O Canal Brasil estreia nesta sexta-feira (24), às 22h30, a série Chuva Negra, protagonizada por João Simões, estreante na TV. Escalado pelo diretor e roteirista Rafael Primot, com quem contracena na produção, ele atendeu aos dois principais requisitos para o papel: ser um ator com síndrome de Down.
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A busca pela inclusão marca a trajetória de Primot na dramaturgia, e Chuva Negra é seu trabalho com maior diversidade. Negros, gays, mulheres cis e transgênero, atores de diferentes idades. Ao criar o enredo da série e decidir abordar a síndrome de Down, encantou-se por João Simões e lhe propôs o desafio de estrear na televisão já como protagonista.
“Queria escrever uma série em que o protagonista fosse um ator com síndrome de Down e que a história girasse em torno dele. Quando encontrei o João, falei: ‘Esse é o garoto de que preciso’, porque era muito doce e carismático. E é um ator excepcional, percebi logo quando eu o vi fazendo teatro no grupo do qual participava. João é super talentoso e vocacionado, o que é importante. Ele gosta muito do que faz, faz porque quer muito, não é a mãe que o colocou lá para ele ficar mais desenvolto. Ele gosta de ser ator, de decorar, de fazer personagem”, elogia o diretor em entrevista exclusiva à coluna.
Na história, os irmãos Zeca (Marcos Pitombo) e Vitor (Rafael Primot) precisam cuidar do irmão caçula, Lucas (João Simões), após a morte dos pais. A pandemia atrasou o início das filmagens e praticamente todo o elenco original precisou ser substituído, mas o diretor conseguiu segurar seu protagonista e lhe ofereceu uma preparação digna à altura de sua importância para a série.
“Ele teve muito tempo de ensaio, uns oito meses, com um preparador só para ele, que é o Rodrigo Frampton. Precisava que ele soubesse muito bem as cenas igual no teatro, e que ficasse confortável dentro do ambiente de trabalho da televisão. Não tínhamos como montar um set antes para levá-lo para ele conhecer e entender como é. Fomos explicando o funcionamento, fomos ficando amigos dele. Tivemos esse cuidado de preparar o set e os atores para receberem o João. Até a menina que coloca o microfone, porque ele não gosta que fiquem pegando nele”, explica Primot.
A confiança foi primordial para que João Simões pudesse interpretar com perfeição cenas tensas e emocionantes, envolvendo inclusive o preconceito da própria família contra Lucas. A preparação se estendeu após o término das filmagens.
“Falo com o João toda semana, e o preparador passou mais de um mês indo à casa dele, conversando com ele, para não ter um desligamento afetivo que eles criaram de uma hora para outra”, conta o diretor, ressaltando a importância de investir em acolhimento para incluir profissionais diferentes no mesmo trabalho.
“Dá trabalho, é diferente, e precisa ter isso. Mas para fazer a inserção e mudar o mercado de trabalho, a gente tem que se preocupar com isso”, finaliza.
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