
Queridos amigos da coluna Por Trás da Tela, hoje escrevo para falar um pouco do comportamento dos canais de televisão nas eleições municipais. Como sempre, usei o método do controle remoto, aliado à vivencia na área. Eu me comporto como o amante de TV, amo mesmo. E acompanhei o trabalho jornalístico.
Veja também:
Por incrível que pareça, as TVs abertas fizeram um bom jornalismo, interrompendo as programações para informações relevantes. Deveria ser o óbvio, mas nem sempre é assim.
Repórteres acompanharam candidatos, Brasil afora, ouvindo as declarações deles após os votos, mostrando um pouco da zona eleitoral dos mesmos, informando sobre os respectivos bairros, com comentários não cansativos e precisos.
Enfim, eu acho que as TVs abertas colaboraram para a democracia, mantendo a grade de programação, com interrupções na hora certa – de maneira geral, claro!
Isso fez com que a entrada do repórter ao vivo, apenas para preencher horário, não tenha acontecido com frequência – e eu “vivo” reclamando nos meus textos da “encheção de linguiça” na tela.
Como é bom ver a programação de TVs que param a grade para trazer apenas informações importantes, e não aquela fala arrastada que nos leva ao marasmo. Eu acho que a televisão aberta colaborou para a democracia. Com um “porém”.
Tem fundo econômico, ou seja, importantes programas de domingo dependem de patrocinadores fiéis, além do fato de alguns dos entretenimentos atraírem mais audiência que a cobertura da eleição municipal. Mas, de qualquer forma, eu como colunista e espectador gostei do que acompanhei.
Acho que a exceção à regra foram canais abertos, que tem entretenimento fraco, e foram obrigados a reforçar a programação com um diálogo boring e a velha fórmula de cobertura política: colocar comentaristas para falar de assunto sem importância.
Por exemplo, a lentidão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não tem o que falar? Fica tranquilo: vamos de lentidão do TSE. E os concorrentes fazem a mesma coisa. Como se isso fizesse a diferença na apuração final. Informar é o correto, mas estender o assunto é de perder a paciência.
Resumindo, meus amigos, quem ganha mais dinheiro com programa de entretenimento entrou ao vivo para falar de informações políticas essenciais para as cidades do Brasil. Os canais que não tinham programas de auditório como prioridade precisaram se virar com eleições.
É aí que o caldo entorna. Porque preencher uma maratona de 24 horas (ou mais) só com eleição é algo complicado, as TVs não têm suporte, e com isso acabam no lugar comum. Entrevistas cansativas com comentaristas de todos os setores, para mostrar serviço, e números à exaustão parecendo transmissão de programa de sorteio.
O mesmo cenário notamos nos canais de notícias por assinatura, para os quais a obrigação de cobrir as eleições é ainda mais evidente – até pelo próprio objetivo da criação deles.
Os canais fechados precisavam honrar o compromisso de informação e não tinham opção, ao contrário de algumas TVs abertas. Então, o cenário de apenas notícias relevantes mudou, porque preencher a “grade” não é fácil.
Aliás, as TVs fechadas não sabem se diferenciar do rádio (já escrevi sobre isso), e o tempo dirá qual é o espaço de cada veículo de comunicação, porque não acredito que nenhum deles se acabe, mas se adeque, mude a proposta, baseado na audiência.
E outra questão: há muitos meios de comunicação por assinatura para falar do mesmo assunto. Se as notícias fossem “diferenciadas”, eles estariam garantidos, mas claramente existe muito canal fechado de jornalismo para pouca ou a mesma informação.
A seleção natural será implacável com os mais fracos, que não arredam o pé da concorrência e colocam até portal de notícias para divulgação de resultados, ao invés de ter a própria estrutura.
Mostrando o que eu sempre penso: a vinda das redes sociais na comunicação, com agilidade, deixando TV e rádio perdidos, confundiu os chefes, que parecem não saber o verdadeiro papel de cada meio na prestação de serviço.
Assim mesmo eles vendem a ideia de internet como mais um braço, que vem somar força em uma empresa de comunicação. Por fim, as grandes vencedoras das eleições foram as equipes jornalísticas em todos os canais – as que trabalham na frente e “Por Trás da Tela”.
Em um país no qual a profissão é mal remunerada, com diploma jornalístico caçado covardemente, com empregados perdendo saúde para privilegiar a informação, “vestindo a camisa” de chefes obsoletos, politiqueiros e mal-agradecidos, não há outra conclusão que não a vitória de uma classe guerreira de trabalhadores.
Espero que os eleitores se preparem, votem com consciência, nas cidades que tiverem segundo turno. E as equipes de televisão recobrem as forças para continuar a missão jornalística, trazendo informação, principalmente aqueles que hoje trabalham por amor, nem que seja um “amor bandido”!
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