Algumas histórias são tão boas que a gente não se cansa de ver, não é? Éramos Seis é um exemplo disso. A trama, que a Globo estreou em nova versão nesta segunda-feira (30), já foi narrada na telinha em outras quatro ocasiões prévias. Muito antes, porém, de poder ser conferida na telinha, ela pôde – e pode até hoje – ser lida nas páginas do livro homônimo de Maria José Dupré, a verdadeira criadora de Lola (Glória Pires), Júlio (Antonio Calloni) e cia.
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Assim como a substituta de Órfãos da Terra, várias outras novelas de televisão já foram concebidas a partir de originais literários. Alguns casos, inclusive, foram tão famosos que ajudaram a popularizar tais obras impressas, mesmo muito depois de sua publicação. Vamos relembrar?
As Aventuras de Poliana (2019)
Alardeada como a primeira novela infantil original a ser produzida pelo SBT, após uma sucessão de remakes de textos mexicanos e argentinos, a saga estrelada por Sophia Valverde não é tão ‘inédita’ assim. O roteiro de Íris Abravanel baseia-se livremente em Pollyanna, obra da norte-americana Eleanor H. Porter.
Lançado em 1913, o livro é considerado um dos maiores clássicos da literatura para crianças a nível mundial. O mesmo romance já rendeu, além de uma continuação – Pollyanna Moça, de 1915 -, dois filmes nos EUA, uma animação japonesa e até uma primeira adaptação brasileira para telenovela: Polyanna, no longínquo ano de 1957, quando os folhetins ainda não eram diários e iam ao ar apenas algumas vezes por semana.
Orgulho e Paixão (2018)
A trama principal desta história de Marcos Bernstein, focada no romance entre Elisabeta (Nathália Dill) e Darcy (Thiago Lacerda), baseou-se diretamente em Orgulho e Preconceito (1813), um dos maiores clássicos da inglesa Jane Austen.
Para os enredos paralelos, no entanto, o novelista da Globo foi buscar inspiração em outras obras da mesma autora, fazendo de Orgulho e Paixão uma verdadeira homenagem ao universo de Austen.
Mariana (Chandelly Braz) e Brandão (Malvino Salvador), por exemplo, vieram de Razão e Sensibilidade (1811); Cecília (Anaju Dorigon) nasceu da saga de A Abadia de Northanger (1818); a governanta Fani (Tammy di Calafiori) surgiu a partir de Mansfield Park (1814); enquanto a pérfida Susana (Alessandra Negrini) saiu direto das páginas de Lady Susan (1871) para a tela da ‘vênus platinada’.
Porto dos Milagres (2001)
Entusiasta confesso da obra de Jorge Amado, Aguinaldo Silva uniu elementos de duas grandes histórias do autor – Mar Morto (1936) e A Descoberta da América pelos Turcos (1994) – para dar forma a esta trama que hoje repete, no canal Viva, parte do êxito que teve em sua exibição original, no horário nobre da Globo.
Mocinhos da saga televisiva, Guma (Marcos Palmeira) e Lívia (Flávia Alessandra) viram seu romance nascer nas páginas de Mar Morto. Já outros elementos, como a ambiciosa – e sanguinária – vilã Adma (Cássia Kiss), podem ter sua gênese identificada nas páginas de A Descoberta da América.
Carrossel (1989 / 2012)
Nas duas últimas gerações, dificilmente haverá algum brasileiro que não tenha acompanhado as aventuras da professora Helena (Gabriela Rivero / Rosanne Mulholland) e seus alunos – quer na ‘original’ mexicana dos anos 1980, quer no remake brasileiro recentemente produzido pelo SBT.
O que muitos não sabem é que a versão da Televisa também se trata de uma regravação – a obra verdadeiramente original que inspirou o Carrossel que todos conhecemos remonta à Argentina da década de 1950, e leva o título de Jacinta Pichimahuida, La Maestre Que No Se Olvida (Jacinta Pichimahuida, Uma Professora Inesquecível).
O portenho Abel Santa Cruz desenvolveu esta primeira versão televisiva da história com base em seu próprio livro, Cuentos de Jacinta Pichimahuida (Contos de Jacinta Pichimahuida), uma coletânea de crônicas do cotidiano escolar, inspirados nas vivências infantis do autor.
Um dos capítulos mais marcantes da obra literária se intitula Blanco y Negro (Preto e Branco), centrado no racismo da riquinha Etelvina – transformada na TV em Maria Joaquina (Ludwika Paleta / Larissa Manoela) – contra o coleguinha negro, Cirilo (Pedro Javier Viveros / Jean Paulo Campos).
A Escrava Isaura (1976 / 2004)
O clássico literário de Bernardo Guimarães (1825-1884) se popularizou na segunda metade do século passado graças à adaptação que ganhou de Gilberto Braga para telenovela. Além de imortalizar Lucélia Santos e Rubens de Falco na pele da sofrida Isaura e do perverso Leôncio, Escrava Isaura (1976) manteve-se por longo tempo no topo da lista das novelas mais exportadas do Globo, chegando a lugares até então inimagináveis.
Quase 30 anos depois, a Record TV conseguiu ressuscitar parte desse sucesso através de uma segunda adaptação do livro, (quase) homônima à primeira. A Escrava Isaura (2004) fez tanto sucesso que ganhou inúmeras reprises na tela da Barra Funda – uma nova está a caminho – e ainda uma prequela, Escrava Mãe (2017).
Essas Mulheres (2005)
Logo na sequência de A Escrava Isaura (2004), a Record TV investiu numa nova adaptação literária – desta vez, porém, em dose tripla. Marcílio Moraes e Rosane Lima promoveram um crossover – para utilizar um termo bem moderno – entre três das principais histórias de José de Alencar (1829-1877), Senhora (1874), Lucíola (1962) e Diva (1864).
O resultado foi uma das mais aclamadas obras da história da teledramaturgia da emissora paulista, que, se não se saiu tão bem no Ibope de sua exibição original, obteve um tardio, mas todavia merecido reconhecimento popular ao ser reprisada em 2018.
Paixões Proibidas (2006)
Talvez empolgada pelo êxito de Isaura (Bianca Rinaldi) na Record TV, poucos anos antes, a Band resolveu abandonar a exitosa linha infanto-juvenil iniciada com Floribella (2005-2006) a fim de investir em um estilo bem mais sóbrio de dramaturgia. Co-produzida com a RTP, de Portugal, Paixões Proibidas entrelaçava três enredos do escritor lusitano Camilo Castelo Branco – 1825-1890) – Amor de Perdição (1862), Mistérios de Lisboa (1854) e Livro Negro do Padre Dinis (1855) – numa trama de época elegante e soturna, com boas doses de erotismo.
Mesmo tenho suas (muitas) qualidades reconhecidas pela imprensa especializada, Paixões Proibidas naufragou na audiência, fazendo com que a Band, já no ano seguinte, voltasse a investir em tramas mais modernas, jovens e musicais, com Dance, Dance, Dance (2007).
Tieta (1989)
Quando adquiriu os direitos do livro homônimo, diretamente das mãos de seu autor, Jorge Amado, a ideia da atriz Betty Faria era transformá-lo em uma minissérie, que seria adaptada por Doc Comparato. Mas o então superintendente da Globo, o lendário Boni, vislumbrou a saga de Tieta convertida em uma novela do horário nobre.
Assim surgia uma das mais famosas, bem sucedidas e aclamadas transposições da literatura para a telinha tupiniquim. Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares conversaram o mote da obra original e exploraram, nas tramas paralelas, o universo típico do escritor baiano.