Fernanda Montenegro é Mercedes em O Outro Lado do Paraíso. A mística que age como conselheira da protagonista Clara (Bianca Bin) chamou a atenção do público no primeiro capítulo da trama de Walcyr Carrasco. A atriz conversou com nossa reportagem e falou sobre sua trajetória profissional, sua experiência no teatro e televisão, e vaidade. Confira:
Veja também:
Leia também: Bonner celebra poder ficar em pé no Jornal Nacional: “Usava uma bota bem ridícula”
Fernanda, sua personagem é a conselheira da trama. Você é uma pessoa que gosta de dar conselho para as pessoas?
Não sou de aconselhar, mas se me pedem uma opinião, eu dou. Mas não fico em cima das pessoas ensinando a viver, cada um tem seu caminho. Sou incapaz de dizer a alguém o que ela deve ou não fazer.
Você gosta mais de atuar no teatro ou na televisão?
Em minhas palestras a atores mais jovens, digo sempre: ‘Se quer trabalhar na televisão, não perca tempo com o teatro’. O teatro é lento e vai exigir anos de entrega. A TV, não. Pode-se ser bem sucedido até mesmo sem talento. O processo eletrônico forja o que quiser. Se você não acertar, repete-se. Não quer dizer que um seja superior ao outro. Quem sou eu para julgar? Se uma atriz jovem precisar, espero pingarem uma lágrima para gravar. Tenho que entender. Mas no palco, a plateia não espera. Compreende?
Qual o balanço que a senhora faz de sua jornada profissional?
Vivi plenamente e não me arrependo de nada. Até mesmo as coisas mais duras e desagradáveis, com o passar do tempo, tornam-se sabedoria. Parece filosofia barata, mas é real. Às vezes, a gente dobra uma esquina no nosso caminho e pensa que se perdeu na vida, mas lá na frente vê que foi necessário.
Imagina chegar aos 88 anos, bem disposta e trabalhando?
Jamais, quando era jovem achava que isso era o equivalente a mil anos (risos).
A senhora pensa em se aposentar?
Às vezes, até acho possível, mas não dá. O trabalho exige que você acorde e cante. A vida de um ator é estressante, mas o desafio vicia. Não é como ser bancário, em que se pede a Deus a aposentadoria ou o domingo para descanso. Se bem que, quando se tem vocação, capaz até do mesmo acabar dono do banco (risos).
Quais são as suas vaidades?
Em primeiro lugar, cuidar da minha saúde e ter uma alimentação boa. Não me privo do que quero comer, mas já comi mais do que hoje (risos). Já fui a jantares, banquetes. Fazia teatro e saía morta de fome daquelas peças enormes de três atos ou mais. A idade te põe à prova. Fora isso, tomo dois banhos por dia, escovo os dentes e coloco um creminho na pele.
Você nunca foi fã de plásticas, né?
Não. Quanto mais se opera, mais fica-se deslocado do seu tempo. E aí não tem papel. Não se é mais jovem por motivos óbvios, não se está na meia idade, já que se tirou todas as possíveis rugas e papos, e nem é possível encenar a velhice, pois se escondem os anos. Aí não tem papel. O cara não vai para lugar nenhum. Fica indefinido.
*Entrevista feita pelo jornalista André Romano