O dia 16 de abril de 2019 tinha tudo para ser o grande momento de Lidi Lisboa. Protagonista de uma das maiores produções da TV brasileira, a atriz deixou escapar a oportunidade de dar ainda mais destaque para sua carreira. Intérprete do principal personagem da macrossérie Jezabel, a artista não aproveitou o lançamento da trama para divulgar seu trabalho à frente de um nome tão importante para a bíblia, para a programação da Record TV e, é claro, para a sua própria história.
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Em uma trama com pouco mais de oitenta capítulos, Jezabel é uma mulher à frente de seu tempo. Se nos dias de hoje o poder de fala da mulher ainda é pequeno, infelizmente, imagina em 874 A.C.? Jezabel é má, cruel, manipuladora, enfrenta o pai, o marido, provoca guerras, derrama sangue, é sensual, empoderada e negra [o poder de fala da mulher negra é ainda menor em relação à mulher branca]. Lidi tinha em suas mãos a chance de apresentar uma protagonista-vilã que movimenta uma trama com mais de sessenta atores. Tudo gira em torno de Jezabel.
Protagonista
Infelizmente, Lidi não estava num bom momento para defender sua vilã/heroína. Diferente da maioria de seus colegas. Na coletiva de imprensa realizada no Polo Cinematográfico de Paulínia, interior de São Paulo, onde parte da história vem sendo gravada, a moça não estava à vontade para atender a imprensa convidada para destacar todo o enredo de maldade, recheado de lições proféticas com doses elevadas de sabedoria e fé e pitadas de humor com estreia marcada para 23 de abril, 20h45.
Nem tudo é glamour
Com respostas monossilábicas, Lidi parecia cansada, exausta. De fato gravar uma novela não é fácil. O público de casa talvez esteja acostumado a ver a trama no ar e os artistas posando glamourosos para campanhas publicitárias, esbanjado simpatia em festas e eventos, mas as diárias são longas. Quase doze horas de gravações, com uma folga na semana, mudanças no visual que mexem com a autoestima, dias, semanas longe da família, inúmeros compromissos, problemas familiares… Mas tudo isso faz parte do mundo da TV e do cinema.
Papel da imprensa
De fato, os jornalistas tinham nas mãos microfones, câmeras e gravadores prontos para ajudarem a contar parte desta história. Cabe ao elenco – e essa não é a primeira vez que algo semelhante acontece – também fazer a sua parte. Já presenciei muitos casos parecidos na Globo, SBT, Rede TV!, Band, Gazeta, entre outros eventos como filmes e peças em que o artista – ou o assessor de imprensa – “não está num bom momento”. É preciso muito jogo de cintura.
Empatia
Tenho quase dez anos no jornalismo, procuro me colocar no lugar do meu entrevistado, afinal, ele é humano, não é um artista 24h, todo montado num personagem, por trás de toda aquela maquiagem tem um ser humano que chora, que deixou em casa algum problema, assim como eu também deixei. Porém os artistas PRECISAM entender que isso é um trabalho.
Público
É uma grande engrenagem. Nós, jornalistas, dependemos de boas (tristes ou alegres) histórias para levar ao público, que se interessa e passa a ver a novela, a acompanhar a vida de seu ídolo, que assina a plataforma, que compra o ingresso do filme ou da peça, o novo perfume da estrela, que acessa o site, assina a revista ou jornal… No final, centenas ou milhares de empregos foram gerados tendo ainda alguma mensagem de reflexão para ser compreendida pelo público, parte mais importante de todo o processo.
Cultura
Esse é o papel da cultura. E novela também é cultura. Torço, sinceramente, para que Lidi se destaque na trama. Na abertura e nas cenas apresentadas ela se saiu muito bem. Se depender de todo o trabalho da equipe da Record TV e da Formata (elenco e produção), os telespectadores terão mais uma bela história para acompanhar. Jezabel toca em assuntos importantes como intolerância religiosa, guerras, machismo e feminismo. Lidi é experiente e certamente saberá como aprimorar seu relacionamento com a imprensa.