Passada a primeira semana dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os altos índices de audiência na TV têm comprovado mais uma vez o grande interesse do público pelo evento e pelo desempenho do esporte brasileiro nas competições. No entanto, a esta grandiosidade das transmissões televisivas soma-se uma certa frustração diante de resultados não atingidos em diversos esportes.
Veja também:
O fato é que a cobertura do evento pelas nossas TVs é tão intensa, de tão boa qualidade e com tanta repercussão, mesmo com horários tarde da noite e madrugada ou muito cedo pela manhã, que acabamos até nos esquecendo da precária condição de treinamento e aprimoramento da maioria dos esportes olímpicos no País.
Em especial, há muitas dificuldades nas modalidades individuais fora das categorias que já são atraentes durante todo o período em que não há Olimpíadas (futebol e voleibol, por exemplo).
Nesta Tokyo 2020, já tivemos muita felicidade com as modalidades individuais estreantes, como skate e surfe, mas estas práticas já tinham profissionalização e atletas jovens de destaque em competições internacionais de longa data.
O grande volume de provas a que estamos expostos, o tanto de brasileiros na competição e a extensiva cobertura deixam ainda a impressão de que nós ganhamos poucas medalhas. A delegação brasileira é a 12ª maior entre as 206 presentes em Tóquio. São 302 atletas do Brasil, e a meta do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) é que o País supere os 19 pódios obtidos na Rio 2016, quando ficou na 13a. colocação geral, o melhor resultado do Brasil até hoje.
Ufanismo
Devido à grande cobertura esportiva por parte da televisão, ficamos íntimos da trajetória de nossos nadadores, judocas, ciclistas e até dos jogadores do pouco divulgado badminton. De uma hora para outra, acabamos conhecendo a trajetória de novos esportistas e passamos a acreditar na sua capacidade de trazer medalha. Acontece que estamos vendo o epicentro dos melhores de todas as modalidades do mundo inteiro. O quadro é altamente competitivo e se envolver emocionalmente com os atletas via TV neste momento pode frustrar expectativas.
Um exemplo de choque de realidade foi a entrevista que o atleta Altobeli Silva deu à TV Globo, imediatamente após ser eliminado na prova dos 300 metros com obstáculos. No seu emocionado desabafo, observa-se que nem sempre o esforço e todo o treinamento são suficientes, visto que há em outros países muitos avanços em todas as modalidades. A entrevista pode ser vista aqui .
Cobertura ampla, geral e irrestrita
São histórias como essa de Altobeli que estão chegando pela televisão. A cobertura da TV Globo, com sua qualidade de equipe, narração – Galvão Bueno sempre um gigante –, comentaristas e reportagem, é mais uma vez de excelência. Toda a programação da emissora, desde o horário nobre, passando pela madrugada até os horários da manhã, está em cima do lance de tudo o que acontece em Tóquio.
Vemos que narradores, comentaristas e repórteres também estão torcedores nestes tempos de explosão das redes sociais, quando todos reverberam e compartilham reações nas suas próprias mídias.
Não custa lembrar que a televisão aberta brasileira é uma das maiores e melhores do mundo. A TV Globo, como emissora aberta, está sempre posicionada entre as maiores de qualquer ranking e nosso mercado publicitário nas Américas só perde para o dos EUA.
E o que dizer então dos canais do SporTV? Quem tem sistema de TV por assinatura ou assinou pelo Globoplay pode conferir até quatro canais simultâneos com transmissão completa (narrador, comentarista, reportagem etc.) entre nada menos do que 40 (!) sinais com transmissões ao vivo de esportes que ocorrem em horários simultâneos. É um verdadeiro colosso!
Como alternativa na TV por assinatura e de forma mais concentrada, com 24 horas ao vivo no ar, entre transmissões e cobertura jornalística, o BandSports também vem muito bem. A emissora agrada e informa ao resumir ao longo do dia os acontecimentos da noite anterior, colocando o telespectador sem tempo de acompanhar tudo atualizado sobre o evento.
Glenda Koslowski, Elia Júnior e Álvaro José são nomes conhecidos e que fazem a diferença, entregando um trabalho importante para quem quer sair do padrão Globo-SporTV. As análises e pós-provas são bastante elucidativas das condições do esporte brasileiro com um time bem escolhido de comentaristas formado por ex-atletas.
Nos EUA
A título de comparação, a NBCUniversal, que detém os direitos de TV nos Estados Unidos para as Olimpíadas em todas as mídias e até 2032, enfrentou queda de audiência na cerimônia de abertura dos jogos em relação à da Rio2016. Mas é preciso ressaltar que a diferença de fuso prejudica mais o publico dos EUA, já que há uma diferença de 13 a 16 hora, a depender da região do país, em relação ao Japão (no Brasil, são exatas 12 horas), o que dificulta bastante a audiência.
Ainda assim, a NBC tem oferecido Olimpíadas para os norte-americanos em todos os seus canais, site, app e também pelo seu serviço de streaming (Peacock, com 52 milhões de assinantes). Segundo o jornal LA Times, o evento vai ser bem lucrativo para a NBC.
Expectativas
Na verdade, precisamos ajustar nossas expectativas e torcer para que o crescimento do mercado favoreça também os investimentos nos esportes. Ele tem de ser feito desde a base, na formação de atletas, para que tenhamos futuros medalhistas para dar conta de todas as transmissões que acompanhamos ao vivo, seja pelos canais da televisão, seja pelo streaming.
Não custa lembrar: chegar a uma Olimpíada em si já é uma vitória, um grande feito. Nesta Tokyo 2020, que teve atraso de um ano e quase não saiu, realizada em plena pandemia, os atletas também estiveram mais ainda prejudicados. Quem não se sensibilizou com a história do nadador brasileiro medalhista de bronze nos 200m livre, Fernando Scheffer? Sem piscina para treinar durante a pandemia, ele teve de fazer treino em um açude. Esta foi mais uma história que vimos pela televisão, desta vez com final feliz.
* As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.