
Da Cor do Pecado, trama de João Emanuel Carneiro, reestreou no canal pago Viva, mas quem a assistiu pela primeira vez na última segunda-feira (19) praticamente não foi informado sobre o nome da novela, uma expressão racista que objetifica corpos negros. Ao final do capítulo, a emissora do Grupo Globo veiculou este aviso: “Esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada”.
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Procurado pela coluna, o canal Viva oficializou a advertência para todos os folhetins de sua programação: Era Uma Vez, A Viagem e O Salvador da Pátria, além de Da Cor do Pecado.
“A iniciativa dessa cartela de contexto de época começou ontem em todas as nossas quatro novelas. Iniciamos no horário nobre, com a estreia de Dar Cor do Pecado, e estendemos para as demais. A partir de agora vamos fazer isso em toda a programação. Como relembramos ao final da novela, nossas obras reprisadas reproduzem costumes e comportamentos da época em que foram realizadas, um retrato da sociedade que evolui – e de uma Globo que evolui junto com ela”, informou o canal.

O Viva, entretanto, não respondeu por que não cita o nome da novela que começou a exibir. Na TV e em seu canal no YouTube, a emissora evita divulgar o título Da Cor do Pecado, destoando completamente da divulgação das outras tramas. Na estreia, a tag #DaCorDoPecadoNoViva não foi exibida, e no anúncio do capítulo seguinte foi nítido o corte na locução, certamente gravada com o nome do folhetim.
Em 2004, quando a novela foi ao ar originalmente, a questão racial engatinhava no Brasil. Falar que uma mulher preta era “da cor do pecado” ainda era visto como elogio. Quase duas décadas depois, combater o racismo se tornou pauta essencial nos meios de comunicação. O Grupo Globo abriu espaço para o tema em programas como Em Pauta, na GloboNews, e no especial Falas Negras, exibido na TV aberta.
Além do título racista, a própria trama protagonizada por Taís Araújo e Reynaldo Gianecchini tem como pano de fundo o preconceito racial. A maldade de Bárbara, interpretada por Giovanna Antonelli, são provocadas pelo ódio contra Preta, além do desejo de afastá-la de Paco. Em muitas cenas, a vilã diminui a rival pela cor da pele ao xingá-la de “neguinha”.
O Viva já exibiu outras situações preconceituosas em sua programação, como nos programas Os Trapalhões, A Escolinha do Professor Raimundo e Zorra Total. Os três exemplos faziam o público rir com estereótipos e caricaturas pejorativas de uma parte da população até hoje marginalizada pela sociedade, como mulheres, negros, indígenas e a comunidade LGBT.
Em 2018, o Multishow alterou uma cena de Chapolin por considerá-la homofóbica: mandou o elenco de dublagem da série trocar o sentido de uma piada do herói mexicano sugerindo que Batman e Robin formavam um casal. A ação impressionou pela forma como o canal tentou corrigir uma situação preconceituosa, produzida na década de 1970, para os dias atuais.
Se o Viva cortar todas as referências racistas de Da Cor do Pecado, a começar pelo título, deveria cancelar a reprise.