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Do luto à luta, João Fernandes redescobre o amor com filho, namorada e burro em novela da Globo

À coluna, ator fala sobre paternidade, relacionamento e Justino, seu personagem em Amor Perfeito

Publicado em 22/05/2023

João Fernandes reconstrói a vida pessoal e a carreira ao mesmo tempo com uma maturidade incomum aos 24 anos. Na TV, cativa o público em Amor Perfeito, primeiro trabalho na Globo após o turbilhão de emoções negativas pelas quais passou nos últimos anos. Do nascimento do filho à morte da ex-namorada, o ator redescobre o amor graças ao pequeno Nicolas, à atual companheira e ao burro Mindim, fiel escudeiro de seu personagem, Justino, na novela das seis.

O artista, que começou na televisão aos nove anos e se destacou em novelas como Avenida Brasil (2012), comenta com exclusividade à coluna a relação paterna entre Justino e Mindim, que na vida real é uma jumenta fêmea. “Pai de pet” nos anos 40 e atualmente, João Fernandes se encanta pela causa animal e planeja trabalhar na área ao lado da namorada, a estudante de veterinária Ketelyn Menezes.

Nicolas, que completará quatro anos em julho, não havia completado dois quando perdeu a mãe, Mabel Calzolari, vítima de aracnoidite torácica, doença rara na medula. A morte precoce abalou João Fernandes a ponto de desacreditar em um novo relacionamento, mas ele se agarrou ao filho e à rede de apoio para se reconectar ao poder do amor.

Leia abaixo, em tópicos, a entrevista exclusiva com João Fernandes:

Amor por Nicolas

“A gente sabe como a vida é árdua, onde o calo aperta, onde as coisas começam a machucar. Pessoalmente, entendo as dores que a vida me causou, mas nada na minha vida vai ser mais importante do que a felicidade do meu filho. Minha relação com o Nicolas mudou todo e qualquer tipo de papel que eu pegar a minha vida, porque moldou a pessoa que sou hoje em dia. A rotina é um processo que a gente ainda está descobrindo. Não moro com a Ketelyn por enquanto, então o Nico fica com ela aos finais de semana, mas eles se amarram. Vou para a casa dela junto com o Nicolas e nós brincamos. Essa coisa de estrutura familiar é engraçada, porque aprendi com o Nicolas na prática. Ele só sabe o que é uma família porque a gente vive junto. Se tem um ou se falta um, acho muito mais nocivo psicologicamente do que qualquer outra coisa. Por enquanto, ele está super acostumado a essa estrutura de família que foi apresentada a ele. Hoje em dia, fico com ele sempre que posso. Temos uma babá quando vou gravar e a dispenso quando folgo, porque quero ficar o dia inteiro só com ele. Um dia por semana ele vai para a casa da avó materna, que mora na rua do lado. Ele é fã da novela, canta a música de abertura e fala todo dia que quer ver a novela do papai. Esses dias disse para alguém que eu tinha um burro, mas é o personagem!”.

Amor por Ketelyn

“Eu estava completamente desacreditado quando conheci a Ketelyn, não só de achar que não vai dar certo, mas de achar que não é hora, não estava buscando. Não queria namorar, não queria sentir, não queria nada. Do nada, apareceu essa pessoa por quem eu me apaixonei, e desde o momento em que eu fiquei com ela pela primeira vez sabia que estava sentindo o que não queria sentir (risos). Mas não me deixei travar. Para mim, é sensacional namorar a Ketelyn porque eu me sinto invencível, sinto que a gente pode resolver qualquer problema juntos. Por mais que seja impossível, sentir-se assim é muito gostoso, e eu sou muito abençoado por tê-la ao meu lado, ter esse acesso a uma vida mais calma, mais tranquila, a um amor que pode ser reconstruído dia a dia, independentemente das coisas. Não digo que meus relacionamentos anteriores foram ruins, mas nunca vivi nada parecido. Independentemente do meu relacionamento com a Mabel ter sido muito especial e muito importante, não só pelo fato de a gente ter o Nicolas como prova de tudo isso, nossa relação de amizade era muito boa. Minha relação com a primeira namorada, da adolescência, é muito boa até hoje, ela teve filho recentemente. Tive relacionamentos legais, mas pela primeira vez na vida sinto que, independentemente do que aconteça, tendo filhos ou não, tendo dinheiro ou não, sei que a gente vai estar junto”.

Amor pelo trabalho

“Para mim, voltar à Globo é sempre importante, porque foi quem me colocou no mercado, desde sempre acreditou em mim. Trabalhei em outras emissoras, mas hoje tenho uma maturidade profissional para dizer que não há nada igual com a forma como sou tratado e respeitado na Globo. Nesse momento da vida e da carreira, é importante ter um personagem como esse no momento de retomada. A empresa mudou bastante e preciso botar minha cara e mostrar que sou capaz, e ter essa oportunidade está sendo muito importante. Antes de a novela estrear, me perguntaram como era fazer comédia. Justino é coração além da conta. Esse sofrimento, por ser um cara meio roceiro, sem jeito, traz uma comicidade que não é por piadas ou por estereótipos. Ele está em situações perdidas, não sabe lidar com muitas coisas da vida e o carro-chefe é uma relação que nem existe, uma paixão platônica que ele constrói há tempos. A comicidade vem mais da situação do que de mim. Não julgo quem acha graça, porque também me divirto. A novela é densa e o meu núcleo, da família, teria de ser um alívio, não só cômico, mas de respirar e curtir. Justino acredita muito no amor que sente e acredita piamente que a Sônia (Bárbara Sut) deveria ficar com ele”.

Amor pelos animais e por Mindim (e Tina)

“Justino é um pai de pet! O Mindim, para ele, é como um cachorro, um animal doméstico. Ele só não entra no cenário da casa porque não cabe, porque para ele é um filho, tanto que briguei quando a gente começou a construir e havia muita coisa no roteiro dizendo: ‘Você para mim é como se fosse um irmão’. Chamei os autores e falei com a direção: ‘Não, Mindim não é irmão, é filho! Ele tem uma relação de paternidade com esse burro’. Aliás, é uma jumenta, Tina. Ela é o animal mais tranquilo com quem já trabalhei na vida. Ela me ama de uma maneira que as pessoas não entenderam, porque ela me respeita muito. As pessoas comentam que sou filho do Candinho [de Êta Mundo Bom] ou o Timbó [de Mar do Sertão] da nova geração, e não tinha visto nenhuma dessas duas novelas. Tive que dar uma olhada, porque eu continuava um legado de uma coisa que nunca assisti. Namoro há 2 anos e pouco com uma estudante de veterinária que tem um cachorro, Tails. Quando eu a encontrei e me envolvi nessa família, entendi realmente o que é ser ‘pai’ de um animal. Para mim, foi um processo. Primeiro, fui pai do Nicolas e entendi o que é esse amor entre pai e filho, de amar desesperadamente uma pessoa. Depois, comecei a me envolver com o Tails, que hoje em dia é meu filho também. É uma relação de pai e filho bizarra, porque é carinho, cuidado, amor, e eu penso: ‘Meu Deus, como as pessoas lidam com animais de forma cada vez mais negligenciada?’. Estou abraçando a causa animal cada vez mais. Nossa meta de vida é abrir uma clínica antes do final do ano que vem. Logo menos vou ser uma referência no cuidado de animais!”.

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