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Novelas coreanas mostram receita para ser global, mas com sabor local

Tramas do país asiático evidenciam receita para obter sucesso em um mercado mundial duramente competitivo

Publicado em 28/02/2022

Com o advento das plataformas de streaming, se tornou impossível falar sobre novelas internacionais e não citar as coreanas. São elas que dominam o mercado asiático, o maior do mundo para o segmento, e há alguns anos chegaram à América Latina com alcance mais significativo.

Os K-Dramas são, absolutamente, um produto do K-Pop, que se tornou sinônimo de cultura moderninha da Coreia do Sul e é parte de um processo de imperialismo cultural da nação de 51 milhões de habitantes. 

O Brasil, com sua forte tradição noveleira, é, historicamente, resistente a um produto com características tão distintas da paisagem do Cristo Redentor e um sambinha de fundo.

No entanto, as novas gerações indicam que as produções coreanas podem ganhar mais espaço nos próximos tempos e estabelecer um interessante nicho para os melodramas, que, antes, de internacional só chegavam os do México

Um dos indicativos que se observa da força do mercado coreano para dramas é o hub da Netflix no país. O gigante do streaming aposta no talento específico, encontrado lá, para tornar seu catálogo atrativo não só na Ásia, mas em todo o planeta, com dublagem. Tem dado certo. Não é um golpe de sorte Round 6 ou All Of Us Are Dead representarem um furor também nos consumidores brasileiros de dramas. 

O ponto mais representativo deste cenário é que o Made in Korea não chega para tirar mercado das novelas ou séries nacionais no próprio Brasil. Ele encontrou seu mercado e pode ser bastante lucrativo para as produtoras baseadas em Seul e os distribuidores. Tudo indica que outras plataformas de streaming devem apostar no gênero, como a HBO Max, que é gigante e novata no setor, mas já entendeu que precisa de um catálogo etnicamente variado. 

Diferentemente do Japão, o segundo maior mercado de mídia do planeta, e que sempre chegou ao Brasil com suas produções de animes e algumas séries nos anos 1980 e 1990, a Coreia aposta, majoritariamente, em novelas do estilo comédia romântica, o que sempre funcionou para os Estados Unidos e suas indústrias do cinema e da televisão. São tramas muitas vezes leves, solares e que falam de amor, da busca pela metade da laranja. 

A receita coreana é deixar as mazelas mundanas, o realismo – amado pelos japoneses – de fora e transmitir beleza e perfeição em cada take. Não há espaço para o feio, para a produção de sentimentos duramente negativos quando se vê Pousando no Amor, Apostando Alto ou Uma Noite de Primavera, por exemplo. Tudo é pensado para reter a família e gerar uma sensação de agradabilidade. 

Série Round 6
Série Round 6 (Reprodução/Netflix).

Embora os maiores sucessos recentes sejam duas produções de horror e mesmo outros produtos, como Vincenzo ou É Tudo Meu, tragam muito realismo, eles estão embalados em uma estética absolutamente ocidental. Os produtores coreanos buscaram recursos nos Estados Unidos e entenderam que suas tramas podem conter elementos locais, mas trabalhados de forma universal. Isso faz a novela coreana, seja ela mais romântica ou realista, ser absolutamente aceita no Brasil ou em qualquer parte do Ocidente, porque minimiza muito os choques culturais.

Apesar de o foco principal da indústria coreana – e isso inclui os gigantes do streaming – ser, de fato, o gigantesco mercado asiático, não seria estranho ver uma produção brasileira de texto coreano em alguns anos. A globalização de conteúdo é a tônica deste momento no mercado, mas é muitíssimo importante manter o sabor local. O produto da Coreia do Sul faz sucesso por ser glocal, praticamente é possível sentir a picância do kimchi