Análise

A fascinação pelos gêmeos no entretenimento

Discutindo sobre o uso de personagens gêmeos nas séries e filmes

Publicado em 21/08/2022

Echoes precisou de poucas horas para adentrar o top 10 da Netflix em séries mais assistidas do Brasil.

Podemos buscar algumas razões para isso ter acontecido tão naturalmente. Muitos podem usar o argumento simplista de que Echoes é uma produção hollywoodiana, portanto, isto seria algum sinônimo de qualidade de produção e técnica; enquanto outros podem apontar para o gênero do suspense e mistério, como o imã de atração entre os assinantes que apreciam a tensão existente pela narrativa que perdura até o fim, geralmente.

Estes e outros argumentos mostram-se organicamente aceitáveis para tentar explicar do porquê Echoes já estar figurando no pódio da plataforma de streaming Netflix.

Contudo, temos uma outra alegação menos citada, referente à utilização de personagens gêmeos idênticos – assim como os duplos ou doppelgängers – dentro do audiovisual.

Para aqueles que cresceram no Brasil – naturalmente habituados às telenovelas – já existe um costume regular de vez ou outra ligar a televisão e, analisar alguns gêmeos sendo retratados por alguns atores e atrizes brasileiros de grande calibre, como por exemplo: Eva Wilma, Nívea Maria, Tony Ramos, Francisco Cuoco, Christiane Torloni, Antônio Fagundes, Glória Pires, Murilo Benício, Mateus Solano, e etc…

Enquanto o cinema não fica nem um pouco para trás no mesmo quesito, já tendo apresentado pares idênticos ou similares mais que memoráveis, como Kim Novak no clássico de Hitchcock Um Corpo que Cai (1958), ou Jeremy Irons em Gêmeos: Mórbida Semelhança (1988) de David Cronenberg, ou Nicolas Cage em Adaptação (2002) de Spike Jonze, e assim por diante.

Agora: qual é o motivo de termos tantos gêmeos idênticos (duplicados) sendo retratados dentro do audiovisual? E qual é a razão do fascínio entre o público com a reprodução de personagens iguais nas novelas, séries e filmes?

Bom, a resposta do primeiro é bem fácil de ser respondida, uma vez que esta se apoia na segunda pergunta que corresponde ao encanto e sedução entre o público geral em – vez após vez – testemunhar figuras espelhadas em cena.

Enquanto a resposta da segunda pergunta fica em uma área mais aberta, onde podemos verbalizar propostas e teorias na tentativa de entendimento de algo que não é absoluto, definido. Ainda assim, vale muito discorrer sobre o assunto, pois este propõe variáveis curiosas e intrigantes.

Na vida real, fica inevitável não notar um par de gêmeos quando estes encontram-se no mesmo local. Primeiro, existe aquele deslumbramento de observar duplos e analisar o nível absurdo de semelhança existente entre eles. Muitas vezes ficamos chocados quando olhamos ainda mais de perto, para logo depois partirmos para a segunda parte de nossa observação: encontrar as diferenças físicas

Geralmente, buscamos cicatrizes, pintas e verrugas para estabelecer alguma diferenciação entre “iguais”. Algo deveras curioso, dado que estas marcas da epiderme podem ser consideradas como imperfeições em uma composição (superficialmente) simétrica aos olhos dos mais rudimentares.

Claro que tais traços de distinção não se provam notáveis de modo suficiente na maioria dos casos. Usualmente, vamos para características da personalidade para destacar quem é quem entre pares idênticos.

Aí entra um dos principais motivos de tanto apelo e apreço pela representação de gêmeos dentro do audiovisual, no caso, ir além da fisicalidade e adentrar no desenvolvimento das personalidades apresentadas em cena.

Naturalmente começamos a questionar como seres tão similares podem ser tão diferentes!

Já vimos no audiovisual, aquela velha proposta do gêmeo do bem e gêmeo do mal, repetidas vezes. Claro que aqui, temos algo extremamente simplificado, mas que serve como argumento para entender parte da atração do público com tais figuras.

(Ainda) podemos mergulhar fundo e filosofar a respeito da questão do que significa identidade, além da subjetividade pertencente ao sujeito. Também somos capazes de explorar o campo onírico (natureza dos sonhos) disso tudo!

Mas, retornando à Echoes da Netflix, vale destacar que o grande apelo popular da série apoia-se na ideia de encontrar a individualidade de cada uma destas irmãs interpretadas pela atriz Michelle Monaghan, mais do que realmente resgatar a irmã desaparecida – seja ela qual for – ou desvendar as razões patológicas que levaram a tal desfecho.

Apesar do roteiro (bem) problemático, temos em Echoes alguns bons motivos para continuarmos interessados na vida dos seres duplicados.

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