Chamada de orelha por alguns críticos, Simone é fundamental para o desenvolvimento de A Força do Querer. Possivelmente se ela não existisse alguns rumos da trama escrita por Gloria Perez seriam diferentes. Juliana Paiva, intérprete da personagem falou sobre a importância da mesma, sua relação com o público da trama, e as expectativas em relação ao final do folhetim. Confira:
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As pessoas ainda te chamam de Cassandra?
Ah, as pessoas lembram dos personagens. Teve muito isso com a Fatinha de Malhação, e com a Cassandra também, mas agora o pessoal está comentando muito sobre a novela atual. Todo mundo quer uma prima como a Simone, de A Força do Querer.
E como está sendo para você fazer essa personagem?
É uma novela que está tratando de temas delicados, e é uma personagem que consegue se colocar no lugar do outro por mais distante de si que seja aquela questão. A questão da prima por exemplo, ela não sabia nem o que era um transgênero, e foi buscar se orientar para ajudar a prima. No mundo de hoje, com todo mundo olhando somente para si, ter uma pessoa como essa por perto é fascinante.
Você é assim em sua vida pessoal?
Eu tento ser. Me preocupo com as pessoas que amo, que estão em meu entorno e procuro fazer a vida delas melhor sempre. A gente quer ver quem a gente ama bem, então nesse ponto eu sou bem Simone.
A Simone está sempre se preocupando com a vida dos outros no bom sentido. Como está sendo para você falar do vício em jogo envolvendo a Silvana?
Família mexe muito com a gente. Se tem uma questão dentro de casa que não está legal, a gente acaba saindo bastante mexido. O vício da Silvana (Lilia Cabral) é uma coisa muito séria por mais que sejam engraçadas as características infantis da personagem em esconder do marido. É uma coisa séria, e a filha descobre que a mãe mente, é viciada e não se enxerga como tal. Então ela faz o possível para não abandonar a mãe porque a mãe precisa dela.
Vocês estão gravando algo nesse momento em relação a isso? O que pode nos adiantar?
A gente está gravando coisas que não posso falar muito. A Silvana não reconhece o erro, ela sempre acredita que consegue parar de jogar quando quiser, e não chegou esse momento de ela chegar no fundo do poço e estar sem saída ainda. Eu acho que de repente acontecendo alguma coisa com a família, ela pode conseguir abrir o olho.
O que está preparado para a Simone?
Acho que a Gloria Perez está reservando algo para ela. As pessoas torcem muito por isso, para a Simone encontrar alguém e sair desses conflitos que não são dela. Quem sabe não aparece um boy magia no final da novela para ela?
Como é a parceria com o Humberto Martins? Vocês já tinham contracenado juntos em Totalmente Demais, não é?
A gente contracenou mais no fim da novela porque minha personagem, a Cassandra, se mudou para a casa dele. Trabalhar novamente com o Humberto é um presente, um colega de trabalho querido e muito aberto. Aqui tivemos uma construção de família, e ele é um grande parceiro de cena, escuto muito as dicas dele. Não é aquela coisa de quem está chegando escutar os mais velhos, e sim todos se escutando para que a cena cresça e a trama se desenrole de forma positiva. A questão do machismo do personagem dele é que na verdade, é ignorância. Aquela pessoa que não tem conhecimento das questões e não procura ter. Às vezes ele fala coisas que parecem machistas e que podem até soar engraçadas, mas é tudo por não ter conhecimento, é um cara prático que se preocupa só em ter uma renda para colocar dentro de casa, um cara prático, e que só enxerga o lado dele das situações.
E a sua parceria com a Carol Duarte?
Uma surpresa. O trabalho dela é incrível. É muito bom ver gente nova chegando dentro da empresa, e para mim é um orgulho e um prazer tremendo olhar no olho dela em cena, e ver aquele frescor, ainda mais por se tratar de um tema tão sério. É muita responsabilidade junta para ela. Minha preocupação com ela foi de abraçar e recebê-la. Mostrei que a parceria existe não só dentro de cena, mas que fora de cena, ela também poderia contar comigo. Estou amando trabalhar com ela.
A Simone é uma peça fundamental na transição de Ivana para Ivan, não é ?
A Simone tem papel muito importante dentro dessa trama. Talvez se ela não estivesse ali, a Ivana poderia ter saído de casa e feito uma besteira, como se suicidar. Existe um número enorme de transgêneros que se suicidam e é uma pessoa que está ali para ajudar. A primeira reação da Simone quando ela contou foi: “Quem disse que você é isso”? Depois ela explicou o que era, e fez o contraponto com o personagem do Tê (Tarso Brant), a Simone entendeu tudo o que ela sentia. A Zu (Claudia Mello) é a matriarca daquela família porque ali está todo mundo olhando para um lado. A Joyce (Maria Fernanda Cândido) olhando para si, achando que tinha uma família perfeita dentro de casa, o Ruy (Fiuk) com as questões dele, cada um olhando para um canto e ninguém viu a menina. Só quem parou para escutá-la foi a Simone, que no início achava que ela só não se dava bem com os rapazes, e depois viu que o buraco era mais embaixo porque não era uma questão superficial.
Será que a Simone termina com o Tê?
Muita gente perguntou isso até por conta da cena que eles se encontraram pela primeira vez, em que a Simone diz: “Olha que gato”. Eu achei engraçado porque na internet teve muita repercussão, mas para a personagem seria um 360 graus na cabeça dela. A Simone não tem problemas com o gênero dela nem com a sexualidade dela, e em alguns momentos do texto, a Gloria pontua que ela vai pra night e pega todo mundo, mas não sei o que está reservado para a personagem.
Você percebe que a Gloria escreve com carinho as cenas de sua personagem já que ela costura várias tramas?
A Gloria fala através da Simone muitas vezes, como algo que ela quer explicar para o público ou algo que ela acha que o público tem dúvida, e é a Simone quem tira essa dúvida. Vejo isso nitidamente. Segurando a onda de uma, conversando com outra.
A personagem acaba sendo ponte, e não tem uma história própria, mas a história com a mãe é latente que vão acontecer bombas ainda. Tiveram várias críticas na internet dizendo que a personagem não aparecia tanto. Isso te machucou de certa forma?
Não. Quando comecei a ler comentários, o pessoal pedia mais cenas, o que é natural porque anteriormente as pessoas me viram em personagens de maior destaque. O grande lance com essa personagem que eu percebi é o papel social que ela tem, e quando entendi isso pensei “Não é pouca coisa não”. As pessoas se sentem à vontade comigo. É uma personagem que está tocando tanta gente, e até estava comentando esses dias, temos olhado tanto para a gente mesmo, querendo saber das próprias questões que às vezes passamos por alguém, perguntamos se está tudo bem, a pessoa responde que está tudo bem, mas pode não estar, e isso só temos como saber sentando e conversando. É a personagem de maior papel social que eu já fiz, e a Gloria tem essa característica, de tratar de temas polêmicos que vão gerar conversa na sociedade, e por ser meu primeiro papel numa novela da Gloria, a Simone foi um grande presente.
Você tem algum fã trans?
Sim. Eu vejo nas redes sociais muita gente, gente que a família não conversa sobre isso, mas está assistindo à novela, buscando entender de alguma forma, então é um trabalho muito bonito, e estou encantada.
Qual a importância do público teen na sua carreira?
Muita importância. E o legal é que eles vão crescendo junto com a gente. Mesmo alcançando novos públicos, esse público continua me seguindo. Eu que tenho uma boa abertura com o público jovem, fico sendo uma pouco influenciadora dele. E estar ali falando sobre respeito está sendo muito bacana.
Você tem um carinho muito grande pelo Rodrigo Simas. Como é pra você ver a composição dele do Piatã na novela das 18h?
Quando comecei a preparação para a Simone, ele estava fazendo a preparação dele também. A novela está linda, e o Piatã está trazendo algo novo para a carreira dele. O Rodrigo tem quase a mesma experiência que eu: Primeiro ele fez uma novela, depois ele caiu na Malhação. E a gente cresceu muito em relação a parceria um com o outro porque fizemos Malhação depois Além do Horizonte, então torço muito por ele. O trabalho está belíssimo, e a novela vai se encerrar com chave de ouro. Dá orgulho.
Você dá alguma ideia para os looks da Simone?
Eu adoro os looks dela, e pensamos juntos em como seria. É uma garota zona-sul mas não poderia ter um guarda roupa de patricinha, todo cor-de-rosa, até mesmo para não se distanciar tanto da prima. Temos que ver que é uma menina que se cuida, mas não pode ser tão contrastante por ela ter a mesma idade da Ivana (Carol Duarte). Eu opino sim, tem um lacinho que adorei, que eu queria colocar como uma marca da Simone, e aí fizeram ele de todas as cores. O pessoal do figurino está dando um show. Das roupas dela o que costumo usar na minha vida é o shortinho alto.
Você vai querer levar alguma peça de roupa dela agora que a novela está acabando?
Alguma não, algumas (risos).
Você saiu de Cassandra, uma personagem com forte pegada no humor, como é fazer a Simone que é tão séria?
A Cassandra beirava o caricato então eu podia fazer tudo com ela porque era válido. Saí da novela e ainda fiz o Spin-Off Totalmente Sem Noção Demais, disponível na Globo Play, que teve 4 milhões de acessos, e de lá fui fazer cinema. A Simone é o meu papel mais centrado. Por mais que a Lili de Além do Horizonte, fosse mocinha, ela era mais solar por conta das aventuras. E agora preciso fazer da Simone a mais centrada, até porque dentro da casa dela é uma loucura. Aqueles pais que ela tem, se não tiver alguém que segure não dá certo (risos). É um outro lado para mim como atriz.
Totalmente Demais está fazendo muito sucesso no Sudão…
No Sudão… Nossa. A Globo internacional tem esse alcance. Já recebi mensagens de pessoas da África, Portugal, Chile e fico muito feliz pelo nosso trabalho chegar em várias partes do mundo, o que quer dizer que as pessoas estão se identificando e podemos com isso tocar mais e mais pessoas.
*Entrevista realizada pela jornalista Núcia Ferreira