Crítica de TV

“Pulo” em reprise de Carrossel é mais um absurdo do SBT

Mais de 100 capítulos da novela foram simplesmente ignorados para precipitar o desfecho

Publicado em 04/09/2022

Na semana passada, o SBT promoveu mais um absurdo em sua programação. A reprise da novela Carrossel, que estreou em 16 de maio ao meio-dia, como parte de uma iniciativa para melhorar os índices de audiência da emissora no início da tarde.

Junto com ela, estrearam outras duas novelas: às 13h, Esmeralda, também em reprise e que agora chega a seus capítulos finais; às 14h, a inédita Paixões de Gavilanes (título esdrúxulo), sequência de uma novela de 20 anos que não foi exibida pelo SBT, conhecida no Brasil como Paixões Ardentes.

Já com Paixões de Gavilanes ocorreu outro absurdo desrespeitoso, quando de sua retirada do ar depois de sete capítulos exibidos (de 16 a 24 de maio). As três horas destinadas às novelas foram então redistribuídas entre Carrossel e Esmeralda, que passaram a ter capítulos bem extensos.

Pois bem. Depois de conseguir elevar o ibope do começo da tarde (praticamente dobrá-lo) e recuperar o terceiro lugar, por vezes conquistando o segundo, em torno dos 3,5 a 4 pontos, Carrossel teve de terça-feira (30) para quarta-feira (31) um “pulo” de 107 capítulos. Não, você não leu errado: 107 capítulos, e o que faltava a partir daí para o desfecho da história foi ao ar entre 31 de agosto e 2 de setembro.

Após 16 semanas no ar, Carrossel deixou mais uma vez a programação do SBT. Na segunda-feira (5), a faixa do meio-dia passa a ser ocupada – se nada mudar até lá, o que não seria de surpreender – por um reality show sobre uma família cujos integrantes são anões, Os Pequenos Johnstons, atração da TV paga, no canal TLC.

Que Carrossel eventualmente fosse “acelerada” ou “picotada”, com uma edição mais intensa nos mais de 100 capítulos que tinha pela frente, para que saísse do ar mais depressa e desse espaço às modificações desejadas pelo SBT para sua programação vespertina, se não era a melhor solução nem a mais desejável, seria ao menos mais aceitável. A seguir como vinha ocorrendo até o começo da semana, Carrossel possivelmente terminaria apenas em meados de outubro.

A própria Carrossel, exibida originalmente pelo SBT entre 2012 e 2013, já havia tido uma reprise que saiu do ar após poucos dias em cartaz. Mal terminou às 20h e já reestreou às 18h, mas durou pouco. Na ocasião houve a transmissão de um comunicado sobre os baixos índices de audiência, a retirada do ar da novela e a promessa de que em um ano ocorreria seu retorno à grade. Em 2022, não houve qualquer aviso ao espectador.

Marimar (em 1998) e As Pupilas do Senhor Reitor (em 2007) são outros dois exemplos de reprises de novelas que entraram no ar e depois de poucos dias saíram da programação, antes mesmo que parte do público tomasse conhecimento delas.

Também em 2007, a Record TV fez a mesma coisa com uma reprise de Essas Mulheres. E, no segundo semestre de 1983, foi a vez da Band aplicar a tática com Cara a Cara, também em reapresentação.

Televisão depende do hábito do espectador de sintonizar um canal num determinado horário, preferencialmente sabendo o que vai encontrar, e que lhe interessa. Tanto um programa leva ao outro, numa sequência que tende a favorecer os índices pelo hábito e pela “herança” de público (o conceito de grade vertical), quanto dia a dia uma mesma atração, ou um conjunto de atrações, se mantém para que os acompanhemos em horários certos (grade horizontal).

Se alguém começa a acompanhar uma novela sob o risco de que amanhã pode não mais tê-la no ar, por que começar? Esmeralda, vai acabar de um dia para o outro? E Cuidado Com o Anjo, A Desalmada, Cúmplices de Um Resgate…? É o que seguramente alguns espectadores do SBT estão se perguntando – sem que seja a primeira vez.

É evidente que a emissora tem o direito de tomar as medidas que considerar necessárias a fim de melhorar seu desempenho de audiência, aproveitar os programas sobre os quais tem direitos de exibição, modificar horários etc. Mas desde que o público que acompanha a emissora não seja ignorado quando da tomada dessas decisões. Que a sigla SBT não signifique “Silvio Brincando de Televisão”.

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