aparecer em cena um pouco afônico. A ausência de Tide acabou durando várias semanas além do previsto, que era uma só.
Vamos relembrar outros exemplos de atores que acabaram se afastando por algum tempo de novelas cujos elencos integravam, por motivo de saúde, como Tarcísio Meira na novela de Manoel Carlos exibida entre julho de 2006 e março de 2007.
Laura Cardoso em A Viagem

Outra ausência de cerca de dois meses foi a de Laura Cardoso em A Viagem, novela de Ivani Ribeiro exibida de abril a outubro de 1994. O papel da veterana era o de Dona Guiomar Muniz, mãe de Andrezza (Thaís de Campos) e sogra de Raul (Miguel Falabella).
Inicialmente, Dona Guiomar amava Raul como o filho que não tivera. Os dois eram grandes amigos. No entanto, obsidiada pelo vingativo Alexandre (Guilherme Fontes), irmão do rapaz, que morreu jurando vingança contra algumas pessoas, entre as quais Raul, a simpática fazendeira passou a fazer da vida do genro um inferno.
Curiosamente, a ausência de Laura Cardoso das gravações de A Viagem ocorreu mais ou menos na mesma altura da de Tarcísio Meira em Páginas da Vida – mais ou menos dois meses, entre o capítulo 70 e o 120. A atriz precisou passar por uma cirurgia, e o fato foi incorporado à trajetória de Dona Guiomar, que foi sempre citada pelos outros personagens até a volta da intérprete aos estúdios.
Elza Gomes em Pecado Capital

Na versão original de Pecado Capital, novela de Janete Clair exibida entre novembro de 1975 e junho de 1976, o viúvo Salviano Lisboa (Lima Duarte) contou com a ajuda da querida e dedicada Bá (Elza Gomes) para criar os seis filhos, especialmente a problemática Vilma (Débora Duarte).
Devido a problemas cardíacos e à necessidade de uma intervenção cirúrgica para corrigi-los, Elza, então com 65 anos, foi obrigada a afastar-se das gravações. Para cumprir as funções da Bá surgiu Nora (Mirian Pires), irmã dela.
A cena do retorno da Bá mostrou a emoção real dos colegas de elenco ante a volta de Elza Gomes. Mesmo com a Bá em cena novamente, Nora seguiu na mansão dos Lisboa com a irmã. Ela sempre soube do que ocorria com a família devido a cartas da irmã, que contava tudo. Elza Gomes morreu em 1984, depois de um papel muito marcante: a trambiqueira Dona Sinhá em Final Feliz (1982/83), de Ivani Ribeiro.
Paulo Autran em Guerra dos Sexos

Sabidamente avesso ao trabalho no gênero telenovela e até na própria televisão, Paulo Autran, falecido em 2007 aos 85 anos, de câncer de pulmão, ainda assim acabou aceitando alguns dos muitos convites recebidos no decorrer da vasta carreira, iniciada no fim dos anos 1940.
Um desses raros convites aceitos foi o de Silvio de Abreu para o papel do machista Otávio de Alcântara Rodrigues e Silva, chamado pelo apelido de Bimbo pela prima Charlô (Fernanda Montenegro) – que ele chamava de Cumbuca – em Guerra dos Sexos, levada ao ar de junho de 1983 a janeiro de 1984.
Durante a novela, Paulo Autran sofreu um infarto, o que desesperou Silvio de Abreu, já que Otávio era um dos personagens principais da história. Enquanto acompanhava o estado de saúde do ator e torcia por sua volta aos estúdios, durante algum tempo incerta enquanto a novela estivesse no ar, o novelista criou algumas personagens para tumultuar a vida de Charlô, enviadas pelo desaparecido Otávio.
Essas personagens foram Blanche (Renata Sorrah), Alexandra (Suely Franco) e Alma (Regina Duarte), que infernizaram Cumbuca até a volta de Paulo Autran – que, além de Otávio, ganhou um novo personagem: o primo Dominguinhos, do qual Charlô desconfiou até o final, suspeitando de que fosse Otávio mais uma vez enganando-a.
Francisco Cuoco em Deus nos Acuda

