Com animação no streaming e filme no cinema, Os Cavaleiros do Zodíaco está em alta, mas de cara nova: saiu o desenho que cativou as crianças brasileiras nos anos 90, entraram computação gráfica e atores reais. Para a atual fase, a versão brasileira também sofreu alterações. Wirley Contaifer recebeu a difícil missão de substituir Hermes Baroli, voz de Seiya de Pégaso, durante quase três décadas anos. E, já que o anime fala sobre deuses, o dublador clássico do protagonista “abençoou” seu sucessor.
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Com 32 anos, o dublador nascido na Baixada Fluminense pertence à “geração Cavaleiros”, ou seja, aprendeu a amar dublagem e animes a partir da produção japonesa exibida pela extinta Manchete. Um dos principais dubladores da atualidade, Wirley acumula papéis de sucesso, e ser herói não é novidade. Ele empresta sua voz a Tom Holland em Homem-Aranha e ganhou elogios do intérprete de Peter Parker.
“Acompanho tudo sobre ele e foi inacreditável quando ele disse que ‘não sabia que falava português tão bem’. Ele é muito generoso, é uma pessoa que admiro ao extremo, porque antes de ser um super-herói ele é um super-humano”, conta Wirley Contaifer em entrevista exclusiva à coluna.
Com a mesma “receita”, o dublador se preparou para dar vida a um de seus personagens favoritos. Wirley interpreta Seiya de Pégaso na sequência do reboot, disponível na plataforma Cruncyroll (a primeira, dublada para a Netflix, ainda contou com as vozes tradicionais).
“Os Cavaleiros do Zodíaco, para mim, sempre foi uma carta de amor que abastece diferentes tanques da nossa vida, tanto que é atemporal. É muito bom ser um porta-voz nacional de um símbolo desse, como o Seiya, e continuar o que o Hermes trouxe. Sempre foi, é e será Hermes Baroli. Ele é a imortalidade. Eu não substituo, mas dou sequência. É como um revezamento da tocha olímpica. A chama nunca vai se apagar”, reverencia.
“Chorei no teste para o Seiya”, diz novo dublador
Contaifer dirigia uma dublagem para o Globoplay quando recebeu o convite para um teste na DuBrasil, em São Paulo, que seria só mais um até ele descobrir que o produto era, simplesmente, Cavaleiros do Zodíaco. Ele precisou controlar a emoção para “explodir” sua voz como os meteoros de Pégaso (golpe de seu personagem. “Era um projeto com grandes responsabilidades, e disso eu entendo”, brinca, citando uma das frases mais famosas de Homem-Aranha.
“Quando cheguei lá, não acreditei. Meu teste foi a cena com o Shiryu na Casa de Gêmeos. Foi quando gritei meu primeiro Meteoro de Pégaso. Passou tudo na minha frente. Senti minha pupila dilatada. Minha íris ficou estrelada! Fiquei preocupado [com os dubladores originais], mas me disseram que o Hermes sabia do meu nome. Fiz Homem-Aranha, Tartarugas Ninja, papéis impensáveis para mim, mas no teste do Seiya eu chorei. Chorei como se fosse um choro de muito tempo, como um desentupidor, como um desbloqueio de algo que estava preso na garganta há muito tempo”.
Hermes Baroli não apenas conhecia Wirley, como se despiu de vaidade ao anunciar o novo time de dubladores de Cavaleiros, entregando o principal papel de sua carreira (que o acompanha desde os 18 anos) a um novo “guerreiro”.
“Depois que passei, mandei uma mensagem para o Hermes. Ele respondeu em áudio: ‘Meu amigo, que felicidade!’. Em nenhum momento me menosprezou. Disse que era um personagem digno, honesto e tinha tudo a ver comigo. Ele está confiando o personagem da vida dele para mim! A benção dele foi como se fosse um irmão, um mentor, um Seiya no multiverso! ‘Faça assim, seja você, seja feliz’. O tempo inteiro ele me lembrou para eu ser feliz, ser eu mesmo, ser de verdade e sentir amor”, recorda.
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