Após um período menor que uma gestação, o Manhattan Connection não faz mais parte da grade da TV Cultura.
Veja também:
Independentemente de razões, ou não, de ordem política (leia a seguir) que levaram ao fim precoce da atração na emissora pública paulista, o programa não parecia mesmo muito à vontade na emissora.
Já descaracterizado, o Manhattan Connection veio perdendo sua própria identidade com a saída, um a um, de seus integrantes.
Também, foram oito meses de mais conflitos e polêmicas do que de programas interessantes.
A atração já estreou na casa sem Ricardo Amorim, que era o comentarista econômico fixo no Brasil quando ela ainda era exibida pela GloboNews.
Em seguida, vieram os arroubos de comportamento de Diogo Mainardi diante dos entrevistados, como o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (em fevereiro) e o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay (em abril).
As discussões culminaram com a saída de Mainardi da atração.
Na sequência, o repórter Pedro Andrade, que fazia reportagens nas ruas de Nova York e dava um ar muito chique e de glamour ao talk show, também desfalcou o Manhattan Connection.
Quando Pedro Bial disse no programa (em abril) que só entrevistaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso tivesse um detector de mentiras, conseguiu-se algum holofote para o Manhattan, dando-lhe uma sobrevida.
Outros convidados foram sendo alternados a cada episódio, sem entretanto darem brilho e atratividade ao programa comandado por um Lucas Mendes visivelmente sem maior entusiasmo.
O fato é que nem as análises da política internacional feitas diretamente de Nova York por Caio Blinder davam mais brilho ao programa.
Simplesmente a fórmula da atração não se encaixava ali na TV Cultura.
O Manhattan Connection foi consagrado por décadas e amado pelo público de elite na TV por assinatura muito por conta do seu conteúdo altamente liberal.
Seus âncoras sempre foram defensores da não-presença do Estado na economia.
Ainda, o talk-show carregava um elemento aspiracional, que é o desejo de se saber a cada semana sobre as novidades de Nova York.
Na TV Cultura, um programa desses não consegue conversar com a grade da emissora pública.
No canal, o foco é em temas do mundo infanto-juvenil, jornalismo local, manifestações artísticas nacionais e pautas de educação, inclusão e diversidade.
Caberia ao Manhattan Connection ampliar uma certa parceria público–privada de que tanto se fala no mercado, atraindo mais anunciantes para o canal.
Ao que tudo indica, isso também não aconteceu da forma esperada.
Espera-se que a trupe consiga negociar a atração com alguma outra rede.
Razões políticas
O encerramento do contrato entre as partes, depois de menos de um ano no ar, foi noticiado na mesma semana em que o programa exibiu uma entrevista com a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL).
Ela é defensora do presidente Bolsonaro e faz grande oposição na casa legislativa estadual ao governo de João Dória Jr.
A TV Cultura, mantida pela Fundação Padre Anchieta, recebe grande parte de seus recursos exatamente do governo do Estado.
No domingo (26), um dia depois de soltar nota sobre o fim “em comum acordo” do contrato com a empresa que faz o programa, a TV Cultura divulgou uma nova nota de esclarecimento:
“A TV Cultura esclarece que são absolutamente infundadas as recentes declarações da deputada Janaina Paschoal, que veio a público dizer que a emissora não irá mais exibir o Manhattan Connection devido à sua participação no programa da última quarta-feira (22/9).”
A emissora reiterou:
“As tratativas para o encerramento do contrato, de comum acordo com a Blend Negócios Divulgação e Editoração Ltda., empresa responsável pela produção e licenciamento dos direitos do Manhattan Connection, foram anteriores à data de gravação e exibição da última edição do programa”.
** Informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.