Marcos Tolentino da Silva é um dos convocados pela CPI da Covid a prestar esclarecimentos e, após muita resistência, começa a depor nesta terça-feira (14).
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Suspeito por ter ligação com o contrato da vacina Covaxin, firmado entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde, e também com membros do governo federal, ele é advogado tributarista e empresário.
Sua principal ocupação desde 2007 é como proprietário e presidente da Rede Brasil de Televisão. De acordo com informações do LinkedIn do empresário, ele está no “ramo das telecomunicações com a Rede Brasil, que iniciou com uma geradora e uma retransmissora e hoje está entre a quarta ou quinta maior rede de TV do país, em emissoras próprias além de inúmeras rádios”.
Ator em programa de humor
Antes de se tornar dono de um império da telecomunicação, Marcos Tolentino marcou presença em programas humorísticos. Ele participou, por exemplo, do sitcom SPA TV Fantasia, transmitido originalmente pela TV Gazeta no ano de 2002. O seriado apresentava situações inusitadas que ocorriam dentro de um SPA.
Jonas Melo, Márcia Real, Helô Pinheiro, Beth Guzzo, David Cardoso Junior e Matheus Carrieri são alguns dos nomes presentes no elenco da série cômica, que era produzida por Evê Sobral, amigo de longa data de Tolentino.
“Ele foi meu empresário, me levou para televisão quando viu meu musical Francisco e Clara. Depois fiz o contrato com a Rede Mulher, depois na rede aberta, na TV Gazeta, foi ele também que me levou. É uma pessoa muito especial. Depois veio a concessão da Rede Brasil. Aí começamos a Rede Brasil, por isso nossa ligação é tão bacana” disse Evê, que atualmente é diretor de programação da Rede Brasil em entrevista ao NaTelinha. Na ocasião, Tolentino estava internado com Covid.
No Canal da Rede Brasil de Televisão há inúmeros episódios de SPA TV Fantasia, os quais incluem o nome do dono da empresa no elenco dos mais antigos. “Série de Humor com Sucesso Internacional! Externas também no exterior, uma Super Produção! Com Beth Guzzo (Beth Guzzo) , Evê Sobral, Rodrigo Pavanello, Rafael Cortez , Jô Costta, Marcos Tolentino, Hilton Have, Marlene Silva, Rubens Rivellino, Emerson Granado, Marcia Real, Adriana Ferrari, Lu Pimentel, Marcelo Tamborelli, Dulce Mizzetti, Phellipe Levy, Rosangela Andrade, Fausto Noro, e mais um Grande Elenco!“. conta a descrição dos vídeos.
Canais supostamente ilegais
O fato de ter prosperado como dono de canais também chamou a atenção quando se iniciaram as investigações para a Comissão, conforme noticiamos aqui no Observatório da TV.
Um detalhe importante, segundo dados do Todatela, de Ítalo Bertão Filho, e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o executivo tem três emissoras de TV somente em São Paulo. Isso é um problema, uma vez que há a ilegalidade de manter canais em um só município.
Tolentino só teria tornado isso possível porque as concessões pertencem a empresas diferentes, com diferentes controladores e ainda estão localizadas em diferentes cidades nos arredores de São Paulo mas, com antenas sediadas na capital.
Quanto à geradora da Rede Brasil, que não está localizada em São Paulo, mas sim em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, é representada localmente pelo nome fantasia ‘Sistema Pantanal de Comunicação S/C Ltda’.
Segundo matéria do Todatela, uma dessas retransmissoras pode ser captada na capital paulista no canal 32 UHF – virtual 10.1 -, tendo sido comprada em março pela Igreja Universal. Apesar de ‘parecer dentro da lei’, a retransmissora acaba fazendo o papel de geradora, o que também é proibido pelo código de Radiodifusão.
MP assinada pelo presidente
A Rede Brasil foi beneficiada recentemente após a aprovação da medida provisória 1018. Assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, a MP permite que a emissora seja considerada canal obrigatório no line-up da TV paga. Muitos veem tal ação como vantagem ao empresário, levando mais esse ponto à discussão pelos parlamentares.
Depoimento na CPI da Covid
Marcos Tolentino decidiu comparecer para prestar depoimento na CPI da Covid nesta terça-feira (14) após diversas resistências. Na primeira ocasião, o empresário alegou ter passado mal antes da viagem à Brasília e apresentou atestado emitido pelo Sírio-Libanês.
Na segunda, apelou para o Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando a não-obrigação de depor, mas teve seu pedido negado pela ministra Cármen Lúcia. Houve ainda uma terceira tentativa, representada pelos advogados de Tolentino, mas também foi rejeitada pela mesma ministra nesta segunda (13).
Apesar de não ter conseguido ‘faltar’ à comissão, Marcos Tolentino pode exercer seu direito de permanecer em silêncio durante a CPI. Por ora, o nome do executivo não compõe a relação de investigados oficiais.