Vai ao ar na noite de hoje (terça-feira, 3), em Império, um dos momentos mais recordados – e inusitados – da trama de Aguinaldo Silva. Prestes a ter sua sonhada noite de amor com José Alfredo (Alexandre Nero), a vilã Cora (Drica Moraes) simplesmente ‘rejuvenesce’, voltando a ser interpretada por Marjorie Estiano – que a vivera na primeira fase da história – até o último capítulo.
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Muito comentada pelo público – e pelos próprios personagens – na exibição original da novela, a mudança jamais ganhará uma explicação convincente dentro do enredo. Nos bastidores, porém, sua necessidade ficou muito clara: ainda com a saúde fragilizada pelo tratamento contra a leucemia que enfrentou em 2010, Drica Moraes teve de se afastar das gravações por conta de uma faringite, que logo se agravou e a tirou definitivamente da novela.
“Pensei: ‘O que Janete Clair faria numa situação dessas?’. E concluí que ela chamaria Cora jovem, ou seja, Marjorie Estiano, e não daria maiores explicações – estas se tornariam supérfluas com o decorrer da novela“, declarou Aguinaldo Silva à imprensa da época.
Embora bem menos comum nos folhetins brasileiros que nas novelas mexicanas ou nas séries norte-americanas, por exemplo, a tática algo estranha de substituir um ator por outro no mesmo personagem – sem que haja uma passagem de tempo, por exemplo, para justificá-lo dentro do enredo – já foi vista em diversas ocasiões na TV brasileira. Relembremos alguns casos marcantes.
Milena Toscano por Thaís Melchior, em As Aventuras de Poliana (2018)
A interminável novela infantil do SBT protagonizou o exemplo mais recente – e também mais ruidoso – desse tipo de substituição. Escalada para viver Luísa, a amarga tia de Poliana (Sophia Valverde) na história de Íris Abravanel, Milena Toscano descobriu que estava grávida ainda antes de o folhetim estrear.
Por questões orçamentárias, tirá-la do elenco e escalar uma nova intérprete para regravar suas cenas foi descartado quase de imediato. Pensou-se então em tirar a personagem de cena por um tempo, através de uma viagem ou algo do tipo como pretexto dentro do enredo, para que Milena pudesse dar à luz e retornar. No fim, porém, optou-se pela solução mais prática: manter a intérprete original de Luísa no ar enquanto possível e, depois, simplesmente substituí-la por outra atriz.
Milena permaneceu em Poliana até o capítulo de número 94, quando Thaís Melchior assumiu de repente sua personagem na trama, sem nenhuma explicação para isso no enredo. Embora aos poucos o público da novela tenha se acostumado à ‘nova’ Luísa, no início a troca foi bem traumática – Thaís chegou a receber ameaças de morte nas redes sociais da parte de fãs inconformados.
Duda Wendling por Sophia Valverde, em Cúmplices de um Resgate (2016)
Conflitos com a família da intérprete original de Dóris fez com que o SBT optasse por não renovar o contrato com a atriz mirim quando a trama infanto-juvenil foi esticada. Ao invés de tirar a personagem da história, como costuma ocorrer nesses casos, a autora Íris Abravanel optou por mantê-la e escalar Sophia Valverde – que havia se destacado como Maria em Chiquititas (2013-2015), trama anterior da faixa – para dar seguimento à personagem.
Como se tratava de um papel de pouco destaque na trama, desta vez a repercussão foi bem menor. Duda Wendling voltaria a atuar somente alguns anos depois, ao ser escalada para o folhetim global Verão 90 (2019).
Karin Hils por Mary Sheila, em Pé na Cova (2014)
Desta vez, a troca ocorreu não em uma novela, mas em uma série. Inspirado, talvez, pela próprio caso de Império, o roteirista Miguel Falabella recorreu a uma solução bastante inventiva para manter a personagem Soninja após a saída da atriz Karin Hils – que deixou o elenco justamente para protagonizar outro projeto do mesmo autor, Sexo e as Nêga (2014).
