
A TV Globo aposta muitas fichas numa nova versão de Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, para abrilhantar as comemorações de seus 60 anos e ter novamente um sucesso na faixa das 21h. Prevista para estrear em 31 de março, a adaptação de Manuela Dias é a primeira feita para o público brasileiro a partir do clássico de 1988, mas não a primeira no geral.
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Em 2002, a Globo firmou uma parceria com a Telemundo para a produção de uma versão de Vale Tudo, cujo título foi traduzido ao pé da letra como Vale Todo, para apreciação do público hispano-americano residente nos Estados Unidos. O adaptador foi Yves Dumont, que na ocasião vinha de alguns trabalhos exibidos pela Record entre 1998 e 2000: Estrela de Fogo, Louca Paixão e Tiro e Queda – nesta, Yves foi supervisor de Luiz Carlos Fusco e Vivian de Oliveira.
Dirigida por Wolf Maya, Luciano Sabino e Ary Coslov, Vale Todo foi gravada nos Estúdios Globo, à época popularmente chamados de Projac, no Rio de Janeiro. Atores de diversas nacionalidades foram acionados pela Telemundo para participar da novela, o que resultava em algo um pouco estranho, já que além dos sotaques serem variados, todos os personagens falavam espanhol numa história passada no Rio.
O eixo principal era o mesmo: uma filha sem escrúpulos, Maria de Fátima (Ana Claudia Talancón), e uma mãe muito honesta, Raquel (Itatí Cantoral, conhecida no Brasil pelo papel da vilã Soraya Montenegro em Maria do Bairro), separadas pela diferença de visão de mundo e os métodos que utilizam para vencer na vida. Junto a elas, a empresária Lucrécia Roitman (Zully Montero), capaz de tudo em nome de seu poder e seus interesses.
Isso mesmo: Odete virou Lucrécia, já que o nome original da personagem aqui consagrada por Beatriz Segall não era tão familiar aos nossos “hermanos” dos países vizinhos. Outras mudanças, promovidas a partir do capítulo 30 com a entrada de Walther Negrão como supervisor de texto, diminuíram o teor político e crítico da história para focar em folhetim.
No entanto, segundo Ricardo Scalamandré, então diretor de parcerias estratégicas da TV Globo na ocasião, em declaração feita à Folha de S. Paulo, o público latino não se identificou com os núcleos familiares da obra, nem com o fato de que, mesmo com adultérios conhecidos, os casais não se separassem.
Além disso, houve um problema já de saída: para o público de países vizinhos ao Brasil, a figura da mãe é menos maleável, por assim dizer, do que para nós. Ana Claudia Talancón chegou a equipará-la à da Virgem Maria, para melhor ilustrar. De maneira que as atitudes de Maria de Fátima para com Raquel foram levadas bem a mal, e contribuíram para algum desinteresse pelo projeto.
Também à Folha de S. Paulo, Walther Negrão declarou que, se tivesse participado de Vale Todo desde o início, teria ambientado a novela em Miami, mesmo que as gravações ocorressem no Rio de Janeiro, já que acreditava que assim a produção teria algum potencial de identificação do público. Dos 150 capítulos previstos, a versão latina da história terminou com 100.
Outras curiosidades em torno de Vale Todo são a participação de Antonio Fagundes como Salvador, pai de Raquel – o ator viveu Ivan, o personagem masculino principal, em 1988, no Brasil -, e a mudança do assassino de Odete, ou melhor, de Lucrécia Roitman.
Se vimos Leila (Cássia Kiss) matar a ricaça por acidente em nossas telas, o público hispano-americano viu o mordomo Eugênio (Julio Rodríguez) ser revelado como autor do crime, para vigar-se do sofrimento que a vilã sempre infligiu à filha, Helena (Alejandra Borrero).