
O roteirista João Ximenes Braga abriu o coração a respeito da perda do autor Gilberto Braga – seu amigo, chefe e colaborador em vários trabalhos na Globo – e dos últimos anos da carreira na Globo do recém-falecido novelista.
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Em entrevista à jornalista Cristina Padiglione, Ximenes explicou que Gilberto tinha muita vontade em produzir um novo trabalho após Babilônia (2015), projeto que assinaram juntos, em parceria ainda com Ricardo Linhares, e que ficou marcado com o pior Ibope da história da Globo às 21h.
“O fracasso artístico e de audiência de Babilônia não pode ser atribuído a Gilberto, e sim à intervenção mal intencionada que destruiu completamente a espinha dorsal da novela. Tenho zero esperança de que alguém venha a público assumir que o fracasso (…) seja responsabilidade de intervenção, e não dele e de sua equipe“, alfinetou.
“[Braga] me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. Pode parecer irrelevante lembrar de um fracasso neste momento em que todos o homenageiam pelos sucessos. Mas superar esse fracasso era importante PARA ELE“, frisou João.
Segundo ele, Gilberto chegou a chamá-lo para outro dois projetos na Globo. Um deles era uma minissérie sobre Elis Regina. “Apesar de os seis capítulos entregues, nunca foi produzida, porque o filme Elis [do diretor Hugo Prata, lançado em 2016] chegou primeiro.“
Já o outro era destinado à hoje extinta faixa das 23h. “Ele queria revisitar Brilhante (1981), que havia sido tão censurada que ficou incompreensível, e refazer a história como deveria. Ganhou [até] outro título, Intolerância. Teve seus 60 capítulos escritos e entregues, mas foi sucessivamente adiada e, por fim, cancelada, pelas mesmas forças que destruíram Babilônia.“
Na sequência, Ximenes Braga comentou o cancelamento de outro trabalho do autor, Feira das Vaidades – adaptação do clássico britânico Vanity Fair (1885) destinada à faixa das 18h. “Feira das Vaidades foi cancelada este ano porque, segundo ele [Gilberto] me disse, diante da crise da pandemia a emissora não faria mais produções de época.“
O novelista – autor também da premiada Lado a Lado (2012), em parceria com Cláudia Lage – encerrou o depoimento a Padiglione fazendo um apelo à Globo para que disponibilize, mesmo que a título de doação, os capítulos roteirizados de Intolerância e, se possível, os 80 capítulos de Babilônia escritos antes da intervenção.
“A Babilônia que vocês viram não chega aos pés da Babilônia que concebemos. É o mínimo a fazer com a memória de Gilberto. Em seu último telefonema para mim, ele insistia que queria fazer uma nova novela para não encerrar sua carreira com o fracasso que lhe foi imposto“, concluiu.