2019 foi um ano de contrastes na TV brasileira. Afinal, as principais redes do país não deixaram de fazer seus investimentos. Porém, todas sentiram os efeitos da crise econômica e se viram obrigadas a enxugar custos e promover cortes. Assim, as apostas dos principais canais foram em suas respectivas zonas de conforto. Prudência foi a ordem do ano.
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Mesmo a líder de audiência, Globo, fechou a torneira. A emissora dispensou nomes pouco produtivos de seu cast e promoveu mudanças na grade, que foram entendidas como contenção de despesas. Neste contexto, o canal não produziu uma “supersérie” em 2019, além de não ter ocupado a segunda linha de shows das quintas-feiras com produções originais. Preferiu apostar na segurança do Lady Night, produção do Multishow, e no enlatado The Good Doctor. Também optou por não fazer estreias sem garantias, adiando a produção do prometido novo programa de Angélica. Outro sinal dos novos tempos foi a extinção de produtos como o Vídeo Show e Bem Estar.
Por outro lado, o canal não deixou de investir. Ao mesmo tempo em que inaugurou um novo estúdio e aumentou a oferta de produções originais no streaming, a emissora também apostou suas fichas num novo vespertino diário, o Se Joga. Que, até aqui, se revelou uma aposta equivocada. Porém, mesmo num ano de estratégias mais “conservadoras”, a Globo ainda foi a emissora aberta que mais investiu.
Isso porque os demais canais se mantiveram sem grandes arroubos de investimentos. A Record TV manteve basicamente a mesma linha de shows do ano passado, incrementada apenas pelos novos Troca de Esposas e The Four. O SBT, como sempre, quase não promoveu estreias: Programa da Maisa, Famílias Frente a Frente e o retorno do Topa ou Não Topa foram pontos fora da curva. Já a Band optou por novidades menos ousadas, como o Aqui na Band e reality shows de retorno financeiro garantido. Enquanto isso, a RedeTV! mal se mexeu. Começou o ano com a equivocada aposta no Padre Alessandro Campos, mas encerra 2019 cortando custos.
Dramaturgia
Apesar das dificuldades, o saldo das novelas em 2019 foi positivo. A Globo colheu os frutos com as boas audiências de folhetins como Verão 90, Órfãos da Terra e Malhação – Toda Forma de Amar. A Dona do Pedaço, do sempre infalível Walcyr Carrasco, foi uma aposta segura e que deu muito certo. Neste contexto, a ótima Bom Sucesso, simpática trama de Paulo Halm e Rosane Svartmann, despontou como a melhor novela do ano. Enquanto isso, Éramos Seis, se não foi o estouro esperado, também está longe de ser um fiasco. Mas o canal tem dificuldades em emplacar Amor de Mãe, sua nova produção das nove.
A Record TV teve seus altos e baixos. O bom desempenho de Topíssima mostrou que a emissora deve voltar a concentrar esforços em tramas contemporâneas. Paralelamente, o parco desempenho de produções religiosas, como Jesus e Jezabel, mostram que a fórmula de novelas bíblicas já cansou.
Enquanto isso, a fórmula das novelas infantis do SBT também está em xeque. As Aventuras de Poliana perdeu fôlego em 2019, com uma história estacionada e pouco inventiva. Mesmo assim, a emissora apostará numa nova temporada da trama em 2020. A mudança de elenco e personagens pode dar à história de Iris Abravanel o chacoalhão que ela precisa.
Por outro lado, a produção de séries nacionais ganhou novos contornos em 2019. Atrações como Sob Pressão e Segunda Chamada elevaram o nível de excelência das produções da Globo. Além disso, o canal concentrou esforços no GloboPlay com boas produções, como Shippados e Aruanas. Apostas pontuais da Record e do SBT, com Terrores Urbanos e A Garota da Moto, também se mostraram boas experiências.
Realities
2019 foi um ano em que os reality shows não chamaram muita atenção. O BBB, da Globo, e o Power Couple e A Fazenda, da Record TV, tiveram temporadas fraquíssimas e que não empolgaram os espectadores. Além destes, o MasterChef, da Band, também não guarda boas lembranças do ano. O talent show de culinária teve duas temporadas que passaram em brancas nuvens.
Aliás, as competições na cozinha, de maneira geral, não foram muito felizes em 2019. Mestre do Sabor, Famílias Frente a Frente e Top Chef, “novidades” de Globo, SBT e Record TV, tiveram recepções mornas. Algo semelhante aconteceu nas competições musicais, que também não rendem tanta repercussão como antes. O Canta Comigo, da Record, apareceu mais por ter se tornado o último programa de Gugu Liberato, uma das tantas grandes perdas que a TV brasileira enfrentou.
Nesta seara, quem chamou a atenção foi a Band, que apostou numa série de novos formatos. Porém, programas como Me Poupe e Planeta Startup, embora divertidos e bem produzidos, se revelaram segmentados ao extremo para a TV aberta. Ao menos, devem ter servido para encher o cofrinho do canal, único mérito apontado também para O Aprendiz. Ao contrário dos demais, este último deve voltar em 2020.
Jornalismo
O ano também foi marcado pelo aumento do espaço do jornalismo em praticamente todos os canais. A Globo estendeu a duração de seus jornais e passou a apostar mais em grandes coberturas. Já a Record TV fez uma aposta arriscada nos boletins JR 24h, que até agora não disseram a que vieram. Enquanto isso, o SBT esticou o Primeiro Impacto. Mesmo sem investir, o noticioso popular ocupa mais de seis horas diárias da programação do canal, apostando em muito conteúdo repetido.
A Band também se mostrou mais disposta a investir em jornalismo, lançando novos noticiários como Bora SP e Band Notícias. Esta movimentação reafirma a força da informação ao vivo na TV aberta, ainda mais num momento de grande inquietação política e social.
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