Num tempo não muito distante Glória Perez foi duramente criticada pela novela Salve Jorge. Entre uma incoerência e outra, os problemas da autora foram além da trama de Morena ter substituído o sucesso Avenida Brasil. O principal problema da trama era uma história policial envolvendo o tráfico de pessoas. A costura da trama não convencia, fatos ficaram soltos assim como as pontas do enredo idealizado por Glória. E eis que temos novamente a veterana autora trabalhando numa trama policial. Dupla Identidade que estreou na sexta-feira, 19 de setembro, na faixa das 23 horas reuniu um elenco interessante numa estréia rasa.
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Começamos a acompanhar o desenrolar da ação em torno do delegado Dias (Marcelo Novaes), homem que investiga uma série de assassinatos que há algum tempo estão ocorrendo no Rio de Janeiro. Para ajudar o caso, foi chamada a psicóloga forense Vera (Luana Piovani), que segundo boatos foi chamada apenas para aumentar o burburinho sobre o caso já que a loira anteriormente trabalhara no FBI. Com ares de CSI brasileiro a série já começou jogando na cara do telespectador diálogos repletos de didatismo e explicações que poderiam ser dadas de outra forma, como quando Vera explica o motivo da necessidade de terem uma psicóloga forense no caso, ou quando a própria num diálogo em off narra como age um assassino, da forma mais clichê possível.
O enredo é extremamente simples, como um jogo de gato e rato onde foi delimitado exatamente quem são os mocinhos e quem são os vilões, mas acredito sim que Glória pode fugir da obviedade e dar ao público diferentes contornos acerca de seus personagens. Dias é quem coordena a investigação contra o assassino, mas ele é movido pelo desejo de ser Secretário de Segurança, e quem pode ajudá-lo nisso é justamente o senador Oto (Aderbal Freire Filho), homem para o qual Edu (Bruno Gagliasso), o verdadeiro assassino trabalha como assessor. Não dá pra saber ainda até que ponto a série vai criticar o poder público, e as manobras envolvendo cargos políticos, mas seria interessante se Dias fosse sim um homem que pode se corromper visando ascensão profissional.
Numa história aparentemente tão simples cabe ao protagonista levar o título de personagem com o maior número de camadas e nuances a serem apresentadas. E Bruno Gagliasso está confortável no papel como o homem bonito, e envolvente que chama a atenção por ser o tipo que parece ser facilmente confiável.Mesmo se tratando de uma estréia, o episódio foi lento e diversas vezes ao longo dos 43 minutos acabei desviando a atenção da tela por ver cenas longas demais (embora com edição ágil), ou com grande quantidade de diálogos que vão de encontro àquilo que uma série se propõe. Deu-se a entender pelo piloto que este foi apenas um episódio para se conhecer um pouco dos personagens, o que não é uma experiência agradável quando se trata de uma série, afinal, diferente de uma novela, a série dispõe de poucos episódios para se contar uma história, e isso pode afastar o público que não entende a princípio para onde está sendo guiado.
Algo que sempre me desagradou nas séries nacionais foi o uso de câmeras estáticas dando a sensação de estarmos diante uma novela, ou algum outro produto que precisa de menor tempo para sua realização, e em Dupla Identidade foram intercaladas cenas com câmeras estáticas e móveis feitas com grua e steadycam, o que garante maior qualidade às cenas. Cada vez mais preocupada com a qualidade visual de seus produtos, a Globo tem investido na fotografia e nos filtros de imagem. Mas em contraposição à tamanha variedade que a indústria audiovisual possui atualmente, os diretores parecem ter se limitado ao uso da baixa saturação. Entendo a intenção dos mesmos já que estão contando uma história de crimes, mas é no mínimo estranho ver cenas solares, filmadas na praia e com aquela coloração acinzentada. Talvez um jogo de luz e sombra mais pesado ficasse mais interessante. A trilha sonora é boa, e deu a intensidade necessária para as cenas. Enfim, uma estréia mediana, e espero que melhore.