Sem qualquer marketing, até mesmo ignorada pela própria Netflix na divulgação dos lançamentos de junho, a série espanhola Intimidade entrou quietinha no catálogo na última sexta-feira (10). Trata-se de uma grata surpresa por ser uma produção excelente, encabeçada por Itziar Ituño (a Lisboa de La Casa de Papel). A trama, que todos precisam assistir, apresenta o ponto de vista de mulheres vítimas de vídeos íntimos vazados na internet.
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Em meio a estreias badaladas como a temporada final de Peaky Blinders e a trama teen Primeira Morte (essa sim promovida em massa), Intimidade conseguiu um espaço entre as séries mais vistas pelo público brasileiro, cravando a quarta colocação no atual ranking top 10.
Fora aspectos dramáticos exagerados que podem se entender como necessários para movimentar a história, Intimidade é uma ótima série como produto final. A narrativa é contada de forma coesa e acha o equilíbrio ideal entre o didatismo e explanações cifradas. Tudo é muito bem encaixado, proporcionando uma experiência proveitosa ao espectador.
A trama de Intimidade
Composta de oito episódios, Intimidade toca em um assunto recorrente nas séries: a publicação e compartilhamento de vídeos íntimos. O que a atração espanhola tem de diferente é colocar no centro mulheres que foram vítimas desses crimes, contando até com uma divisão da polícia, chefiada por uma mulher, que investiga esses casos.
De um lado da trama está Ane (Verónica Echegui), que logo no começo é mostrada morta, boiando no mar. Aqui, a série usa o recurso do flashback (cenas do passado) em conjunto com o presente, assim o público conhece a personagem melhor. Ela era operária de uma fábrica e viveu um pesadelo ao ter um vídeo íntimo espalhado online, que viralizou nas redes sociais dos colegas de trabalho.
No presente, a audiência segue os passos da irmã de Ane, Begoña (Patricia López Arnaiz). Mesmo ainda sofrendo com a perda tão próxima, ela busca forças em uma jornada por justiça, indo parar frente a frente com a detetive Alicia (Ana Wagener), integrante da divisão de crimes de tecnologia da informação da polícia e especializada em investigar crimes de violação de privacidade.
Paralelamente a isso ocorre outro crime parecido. A advogada Malen Zubiri (Itziar), vice-prefeita da cidade de Bilbao e candidata ao cargo principal na próxima eleição, favorita inclusive, entra em desgraça assim que um vídeo dela fazendo sexo em uma praia vira notícia.
Intimidade aborda um ponto fundamental nesse arco. Homens ao redor de Malen a culpam pelo vídeo, que ameaça acabar com a carreira política dela e destruir a família. É a transformação da vítima em culpada. Ela, porém, não abaixa a cabeça a tal opressão e resolve encarar a força contrária, peitando até caciques do próprio partido que queriam se livrar dela.
Sem forçar a barra, Intimidade cruza os caminhos de Malen e Begoña, mulheres em situações aparentemente diferentes, mas unidas pela mesma causa.
Tema tão sensível, o vazamento de vídeos íntimos merecia um tratamento como o dado na série espanhola, expondo o que acontece nesses casos em vários lugares: no trabalho, na política, no lar, na escola, na polícia, na imprensa… A qualidade de alto nível da série, nos aspectos técnicos, só fortalece a produção. ⬩