Entrevista

João Marcello Bôscoli reflete sobre como a fama de Elis Regina influenciava em suas relações na infância: “Quando ela morreu, essas pessoas mudaram”

Autor do livro Elis e Eu, ele ainda conta que chegou a refletir se a perda de sua mãe poderia ter sido evitada

Publicado em 10/03/2025

Nesta segunda-feira (10), João Marcello Bôscoli, produtor musical, empresário e filho mais velho da cantora Elis Regina, é o convidado de Ronnie Von no Companhia Certa, que será exibido a partir das 23h, na RedeTV!.

Na entrevista, ele relembra os desafios que enfrentou ao lidar com a morte de sua mãe aos 11 anos e como a situação revelou mudanças no comportamento de pessoas próximas: “Muitas pessoas que julgava que sentiam algo mais profundo, mais sincero, que era uma outra coisa, quando ela morreu, essas pessoas mudaram”. 

Ao analisar a adulação que recebeu na infância devido à fama de Elis, ele revela como isso influenciou suas relações pessoais: “Meu negócio é a música e gosto das pessoas, mas essa bajulação e essa coisa em torno nunca gostei muito, desde pequeno, e, como vi, isso me traumatizou, fiquei com alergia”, recorda hoje, aos 54 anos.

Ainda na conversa, João Marcello enaltece o amor pela mãe, que completaria 80 anos neste mês, e abre detalhes de sua relação com o luto: “Tinha muita admiração, era muito fã, achava ela demais, então foi muito difícil. Ela era a pessoa mais importante da minha vida e fiquei muito preocupado com meus irmãos também. […] É literalmente o que muitas pessoas já sentiram em algum momento: você perder o chão, não saber direito como organizar as ideias”, explica ele, que é irmão dos músicos Maria Rita e Pedro Mariano. 

“Fui morar com o irmão da Elis, o Rogério, e, nesse período, fiquei alguns anos longe dos dois [irmãos], os via pontualmente. Foram anos estranhos, não eram tristes, porque nunca quis ficar triste, porque sempre imaginava, na minha cabeça de criança, que ela ficaria triste ao me ver triste. Uma vez ou outra chorava à noite, antes de dormir, mas me sentia na obrigação de seguir em frente e de ficar feliz para não deixar ela triste onde estivesse”, completa.

Autor do livro Elis e Eu, ele ainda conta que chegou a refletir se a perda de sua mãe poderia ter sido evitada: “Cresci numa casa acho que matriarcal, porque ela sempre foi a pessoa mais importante ali. Sempre imaginei o que poderia ter acontecido. Não é uma coisa que me martelou muito na vida, mas, quando fui escrever o livro, pensei se eu tivesse batido na porta, se tivesse interrompido, se alguma coisa poderia talvez ter evitado a partida dela”, declara.