Existe algo muito paradoxal no mais recente episódio de The Last of Us, intitulado ‘Quando Mais Precisamos’. Talvez, tenhamos assistido um dos melhores momentos de toda a primeira temporada da série de drama pós-apocalíptico da HBO – que ainda guarda mais um capítulo para finalizar esta primeira parte.
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Todavia, os menos de 50 minutos de duração foram, decididamente, insuficientes para a construção de um cenário e temáticas tão profundas e complexas vistas aqui, que falam sobre o fim (brutal) da adolescência, até a violência que assola o espírito do homem quando este encontra uma forma de poder e dominação sobre outros, além dos males das organizações religiosas ao redor do mundo.
Sorte que tivemos Bella Ramsey inspirada, mais uma vez, demonstrando todo o seu talento e capacidade na pele da enérgica Ellie, que em ‘Quando Mais Precisamos’ não precisou de Joel (Pedro Pascal) para sobreviver, mas precisará dele agora, mais do que nunca, para aprender a como viver com aquilo que fez.
Titãs em cena
Não dá para exaltar a mais que competente performance de Bella Ramsey aqui, sem adicionar um outro ingrediente importante. Não estamos falando de Pedro Pascal, mas de Scott Shepherd, que interpretou o líder comunitário e religioso David.
O ator americano mais conhecido por suas aparições nos longas-metragens Terapia de Risco (2013), Ponte dos Espiões (2015), Jason Bourne (2016) e El Camino: A Breaking Bad Film (2019), assim como a série The Young Pope, entregou uma atuação primorosa – especialmente, na primeira metade – quando já percebíamos que existia um colosso de violência dentro dele, porém, nuançados por uma destreza iluminada e serenidade (aparentemente) inabalável.
Entra Ellie, uma jovem garota que já viu e teve sua cota de sofrimento e violência, muito acima da média para alguém de sua idade, que constantemente demonstra grande força e resiliência perante as dores da vida. Mas, David argumenta que consegue ver em Ellie, a mesma violência que enxerga em si mesmo, sendo que tal raciocínio provou-se incontestável, entretanto, analisamos pela cena final deste capítulo, aquilo que diferencia a violência dela com aquela sentida e vista em David, no caso, a consciência e o pesar de seus atos.
Maturidade prematura
Anteriormente, já havíamos estabelecido a clara comparação da dupla protagonista em The Last of Us, da HBO Max, com o par que estrelou o longa-metragem Logan (2017) de James Mangold, onde testemunhamos duas personagens sofridas em busca de alguma redenção em suas vidas.
Se a comparação, até o momento, era exclusivamente lógica, agora, tornou-se emocionalmente validada, muito pela energia de Bella Ramsey, que possivelmente entregou sua melhor performance na carreira em ‘Quando Mais Precisamos’. Não seria qualquer surpresa, caso ela for indicada para algumas premiações na próxima temporada de eventos do audiovisual hollywoodiano.
Se o episódio recente não fosse tão apressado, muito provavelmente, teríamos assistido o mais memorável momento em The Last of Us, pontuando que apesar desta deficiência narrativa, ainda foi possível absorver algumas das temáticas transmitidas pelo roteiro de Craig Mazin, que acerta nos conceitos, mas persiste em abster-se da função de um contador de histórias que almeja alcançar o assinante da HBO Max, em toda a sua capacidade emocional e intelectual.