A eliminação de Rodolffo no BBB 21 não foi aceita por amigos e familiares. Nas redes sociais, a torcida atacou a Globo e iniciou uma campanha de desprezo total pela dor sentida por João após ter seu cabelo comparado pelo sertanejo a uma peruca desarrumada e com aparência de suja. Até o pai do cantor, citado no programa por usar black power na juventude, ironizou a revolta do professor pela fala racista.
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(Antes de continuar o texto, é preciso reforçar que toda comparação de um cabelo crespo ou black power a qualquer coisa que pareça suja ou desajeitada, como era a peruca do monstro usada por Rodolffo, é racismo, mesmo que a discriminação não seja intencional.)
Em manada, torcedores do sertanejo agiram em três frentes: chamaram João de oportunista, por ter exposto o racismo ao vivo sem antes ter conversado com Rodolffo; acusaram a Globo de proteger João e humilhar Rodolffo, por ter deixado Ludmilla pedir respeito à cor e ao cabelo dela no show do último sábado e pelo discurso de Tiago Leifert após o fim da votação tentando explicar ao cantor a gravidade da comparação racista; e depreciaram a dor de João por meio de vídeos que contradizem seu sentimento.
O objetivo foi atacar a vítima para desmoralizá-la e, assim, dar razão a quem errou. Juarez Dias, pai de Rodolffo, decidiu descontar a raiva pela eliminação do filho diminuindo o sofrimento de João com uma comparação esdrúxula, para não dizer ofensiva. Compartilhou um vídeo em que o brother veste uma peruca loira e brinca dizendo estar “igual a Hebe Camargo” (1929-2012). Para ele, as duas situações são semelhantes.
“O João coloca uma peruca e diz que ficou igual Hebe Camargo. Tudo ok. Alguém coloca uma peruca e fala que parece com ele é crime?”, escreveu o pai do sertanejo, que usava black power na juventude. A analogia é péssima porque ignora o motivo exato pelo qual comparar cabelo crespo a algo sujo e desarrumado é racismo. O loiro é associado à beleza, enquanto o black power é estigmatizado e mal visto.
Ao espelhar duas situações completamente diferentes, o pai de Rodolffo mostra não se importar com nenhuma delas e só as comparou para relativizar a tristeza do professor. O vídeo foi publicado inicialmente no TikTok, onde ultrapassou 2,7 milhões de visualizações, e foi compartilhado por muitos amigos e fãs de Rodolffo. Alguns, em tom de deboche, pediram “respeito a Hebe”, desrespeitando o black power como símbolo de luta contra o racismo.
Em outro trecho postado nas redes sociais de amigos do cantor, João discute com Projota dizendo que se houvesse algum problema entre eles o rapper poderia conversar. Novamente, o professor é acusado de ser hipócrita, falar uma coisa e fazer outra. Nos dois casos, a intenção é desviar o foco da fala racista de Rodolffo.
Outros cantores desdenharam da fala racista. “O mundo tá cada dia mais chato, não se pode mais brincar com cabelo nem chamar japonês de japonês”, reclamou Loubet. Após receber críticas, negou ser racista por ter formado dupla sertaneja com um negro. “Meus melhores amigos são pessoas negras. O que define a pessoa não é a cor e sim o caráter”, escreveu. A justificativa é inútil. Se conviver com negros impedisse o racismo, logo não haveria machismo porque todos conviveram com pelo menos uma mulher na vida: a mãe.
A dupla George Henrique & Rodrigo pediu para cada pessoa contrária à comparação preconceituosa de Rodolffo doar uma quantia para ser revertida em cestas básicas. “Transforme o seu mimimi em ajuda”, disse George Henrique no Instagram. Rodrigo afirmou ter recebido mais de R$ 17 mil em doações, o equivalente a cerca de 300 cestas básicas. Antes do anúncio da eliminação, porém, não escondeu sua indignação com o discurso antirracista de Leifert.
“Cara, eu vou calar minha boca, senão vou ser preso”, falou o cantor enquanto Camilla de Lucas falava que não aguentava mais ensinar o que é racismo para Rodolffo e outros brancos. “Que absurdo! Gente que não se aceita e tem raiva dos outros”, opinou. Entre as ofensas a negros que podem levar à prisão se o autor não “calar a boca”, como declarou Rodrigo, estão injúria racial (1 a 3 anos de reclusão), quando cometido contra uma pessoa específica, e racismo (5 anos), em que o alvo é a coletividade.
Embora a baixaria para defender Rodolffo continue, ele já foi eliminado. Restam dez competidores na disputa por R$ 1,5 milhão, incluindo João e Camilla de Lucas, que ganharam ainda mais apoio e se fortaleceram depois de mais um episódio racista no BBB.