Um dos papéis centrais de Deus nos Acuda, comédia de Silvio de Abreu exibida às 19h entre agosto de 1992 e março de 1993, era o de Otto Bismark (Francisco Cuoco). Na casa dos 50 anos, charmoso, o viúvo era suspeito de ter dado cabo de suas duas esposas, Felícia, apenas citada, e Eugênia (Maria Amélia Brito).
O “Barba Azul” travava embates com a cunhada Bárbara, ou Baby (Glória Menezes), irmã de Eugênia, com quem Otto vivera um romance na juventude. Ainda, o empresário era alvo da obsessão da secretária Elvira (Marieta Severo), que se casa com ele depois de muita chantagem e coação.
Uma crise de úlcera fez com que Francisco Cuoco tivesse que deixar temporariamente as gravações de Deus nos Acuda. Silvio de Abreu teve de reescrever 12 capítulos que tinha de “frente” (vantagem em relação ao que está no ar) na ocasião, e a explicação dada para o sumiço de Otto foi uma viagem repentina.
Glória Pires em Belíssima

Silvio de Abreu tem outro caso para contar em sua trajetória de problemas inesperados com a saída, mesmo que temporária, de um ator de uma novela escrita por ele por motivo de saúde. Em Belíssima, cartaz da faixa das 20h de novembro de 2005 a julho de 2006, foi a vez de Glória Pires.
A atriz vivia a protagonista da história, Júlia Assumpção, proprietária da Belíssima, uma grande confecção de roupas íntimas femininas. Infeliz, ela caiu de amores por André (Marcello Antony), mas o romance teve muita resistência de sua avó, a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro).
Justamente quando Bia “morre” diante dos olhos dela ao cair com seu automóvel num precipício e outra personagem importante, sua cunhada Vitória (Cláudia Abreu), está na cadeia injustamente, Júlia também saiu de cena por algum tempo. Glória Pires teve uma crise de hepatite e afastou-se das gravações durante cerca de 15 dias.
Pensa daqui, pensa dali, Silvio resolveu que Júlia seria internada numa clínica para recuperar-se do choque sofrido ao ver a avó morrer, e durante esse período André, revelado mau-caráter, se aproveitaria para pintar e bordar na empresa, sem a mulher e a avó dela para impedir. O apaixonado grego Nikos (Tony Ramos) é que se lança à aventura de resgatar sua “Zúlia”, que dormia o tempo todo.
Glória Menezes em Irmãos Coragem

Aqui um exemplo um pouco diferente: uma ausência por motivo de saúde, mas que não chegou a causar o sumiço da atriz de cena. Na novela Irmãos Coragem, outro dos grandes sucessos de Janete Clair, levada ao ar de junho de 1970 a julho de 1971, Glória Menezes viveu Maria de Lara, jovem tímida e cordata, filha do truculento Coronel Pedro Barros (Gilberto Martinho).
Lara tinha outras duas personalidades: a sensual e despudorada Diana, seu total oposto, e Márcia, que apresentava características das duas. O romance da moça com o herói João Coragem (Tarcísio Meira) era o principal do enredo.
Acometida de meningite, Glória Menezes precisou ficar longe dos estúdios por mais de um mês na ocasião. No entanto, segundo o diretor Daniel Filho, a atriz não chegou a ficar fora do ar no período da ausência das gravações, já que a “frente” era bastante confortável. Bastou redistribuir a presença da estrela nos capítulos prontos para exibição, enquanto sua volta ao trabalho não ocorria.
Esses são apenas alguns exemplos, que quando ocorreram acabaram exigindo dos autores e diretores bastante jogo de cintura para lidar com as ausências de intérpretes de papéis importantes nas tramas. Felizmente o motivo era nobre e todos voltaram ao trabalho tão logo se recuperaram.