Cria do rádio, Luiz Teixeira volta às suas origens no novo programa do SporTV, Tá On, que estreia nesta terça-feira (6), às 12h30. Em um cenário que lembra a bancada radiofônica, a atração terá muita interatividade e participações ao vivo de repórteres espalhados pelo Brasil. Para “estar on”, como promete no título, o apresentador precisou renunciar ao cargo de repórter, que ocupava na Globo desde abril de 2021, para assumir a nova e prestigiada função.
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Em entrevista exclusiva à coluna, Luiz Teixeira fala sobre a transição da carreira dentro da emissora e o quanto se sente à vontade no ambiente do rádio. Mesmo focado na televisão, ele ainda é ouvinte assíduo dos programas esportivos, prática que mantém desde a infância e adolescência.
“Nasci e cresci na periferia, então não tinha TV a cabo nem acesso a outros meios de comunicação. Internet ainda não era algo palpável na minha adolescência, só quando entrei na faculdade, em 2006. Consumia muito TV aberta e rádio. Gostava e sempre gosto de ouvir programas esportivos em várias rádios”, conta o jornalista de 34 anos.
O trabalho de Luiz Teixeira na rádio Band News FM atraiu a chefia de esportes da Globo, que o contratou para assinar reportagens no Globo Esporte e Esporte Espetacular, além de participar das transmissões do SporTV e do Premiere. Após um ano intenso de grandes coberturas, ele conquistou espaço em entradas ao vivo em programas como Redação e Tá na Área. Desde junho, integra o rodízio do SporTV News. O bom desempenho abriu portas para sua estreia como apresentador titular.
“Comecei a me ambientar e perceber que era algo de que gostava muito, porque lembrava muito as minhas entradas na rádio, porque era ao vivo, não havia muito o que anotar, pensar ou gravar, era tudo na hora, e aquilo foi me deixando super à vontade. Vieram os feedbacks da chefia em São Paulo e no Rio de Janeiro e os comentários ao vivo do Marcelo Barreto no Redação. Ele não me conhecia pessoalmente. Começaram a me escalar com mais frequência nos dois programas e menos nas reportagens. O Bruno Barça, chefe de reportagem, me falou que estavam gostando muito e queriam me fixar, mas iria sair da reportagem. Super topei, porque gosto muito de contar histórias, mas vi que a reportagem do dia a dia ficou muito distante. Estava mais nos links e nas transmissões dos jogos. Falaram: ‘Seu nome apareceu para apresentar esse programa e a gente está a fim de te dar essa oportunidade’. Não tinha como falar não. É um sonho”, comemora.
No Tá On, Luiz Teixeira sentirá o gostinho de voltar ao rádio, ainda que na televisão. Com linguagem despojada, mas com foco no jornalismo, ele irá atualizar em tempo real as principais notícias sobre futebol e outros esportes. A estreia ocorre justamente em dia de jogos da Champions League e da Copa Libertadores da América, que embora não sejam transmitidos pelo Grupo Globo ganham destaque nos programas da casa. A ideia é moldar a atração conforme os fatos do dia pelo menos até novembro, quando o horário será usado para transmitir a Copa do Mundo.
“Foi um programa muito desenhado com base na informalidade e na dinâmica que os programas de rádio têm. Vemos muitos podcasts ao vivo, que são nada mais do que rádio. Temos uma mesa que lembra muito uma mesa de podcast. Estaremos entre outros dois programas muito conhecidos e de debate [Redação e Seleção]. O Tá On não é um programa de debate, é um programa de informação em um curto espaço de tempo, é um programa de informação ao vivo. Acho que tem muito a essência do hard news. Vou pegar o exemplo da rádio Band News FM, onde trabalhei antes, com o slogan ‘em 20 minutos tudo pode mudar’. No nosso caso, temos 30 minutos. Se entrarmos às 12h30 e às 12h38 vem a notícia da demissão de um técnico, às 12h40 um repórter irá trazer essa informação. A gente nunca vai trabalhar com o passado, sempre com o presente e com o que pode acontecer com o futuro”, explica.
Luiz Teixeira agradece a Neto e analisa espaço a negros na TV
Este texto começou chamando Luiz Teixeira de “cria do rádio”, mas a televisão também tem lugar cativo em sua carreira. Ele mostrou seu rosto pela primeira vez nos programas de Neto na Band. Separados por emissoras, o jornalista revela gratidão ao ex-colega, que hoje é seu amigo.
“O primeiro cara que me deu oportunidade na TV foi o Neto. Ele era ouvinte assíduo da Band News FM, sempre enviava mensagens nas transmissões. Um dia, pediu meu telefone para o [narrador] Dirceu Marchioli me convidando para o programa dele. Eu não o conhecia pessoalmente: ‘Pô, quero você no meu programa, gosto muito de você no ar’. A primeira aparição minha foi com no Baita, Amigos, se não me engano, e depois em Os Donos da Bola. É um cara por quem eu sou eternamente grato. Hoje, considero um amigo, nos falamos semanalmente. Um cara que nem coloco como referência porque transcende ao agradecimento”, elogia.
Agora apresentador, Luiz Teixeira admite que não se via nesta função por nunca ter tido referências de homens negros ocupando posições de liderança na televisão. Quando chegou à Globo, há um ano e meio, tornou-se o primeiro repórter negro desde a saída de Abel Neto, em 2018. Após abrir este espaço, ele luta para ampliar ainda mais o mercado e não ser o “único”, como ocorreu em empregos anteriores.
“O racismo é o preconceito da desconfiança. Em qualquer setor, se você tem uma pessoa negra e uma pessoa branca ambas em cargos de liderança, o negro vai ser visto com desconfiança. Homem negro de terno e gravata é associado ao segurança e o branco é associado ao executivo. Isso é racismo. Quando um homem negro de dread apresenta um programa no principal canal esportivo da América Latina, o preconceito da desconfiança cai por terra. Eu não me enxergo como referência porque estou no começo da carreira, mas sei a importância de estar ali, porque sei que não estou sozinho. A conquista nunca é individualizada, sempre é coletiva. O Paulo Cesar Vasconcellos [comentarista do SporTV] tem um frase que carrego para a vida: ‘Espaço ocupado é espaço ampliado’. Tenho como meta estar ali para ampliar o espaço e não ser o ‘único’ como fui na faculdade, quando entrei na Band News como único repórter negro e único apresentador negro. Permaneço no coletivo negro da Band mesmo fora da empresa. Faço parte de um comitê de diversidade da Globo que também debate xenofobia, machismo e homofobia. Daqui um mês, um ano ou dez anos, a ideia é ter outras pessoas negras em cargos de liderança, na apresentação, na reportagem, por trás da câmeras. Enquanto não tivermos o mínimo de igualdade, não teremos o mínimo de oportunidade”.
Luiz Teixeira
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