Na década de 1970 e até o começo dos anos 1980, a Rede Globo dedicava seu núcleo das 18h a adaptações de textos literários. Romances, contos e textos teatrais foram transformados em novelas. Uma das que alcançaram mais sucesso nessa época, e na história do horário, foi A Sucessora, de Manoel Carlos. A história tinha como base o romance homônimo de Carolina Nabuco, lançado em 1934.
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A trama central de A Sucessora
A história se passa na década de 1920, na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, e no interior do estado. Na Fazenda Santa Rosa, vive a família de Dona Emília (Beatriz Veiga). Viúva, a matriarca cuida de seus negócios com a ajuda do Sr. Lopes (Jorge Cherques), o administrador. Tem uma única filha, Marina (Susana Vieira), jovem um pouco enfadada da vida no campo. Seu sobrinho Miguel (Paulo Figueiredo) é apaixonado pela prima. O rapaz é irmão de Adélia (Liza Vieira), moça deslumbrada com o ambiente progressista e urbano da capital.
O milionário viúvo Roberto Stein (Rubens de Falco) chega à fazenda, que está interessado em comprar e deseja conhecer. Figura conhecida das colunas sociais das revistas, Roberto encanta a todos com seu charme, simpatia e simplicidade, um requinte sem frescuras. Ou melhor, a todos, menos a Miguel, que não aprecia nem um pouco o clima que se estabelece entre o ricaço e Marina. Ele deseja, a saber, casar-se com a prima. No entanto, ela o enxerga apenas como um grande amigo, um irmão.
Roberto e Marina se casam dentro de pouco tempo e a jovem vai morar na mansão dos Stein, no Rio. Sua vida entra numa nova fase, em virtude de ter que lidar com os amigos de Roberto e o ambiente no qual passa a se inserir. Apesar de ter vivido sempre no interior, Marina não é nenhuma jeca. Todavia, os muitos francesismos que influenciam os hábitos da elite na época atrapalham seu dia a dia. Assim sendo, não lhe faz mal a ajuda da cunhada Germana (Arlete Salles) nessa nova realidade que se descortina com o casamento. Avançada para a época, Germana contraria a sociedade ao ter por marido um homem mais jovem, Vasco (Kadu Moliterno), a quem domina e sustenta.
Juliana, sinistra figura que marca a trama de A Sucessora
Nossa personagem-título, a tal “sucessora”, é Marina, claro. Isso porque como segunda esposa de Roberto ela tem como desafio afastar a marcante imagem da primeira, Alice Stein (Alessandra Vieira). Um belo retrato na parede de uma das muitas salas da mansão mantém Alice presente. Mais ainda, a governanta Juliana (Nathalia Timberg), que cultua a memória da patroa a faz de tudo para preservá-la. Juliana tem verdadeira fascinação por Alice, ao passo que também é apaixonada por Roberto. Seria dela a posição de “sucessora”, quando isso um dia acontecesse. Ao menos, em sua visão. No romance de Carolina Nabuco, a saber, a terrível governanta tem o nome de Júlia.
Juliana arquiteta diversas intrigas visando à separação de Roberto e Marina. Além dela, os irmãos Miguel e Adélia também veem vantagem no caso de os dois se separarem. Miguel, para poder enfim unir-se à prima, e Adélia, para ter novamente Roberto livre e investir para tornar-se a nova Sra. Stein.
Outros personagens de destaque em A Sucessora
Nas muitas festas e recepções que os Stein promovem em sua mansão, há diversos convidados frequentes. Um deles é o jovem Pedro Monte (Mário Cardoso), que mesmo pobre é tolerado entre os ricos em virtude de ser exímio dançarino. Ele se apaixona pela ambiciosa Adélia. No núcleo do interior merecem lembrança os espevitados empregados Isabel (Sônia de Paula) e Tião (Sidney Marques).
Outra amiga dos Stein é Vanice (Carmen Monegal), que se interessa por Miguel. A Madame Sanchez (Heloísa Helena) é também próxima da família e desperta o amor do Sr. Lopes. Ainda, a presença do ator Edmundo Macedo (Ankito), descendente do romancista Joaquim Manoel de Macedo, autor de A Moreninha (1844). Após conhecer o casal Stein durante uma viagem, ele passa a ser figura constante na mansão. Também amigo, ao menos supostamente, é o diplomata Munhoz (Ary Coslov), que detém segredos que envolvem Alice.
Nabuco ou Du Maurier: que autora criou a obra que inspirou A Sucessora?
Muitas pessoas pensam até hoje que a novela foi inspirada em Rebecca, romance de Daphne Du Maurier que deu origem ao famoso filme Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940). Laurence Olivier e Joan Fontaine interpretaram os personagens equivalentes a Roberto e Marina na produção de David O. Selznick dirigida por Alfred Hitchcock. O roteiro ficou a cargo de Robert E. Sherwood e Joan Harrison.
No entanto, foi Carolina Nabuco, filha do político e diplomata Joaquim Nabuco, quem criou a história. Seus originais foram recusados por diversos editores norte-americanos. Mas qual não foi a surpresa de Carolina quando constatou que Rebecca se tratava de seu romance A Sucessora. Apenas alguns elementos como nomes de personagens e ambientações havia sido alterado, praticamente. Todavia, Carolina Nabuco não procurou na Justiça seus direitos. Preferiu ficar com a óbvia razão que a cronologia dos fatos lhe dava. A primeira edição do livro se deu em 1934 pela José Olympio, ao passo que Rebecca surgiu apenas em 1938.
Os diretores da novela foram Gracindo Júnior, Herval Rossano e Sérgio Mattar. Seu tema de abertura bastante característico, “Odeon”, na voz de Nara Leão, foi composto em 1908 por Ernesto Nazareth e ganhou letra (de Vinicius de Moraes) somente em 1968.
A única reprise até hoje e o lançamento em DVD
A Sucessora foi a segunda novela exibida pela Rede Globo na sessão Vale a Pena Ver de Novo. Sua transmissão original se deu de 9 de outubro de 1978 a 3 de março de 1979, em 125 capítulos. A reprise estreou em 17 de novembro de 1980, indo até 8 de maio de 1981. Desde então, em que pese seu sucesso, a novela nunca mais voltou às telas, a não ser em rememorações do Vídeo Show. Em 2015 a Globo Marcas lançou no mercado um compacto de A Sucessora em DVD, a saber, composto de 25 horas divididas em 9 discos.
Ainda, anteriormente a mesma Globo havia produzido A Sombra de Rebecca (1967), novela de Glória Magadan baseada no romance de Du Maurier. Uma pedida mais do que boa para o Viva, ainda mais após o sucesso de outras novelas de Manoel Carlos, como Baila Comigo (1981) e Por Amor (1997/98). Esta última já ganhou duas reprises no canal.