Na última semana, o clima leve e divertido da trama de As Aventuras de Poliana, do SBT, viu-se abalado por um trágico acontecimento: a morte do motorista Ciro, que integrava o núcleo cômico da história. Ele foi vítima fatal do desabamento do teto de sua própria casa, deixando viúva a esposa Gleyce (Maria Gal) e órfãos os filhos Jefferson (Vítor Britto) e Kessya (Duda Pimenta).
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O rebuliço maior, porém, aconteceu em paralelo nos bastidores do folhetim. Intérprete do personagem, o ator Nando Cunha deu polêmicas declarações à imprensa, queixando-se de supostos maus tratos de membros da produção e criticando a própria novela.
“Falta um arco dramático maior, aprofundar os personagens, as tramas… Fazer um gancho de um capítulo para outro. As pessoas que me paravam na rua comentavam: ‘Ah, a novela está chata, a novela enjoou’… Não tem um gancho, uma trama para acompanhar, sabe?”, analisou o artista de 52 anos.
“Eu vejo um texto extremamente de direita. Eles querem passar a história de uma família conservadora tradicional brasileira e coisas dessa nova onda, e não mostram a diversidade”, acrescentou ainda.
A postura de Nando dividiu opiniões entre os fãs da novela. Alguns entenderam as críticas do intérprete como reclamações justas de um trabalhador em busca de ter seus direitos plenamente exercidos. Já outros torceram o nariz para as palavras dele, chegando a acusá-lo de ter “cuspido no prato que comeu”.
Seja qual for a opinião de cada um a respeito, o fato é que não chega a ser raro vermos atores, com ou sem justificativas plausíveis, finalizarem um determinado trabalho na telinha com quatro pedras na mão. Muitas vezes, as queixas acontecem mesmo em pleno curso do projeto! Relembremos alguns casos.
Antônio Fagundes
Uma das novelas favoritas do público da Globo, Por Amor não logrou a mesma estima junto a um de seus próprios protagonistas. De acordo com o portal Terra, Antônio Fagundes chegou a expressar mais de uma vez sua insatisfação com o personagem Atílio após o fim da trama, atualmente em reprise pelo Vale a Pena Ver de Novo.
“Tive três boas cenas na novela. O restante do tempo, só fiz tomar café e uísque”, reclamou o veterano à época.
Glória Pires
A mãe de Cleo Pires não tem papas na língua quando o assunto é se queixar de um trabalho que não lhe agradou. O mais marcante caso se deu quando ela encerrou O Rei do Gado (1995) mega insatisfeita com os rumos de sua personagem, a impostora Rafaela.
“Eu aceitei confiando plenamente em Benedito [Ruy Barbosa], porque tínhamos trabalhado em Cabocla (1979). Houve algum problema, porque ele não desenvolveu a personagem como havia falado. É horrível quando você espera algo que não vem. Arregacei as mangas e levei a missão até o fim, dignamente. Foi o que me restou fazer”, confessou, em sua biografia 40 Anos de Glória. A rusga, inclusive, teria estremecido de vez sua relação com o autor do folhetim, já que, depois disso, jamais voltaram a trabalhar juntos.
Anos mais tarde, Glória voltaria a reclamar de um trabalho recém-concluído. Ela analisou que a jornalista Júlia, sua personagem em Desejos de Mulher (2002), foi completamente descaracterizada ao longo da história. “Era uma mulher que lutava contra as adversidades e, de repente, passou a viver em função de uma paixão. A história se esvaziou”, observou, descontente.
Cláudio Lins
Em 2005, o SBT conseguiu um dos maiores sucessos da história de sua dramaturgia com a produção de Esmeralda, regravação da trama mexicana de mesmo nome, produzida pela Televisa em 1997. O momento era de satisfação – quase – total nos bastidores. Mas, como sempre, toda regra tem uma exceção, e aqui esta exceção atendeu pelo nome de Cláudio Lins.
Intérprete do protagonista José Armando, o ator deu várias declarações à imprensa, criticando o texto do folhetim. “Quando surgem convites para novela, não costumo recusá-los. Mas, artisticamente falando, o José Armando não me encheu os olhos. O texto dificulta e muito o nosso trabalho”, disparou o ator, numa entrevista dada ao portal Terra, em dezembro de 2004.
Seja como for, parece que a franqueza excessiva não fechou portas para Lins no SBT. Posteriormente, ele chegou a protagonizar outras duas novelas na casa, Uma Rosa com Amor (2010) e Amor e Revolução (2011). Nenhuma delas, vale destacar, com o mesmo êxito de Esmeralda.
Bianca Rinaldi
A loira também chegou a se queixar do trabalho no SBT. Desta vez, porém, em cima de outro ponto: o exagerado ritmo de gravações das novelas do canal, com atores chegando a rodar até 40 cenas por dia.
