Em 2 de junho de 1963, pelo Canal 5 de São Paulo, TV Paulista – ainda não existia a Rede Globo, que comprou a emissora das Organizações Victor Costa em 1965 –, estreava o mais longevo e tradicional programa dos nossos domingos televisivos: o Programa Silvio Santos. Senor Abravanel já comandava atrações na televisão desde 1958 e já havia estreado o Vamos Brincar de Forca?, mas na forma como conhecemos até hoje, com quadros que se sucedem por horas sob o comando do apresentador por todo o tempo ou ao menos boa parte dele, considera-se 1963 como marco inicial.
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Apenas em julho de 1969, o Programa Silvio Santos deixou de ser transmitido apenas em São Paulo e ganhou outras praças, começando pelo Rio de Janeiro, através da Rede Globo. Na ocasião, a emissora aproveitou a necessidade de mudanças provocada por um incêndio nas instalações paulistanas para rever uma série de investimentos e estratégias. Já nos tempos da Globo, Silvio chegava a ficar quase oito horas no ar todo domingo, começando pela hora do almoço. Além disso, nas décadas de 1960 e 1970, tanto por não haver redes nacionais, nos primeiros tempos, quanto por ter outras atrações e brincadeiras a apresentar, Silvio também comandava atrações na faixa noturna durante a semana, na Rede Tupi, e apresentava programas de rádio.
Em 25 de julho de 1976, Silvio apresentou pela última vez seu programa na Globo, mas já na semana seguinte, em 1º de agosto, ele estava no ar através da Tupi e da sua recém-inaugurada TVS, Canal 11 carioca. Depois, onde chegava o sinal da Rede de Emissoras Independentes (REI), também por esta, cuja líder era a TV Record de São Paulo, da qual o empresário tornou-se sócio, detendo 50% de suas ações até 1989, quando vendeu sua parte para Edir Macedo. Além, é claro, do SBT, que entrou no ar em 1981 com parte das emissoras da Tupi, então cassada pelo governo.
Para combater Silvio e seu programa que agrada a públicos de todas as classes e faixas etárias, a Globo investiu em diversos gêneros: atrações de auditório com prêmios, filmes e séries, desenhos animados, jornalísticos, transmissões esportivas, mas só mesmo a partir de 1989, com a estreia do Domingão do Faustão, foi que conseguiu melhorar seus resultados na disputa pela audiência, que costumava se virar a seu favor basicamente no início da noite apenas, com Os Trapalhões, que entravam às 19h, seguidos do Fantástico. E mesmo esses por vezes também sofriam com a concorrência dos quadros do Programa Silvio Santos.
Nesses 55 anos, Silvio já apresentou mais de 100 quadros diferentes em seu programa, e muitos são os marcantes na memória do público. Alguns deles foram: Arrisca Tudo, um dos muitos jogos de perguntas e respostas e desafio ao conhecimento dos participantes, irmão do Show do Milhão, do Vinte e Um; do Todos Contra Um etc.;
Porta da Esperança, que realizava sonhos dos candidatos que mandavam cartas para a produção;
Domingo no Parque, que abria o programa nos anos 1980 e apresentava gincanas com crianças;
Em Nome do Amor, “o Tinder dos anos 1990” de acordo com memes recentes da internet, que promovia tanto o início de eventuais relacionamentos como reencontros e reconciliações de parentes separados pela vida;
Tentação, com as portas que escondiam respostas que os clientes do Baú da Felicidade deviam acertar, mas que era também o programa “onde quem erra, ganha, e quem acerta ganha muito mais”;
Qual É a Música?, gincana musical com artistas;
https://www.youtube.com/watch?v=eiIyywgxnz0
Boa Noite, Cinderela, que apresentava as histórias de três meninas de famílias de baixa renda, coroando ao final uma delas como a princesa da vez depois que revelavam seus sonhos;
O animado Show de Calouros, com famosos e anônimos e o júri que ia dos implacáveis Pedro de Lara e Aracy de Almeida à boa-gente Elke Maravilha, além de entrevistas com figuras públicas e os fatos curiosos do “Isto É Incrível”;
https://www.youtube.com/watch?v=zfw6VxejvAg
E o Topa Tudo por Dinheiro, que atravessou os anos 1990 com sucesso, mesmo indo ao ar tarde da noite por algum tempo, herdando todo um público que não queria ver enlatados na Globo e trocava de canal para ver Silvio e o auditório se divertindo com as “câmeras escondidas” e brincadeiras no palco.
Com um carisma poucas vezes visto na televisão, e muito necessário a programas que dependem da participação de uma plateia animada, empolgada, envolta num fascínio criado pela figura do apresentador e pela imersão num universo de realização de pequenos ou grandes sonhos, Silvio Santos pode ser criticado e considerado ultrapassado por uma geração que já nasceu e cresceu sob a égide de outra relação da mídia com seu público e vice-versa – embora seu programa por vezes chegue ao primeiro lugar na audiência, ainda calcado basicamente na figura de Senor Abravanel. Mas sua importância na história da televisão brasileira, como animador/apresentador e como empresário é indiscutível.