A internet já sabe quem é responsável por tantas notícias ruins neste ano: uma “robô” que apareceu no programa de Xuxa Meneghel em 1999 antecipando que em 2023 não haveria guerras. O vídeo, que havia viralizado em 2022, voltou a ter milhões de acessos nas redes sociais após o início do novo conflito entre Israel e Hamas. Seria esta previsão furada a causadora de todos os problemas do mundo atual? A coluna descobriu o paradeiro da androide em um consultório de psicanálise.
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Não, a criatura não faz terapia para superar as premonições erradas. Na verdade, a psicanalista é a robô! Ou melhor, Simone Bruno, intérprete da personagem Cibernética no Xuxa Park e em dezenas de outros programas de TV na década de 1990. No infantil, disse que vinha do ano 2023 e anunciou um “futuro maravilhoso”: “Somos muito felizes. A natureza está em ordem. Estamos todos bem. Não há guerras. Os seres humanos se conscientizaram da paz”.
A previsão não se cumpriu. Pior: o ódio e a intolerância cresceram assustadoramente, a poluição e o desmatamento elevaram a temperatura da Terra e provocaram tragédias ambientais…. Cibernética, não “estamos todos bem”. O que aconteceu? Com a palavra, Simone Bruno:
“A natureza não está em ordem, principalmente no Norte. Realmente foi bem falha! Deu pane total! As previsões saíam muito da intuição, do que o público queria ouvir, como nos filmes. Eu estava em um programa para crianças, foi muito improvisado. Xuxa e eu não elaboramos nada. Foi mais uma coisa intuitiva. Não esperava que fossem desenterrar. Só estou vendo o dia em que vão desenterrar as outras participações. Aí estou perdida! (risos) Falava muita bobagem, era muito molecona. Falei que não iria haver guerras e estou muito chocada com os bombardeios. Levo na esportiva porque foi em um momento da minha vida. Honro demais a pessoa que já fui”, declara.
Simone Bruno peregrinou no teatro, na TV e na publicidade durante 20 anos, com dois trabalhos diferentes. Na primeira metade, integrou o grupo Vitrine Viva, que realizava performances com passos robóticos (como manequins) em programas e eventos. A atriz deixou a trupe e iniciou a carreira solo com uma personagem própria: a Cibernética, androide futurista inspirada em filmes como Blade Runner.
Além de Xuxa, Simone Bruno conheceu Faustão, Luciano Huck, Catia Fonseca e chegou a trabalhar com Renato Aragão em A Turma do Didi: “Com a Cibernética fiz muito mais coisas do que gostaria, viajei mais para o exterior, era uma personagem com mais potencial. Tinha estudado teatro, tinha mais base. Era muito exótico para a época, não havia tanta tecnologia. Achava muito legal personagens como Carlitos, de Charlie Chaplin, que quanto mais ele fazia mais era autêntico. Eu percebia isso na Cibernética”.
De robô a psicanalista
Em 2007, Simone decidiu aposentar o figurino de Cibernética após uma difícil apresentação durante uma tempestade de granizo. Recusou ofertas tentadoras para voltar a ser robô, estudou história da arte e tornou-se professora. Também formada em psicologia, há seis anos especializou-se em psicanálise e atende pessoas que só agora descobriram que ela foi uma celebridade da televisão.
“Meus pacientes mandaram: ‘Olha, descobri que você é a robô!’. Mas não tenho vergonha, pelo contrário, sinto muito orgulho pela personagem. Depois do meme, muita gente, inclusive da família, descobriu que era eu e não sabia que já fui artista. Gosto do meu passado, mas não vivo dele. Quando recebi esses memes todos, ri muito, apesar das críticas, algumas bem ácidas! Estou na mesma fase em que Xuxa e outras mulheres maduras estão, que se aceitam e se compreendem. Tenho uma bota guardada, o resto foi tudo embora não sei para onde”, conta.
Anônima após o estrelato nos anos 90, Simone Bruno compartilha registros antigos no Instagram, mas dispensa prever o futuro como Cibernética tentou fazer. Ela torce pela paz tanto no mundo quanto no interior de cada pessoa (com a ajuda da psicanálise).
“Desejo que a guerra se encerre, que a gente tenha mais paz no mundo e desejo a cada ser humano que se conheça, se reconheça e se valide. É o caminho para a cura. Sinto a maior parte do meu tempo curada. Nesse caminho, que as pessoas façam terapia ou busquem o autoconhecimento para passar por momentos ruins com menos dor. Seria maravilhoso um mundo onde as pessoas não tivessem tantas dúvidas sobre elas”
Simone Bruno
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