Intérprete da personagem Tati, em Floribella, atual reprise da Band, a atriz Úrsula Corona (38) está redescobrindo o público infantil. Diferentemente do ano em que a trama infantojuvenil foi produzida (2005/2006), agora a artista tem a oportunidade de se conectar com as crianças de outra forma, pela as redes sociais.
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Ao Observatório da TV, Úrsula, que recentemente esteve na exibição inédita de Ouro Verde (Band) e também na reapresentação de Totalmente Demais (TV Globo), contou que ver uma reprise de Floribella era um desejo antigo. A trama, é claro, figura entre os trabalhos que a artista mais gostou de fazer.
“Precisamos de entretenimento lúdico, que alimente sonhos e a vida das pessoas de forma positiva diante de tempos difíceis. Temos a arte para não sucumbirmos, e Floribella cumpre muito bem esse papel. Ela é uma novela genuína, simples e mágica. Uma narrativa fundamental para as nossas almas, não importa a idade“, disse ela.
Envolvida em projetos em Portugal (onde mora atualmente), a atriz encerrou no início deste ano a novela Na Corda Bamba, da TVI. No entanto, no Brasil a atriz também mantém outros vínculos além da televisão.
Úrsula Corona é madrinha da Escola Josias José de Souza, localizada na cidade de Jaguaripe, interior baiano. “Cuidamos de quase 100 crianças de forma totalmente gratuita, oferecendo educação e alimentação escolar orgânica há quatro anos.”
Questionada sobre o mercado de trabalho, ela afirma: “Tenho trabalhado em alguns países, mas Brasil e Portugal continuam na minha agenda. Ano passado passei seis meses filmando uma série no Brasil. Quero poder estar mais aí [no Brasil]. Amo trabalhar no Brasil!“
Confira a entrevista completa com Úrsula Corona:
CS – O que você acha do espaço dado aos brasileiros nas produções portuguesas, no sentido de serem bem vistos e bem recebidos, sem nenhum ranço de “tomar lugar” dos atores locais?
UC – Acho que Portugal retribui o que o Brasil começou a fazer há muitos anos com atores, cantores e profissionais portugueses da arte. Fomos colônia e somos uma extensão do DNA português. Logo, considero esse intercâmbio muito importante para ambos os povos. Alimentar a troca cultural entre países é fundamental ainda mais num contexto de globalização.
CS – Você acha que as novelas portuguesas ainda têm algo que aprender com as nossas, sendo que seus autores bebem na nossa fonte declaradamente?
US – Não encaro assim. Vejo assinaturas diferentes, da mesma forma se formos avaliar a dramaturgia do México, da Alemanha, dos Estados Unidos, da Espanha ou de qualquer outro país. Cada povo imprime uma narrativa particular a sua própria história. A novela é o retrato da vida na ficção.
CS – No Brasil você está emendando uma novela na outra desde 2019 com a reprise de Caminhos do Coração, depois Ouro Verde, seguindo com Totalmente Demais e agora Floribella. Como é se ver multiplicada em várias mídias e se relacionar com públicos distintos?
UC – É fruto de muito trabalho. O que mais gosto é a diversidade de cada personagem. Me entrego sem vaidades com a aparência física, mas o principal é alcançar o coração de cada pessoa. Precisamos transmitir verdade para atingir da criança ao idoso.
CS – Com tantas reprises se mesclando com trabalhos inéditos, é possível não se confundir com seus próprios personagens, ou isso é inevitável?
US – Ahahaha! Deixo isso para o público. Estou num momento que sempre desejei nesses 30 anos de carreira. Comecei aos 8 anos na TV Globo, junto ao Rafael Vannucci, no programa A Nave Mágica, em 1992. Posso dizer que é tão bom me ver com distanciamento e ao mesmo tempo de tantas formas diferentes.
Eu me entrego na minha profissão. Acho que em Floribella misturei muito a Úrsula na Tati – o skate e as gírias, por exemplo. Me confundo se a Tati tem um pouco da Úrsula ou a Úrsula tem um pouco de Tati.
CS – A novela vai atingir uma nova geração de crianças. Após tantos anos praticando de relação tão próxima com elas, isso em algum momento te inspirou vontade de ser mãe? Você pensa nessa possibilidade para um futuro breve?
UC – Pareço bipolar quanto a este assunto. Nunca quis casar e ter filhos na vida, por mais que ame crianças. Sou madrinha de algumas instituições, entre elas a Escola Josias José de Souza, em Jaguaripe, no interior da Bahia.