Presente desde o início de Pé na Cova, Soninja resolveu se submeter a uma lipoaspiração durante a quarta temporada do programa. A operação não só enxugou as medidas da moça, como de quebra a ‘transformou’ em Mary Sheila! O mais curioso, porém, é que Karin voltaria a interpretar Soninja na temporada seguinte da atração.
Wendy González por Florencia de Saracho, em Quando me Apaixono (2010)
Bem mais comum nos folhetins mexicanos que nos brasileiros, o artifício da troca-de-intérprete-sem-necessidade-de-explicação foi visto mais recentemente por aqui em Quando me Apaixono, obra de 2010 que veio a ser transmitida pelo SBT dez anos após sua exibição original na terra da tequila.
Intérprete da romântica Adriana, Wendy González sofreu um grave acidente de carro no meio das gravações da novela, sendo impedida de voltar aos sets. A produção escalou Florencia de Saracho para continuar interpretando a personagem, dispensando qualquer necessidade de alteração no roteiro. A substituta, inclusive, chegou a ocupar o mesmíssimo espaço que era de Wendy nos créditos de abertura!
Belinda por Daniela Luján, em Cúmplices de um Resgate (2002)
Se no remake brasileiro de Cúmplices de um Resgate a troca de Duda Wendling por Sophia Valverde passou quase despercebida, na versão original da trama a história foi bem outra. Pudera: a substituição envolveu as duas personagens principais da trama!
Na produção da Televisa, as gêmeas Manuela (Larissa Manoela) e Isabela (Larissa Manoela) eram Mariana e Silvana, interpretadas inicialmente por Belinda. Faltando menos de 40 capítulos para o fim da história, porém, a então estrela teen se desentendeu com a produção e se recusou a continuar na trama.
O jeito foi escalar Daniela Luján, outra ‘diva mirim’ do momento, para assumir as duas personagens ao longo dos episódios que restavam. Embora a audiência da novela tenha se mantido intacta, Belinda fez o maior auê junto à mídia local, demonstrando todo seu ressentimento com a produção de Cúmplices e chegando a falar em exploração infantil.
Sérgio Cardoso por Leonardo Villar, em O Primeiro Amor (1972)
Neste folhetim global assinado por Walther Negrão, a situação se deu em um contexto bem mais dramático. Intérprete do professor Luciano, o ator Sérgio Cardoso faleceu vítima de um aneurisma, a cerca de um mês do fim da trama. Como seu personagem era o principal, não seria possível concluir a história sem ele.
A direção então convocou Leonardo Villar, amigo pessoal de Sérgio, para interpretar Luciano na fase final da obra. A troca entre os atores se deu de uma forma muito bonita e simbólica, no capítulo de número 200: após Sérgio Cardoso sair por uma porta em determinada cena, a imagem era congelada, e um texto lido por Paulo José em homenagem ao ator explicava o motivo da substituição. Em seguida, a mesma porta voltava a se abrir, já trazendo Leonardo Villar como Luciano.
Tereza Rachel por Lídia Costa, em A Pequena Karen (1966)
O gênero telenovela diária havia nascido no Brasil há apenas três anos quando Dulce Santucci escreveu, para a hoje extinta TV Excelsior, o drama de suspense A Pequena Karen, baseado na obra original de Josephine Bernard.
Bastante pitoresca, a narrativa era ambientada num colégio interno em Londres e trazia Susana Vieira na pele de Karen, aluna local que morria em decorrência dos maus tratos que sofria da diretora da instituição, a perversa Vívian (Teresa Austragésilo). Para não sofrer as consequências de seus crimes, Vívian convencia a própria sobrinha, Francis (Tereza Rachel), a assumir o lugar de Karen – que seguia aparecendo em espírito, em busca de justiça e de vingança.
A repercussão, porém, das maldades de sua personagem junto ao público acabaram assustando Tereza Rachel, que pediu para deixar o elenco. Com isso, Lídia Costa passou a interpretar Francis a partir de certo momento da trama – como de praxe nesses casos, não houve explicação para a ‘mudança física’ da personagem.