À época protagonista de A Escrava Isaura, na Record TV, Bianca recordou em entrevista o período em que estrelara Pícara Sonhadora (2001) e Pequena Travessa (2002) na emissora concorrente. “O ritmo de gravações lá [SBT] é quase desumano. Felizmente, a Record trata seus contratados com mais carinho e consideração”, analisou, em declaração datada de 2005.
Juliano Cazarré
O ator costumava expressar constantemente perante a imprensa sua insatisfação com os rumos confusos de Ninho, papel que interpretou em Amor à Vida (2013).
“Continuo sem saber o que Ninho é. Ele é vilão? Não. Ele é mocinho? Não. Recebia as mudanças no desespero. Ah, meu Deus: agora ele é rico? Não era pobre e hippie? Tá bom, vamos lá”, queixou-se ele ao jornal Extra, perto da reta final do folhetim. “O que o Walcyr [Carrasco, autor da trama] escrever, vou fazer da melhor maneira possível. Eu não estou torcendo por nada, porque não adianta torcer. É gastar energia à toa. Vou fazer o que chegar.”
O escritor da trama, aliás, não deixou barato e fez questão de rebater as declarações de Cazarré, também via imprensa. “Bem, se ele matou uma mulher a tesouradas, ajuda a amante a roubar o dinheiro do marido e a beija na frente dele, que é cego, e ainda não sabe se é vilão, não tenho nada a comentar”, ironizou, em depoimento ao portal UOL.
A rusga, porém, entre autor e novelista aparentemente terminou junto com a novela. Tanto é verdade que eles voltaram a trabalhar juntos em O Outro Lado do Paraíso (2017) – desta vez, sem troca de farpas nem nada do tipo.
Othon Bastos
Atualmente no ar na segunda temporada de Carcereiros, o veterano mostrou uma coragem e tanto ao reclamar dos rumos de seu personagem em plena coletiva de imprensa de lançamento dos novos episódios!
Extremamente ético no primeiro ano da série, o ex-agente penitenciário Tibério traiu o próprio perfil ao iniciar um negócio de contrabando com a namorada, Solange (Samantha Schmütz).
“Esse homem tem uma ética carcereira, leva uma vida inteira ensinando ao filho o que ele deve fazer… Até hoje eu não entendi. Até hoje o que eu escuto dos autores eu não entendi. Eu faço porque sou ator e tem que fazer”, disparou Bastos na ocasião.
Joana Fomm
Contratada com status de estrela para uma participação na primeira fase de Apocalipse, Joana Fomm confessou à imprensa que não reconhecia na tela da TV a obra que havia filmado.
“Sinceramente, não sei o que aconteceu com a novela. O texto era maravilhoso, mas foi mexido, muito mesmo, até que perdeu o rumo e eu não entendi. O meu núcleo, por exemplo, acabou sendo bastante cortado e ninguém explicou o motivo”, reclamou.
De fato, Joana não era a única insatisfeita, já que Apocalipse se transformou em um dos maiores fracassos da dramaturgia recente da Record TV…
Jussara Freire
Após vários anos no elenco fixo do canal de Edir Macedo, Jussara Freire usou as redes sociais para se queixar dos patrões, que, naquele ano de 2015, haviam acabado de terceirizar para a Casablanca a produção de suas novelas.
“Lá [na Record] a lei é: ‘Venha a nós o vosso reino! ’ Foi muito difícil trabalhar lá! O mais puro stress”, disparou. Meses depois, a veterana alegou ter perdido trabalhos em função da demora da emissora em exibir a trama inédita Escrava Mãe, cujo elenco ela havia integrado.
“Não há o interesse de outras emissoras chamarem um ator que está vinculado ineditamente a um outro produto. Eu, por exemplo, tive um convite do Luiz Antônio Rocha, produtor de elenco da Globo, me sondando para fazer Velho Chico (2016). Infelizmente, eu não pude ir”, revelou ao apresentador Ronnie Von, da TV Gazeta.
Ana Brenda Contreras
Os astros da Televisa também sabem ser ‘sincerões’ quando querem. A protagonista de novelas como Coração Indomável (2013) e A Que Não Podia Amar que o diga.
Em 2017, recém-contratada pela Netflix para atuar na série Dynasty, ela não poupou críticas à última novela que havia estrelado na rede mexicana, Lo Imperdonable (2015). “Ela não tinha o mais importante: uma boa história”, sentenciou a musa latina sobre a trama – que, por sinal, era uma nova versão de Corações Feridos (2012), do SBT.
De fato, Lo Imperdonable havia sido um grande fracasso do horário nobre local. Porém, Ana Brenda até que saiu ganhando com a história. Afinal, foi lá que conheceu o atual namorado, Iván Sánchez, que vivia seu par romântico.