Junto com minha amiga Alba de Souza, cuido de quase 100 crianças de forma totalmente gratuita, oferecendo educação e alimentação escolar orgânica há quatro anos. Eu me dedico de forma intensa aos projetos sociais, principalmente na vertente de empreendedorismo, pois é esse legado que quero deixar além da minha carreira.
Mantenho parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) para atuar no Programa Mundial de Alimentos (WFP), sediado em Roma, e estamos trabalhando arduamente para combater a fome em mais de 30 países, incluindo o Brasil. Isso me emociona muito, ao ponto de tirar meu sono, me faz querer ser um ser humano melhor constantemente.
Casar e ter filhos, na minha opinião, deve ser consciente. Temos inúmeras crianças abandonadas, passando fome, num mundo tão cruel, tão violento e desigual. Já me sinto mãe e responsável por mais de 300 crianças de forma direta e isso me acalmou nesses anos sobre gerar uma vida.
Criança não pede para nascer, então, se formos gerar uma vida, que sejamos comprometidos em encaminhar essa vida da melhor forma, com amor e valores. Acho que escolhi ser mãe das crianças sem estrutura no mundo. Sinto isso como missão mesmo, mas é óbvio que me pego pensando em como seria a maternidade biológica e, principalmente, o coração do meu filho. Acho que só o tempo para saber o que vai acontecer dentro desse dilema.
CS – Os atores de Floribella andaram se movimentando nas redes sociais desde o anúncio da reprise. Você pensa em passar uma temporada no Brasil para aproveitar essa onda (mesmo que de forma remota por conta da pandemia)?
UC – Eu estou sempre no Brasil. A pandemia me fez sair de casa só para trabalhar e tenho ficado muito no campo, mais caseira e isolada também. Mas quem sabe eu consiga ir para o Brasil em breve!
Amo crianças e tenho um carinho enorme por esse trabalho. Fiz uma live no meu Instagram sobre Floribella e bombou de engajamento. Foi linda! Conversei com fãs que não tinha conhecido ainda.
CS – Recentemente você encerrou mais um grande trabalho na TVI, a novela Na Corda Bamba. Você chegou a trabalhar durante o pico da pandemia do coronavírus ou a novela foi finalizada antes disso? Como foi o impacto pra você desta nova realidade e como Portugal e as emissoras de TV reagiram diante da situação?
US – Tivemos a sorte de finalizar uma semana antes do confinamento as filmagens da novela. A Letícia Prado tinha mistério, era sonsa e não acreditava no amor após tantas desilusões. Rui Vilhena é um autor espetacular e foi um prazer trabalhar com ele.
O coronavírus, que leva meu nome, sobrenome inclusive, trouxe um novo viver e precisamos entender que não adianta manter comportamentos que ameaçam a nós e ao próximo. Os casos aqui em Portugal estão aumentando. O que vai ser disso, ninguém sabe. Só acho que as vacinas deveriam antes ser testadas nos políticos.
CS – Qual lição você tira de toda essa situação da pandemia? Como você enxerga a humanidade daqui para frente?
US – O mundo nos obrigou a parar e não podemos deixar de perceber isso. Precisamos reavaliar nossas prioridades, escolhas e principalmente o ego. Fico aflita no meio do caos mundial, pessoas passando fome, famílias perdendo pessoas, eu mesma quase perdi o meu pai, e vejo nas redes sociais as pessoas com vaidades e futilidades.
Comecei a perceber que o mundo está míope. Precisamos evoluir e sermos mais simples. Parar de queremos acumular coisas e sim sermos de verdade. Estamos de passagem e não levamos nada daqui.
CS – No Brasil, artistas gabaritados estão abrindo margem para trabalhos fora do cenário em que sempre foram vistos. São os casos de Manu Gavassi, Boca Rosa e Babu Santana no Big Brother Brasil, e agora Lidi Lisboa (protagonista de novelas da Record TV), que entrou como participante de A Fazenda. Você toparia participar de um reality show e explorar outro universo fora da atuação?
US – Por que o reality é um sucesso mundial? Mostra exatamente o que é cada um. Ninguém sustenta personagem tanto tempo confinado. O que me divirto é ver como começa de um jeito e vai mudando. É igual a bastidor de uma novela.
No início todos são gentis, mas no meio do caminho é um tal de “eu, eu, eu” que é engraçado. Gosto de pessoas reais e tenho preguiça desta postura estrela. Já ralei muito e entendo que não dá mais para sermos tão desumanos. Honestamente, acho que participaria de um reality. Ia me divertir, mas não sei se aguentaria.
Assista uma entrevista com Úrsula Corona sobre Ouro Verde, no canal do Observatório da TV: