A indicação de Mel Lisboa ao Prêmio Shell de melhor atriz por seu desempenho como a roqueira Rita Lee Jones (1947-2023) em Rita Lee – Uma Autobiografia Musical foi (merecidamente) festejada pela classe teatral. O trabalho da atriz na obra é realmente um dos melhores de sua trajetória, que conta com outras grandes passagens, como Boca de Ouro, dirigido por Gabriel Villela em 2017, que lhe rendeu merecida indicação.
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Mas o fato é que o olhar do júri do Shell para o trabalho da atriz como Rita Lee chega com pelo menos uma década de atraso. Isso porque em Rita Lee Mora ao Lado – O Musical, Mel Lisboa já era Rita Lee. E havia, naquela obra baseada na biografia fictícia de Henrique Bartsch (1951-2011), obstáculos mais intransponíveis do que a montagem em cartaz no palco do Teatro Porto com fenômeno de público.
Balada do louco criada para tentar dar conta de história que resultou mais saborosa no papel do que em cena, Rita Lee Mora ao Lado – O Musical era obra em que Lisboa tinha papel mais próximo à coadjuvância do que ao protagonismo, exercido por Carol Portes, intérprete de Bárbara Farniente, a vizinha fictícia da roqueira que conduzia a trama.
Ainda assim, Lisboa impressionava em interpretação que ainda não tinha sofrido o impacto do diagnóstico e da saída de cena de Rita Lee. À época, a cantora estava apenas aposentada dos palcos, mas chegou a assistir a uma das sessões do espetáculo e dar avalizar a interpretação da atriz.
Por isso foi surpreendente que boa parte da crítica e dos júris de prêmio tivessem virado as costas para a interpretação e escolhido não indicar a atriz por questões que geralmente giram em torno do fato de prêmios não darem o devido valor a musicais. O fenômeno da temporada somado à saudade ainda pungente da homenageada contribuíram para que o Prêmio Shell enfim olhasse para o trabalho de Lisboa em um espetáculo do gênero.
Ainda que com uma década de atraso, a indicação de Mel Lisboa ao prêmio Shell de teatro é justa, uma vez que, mesmo menos impressionante do que em 2014, a interpretação da atriz é o que guia Rita Lee – Uma Autobiografia Musical, espetáculo mais coeso, porém menos inventivo do que a obra que o originou.