Análise

“Bambu”, Pânico e Maisa deram último fôlego ao Programa Silvio Santos e tiraram SBT da lama

Vítima da emissora e do próprio apresentador, atração só completa 60 anos por "acasos"

Publicado em 04/06/2023

O Programa Silvio Santos completa 60 anos nesta sexta-feira (2), mas deve sua longevidade a outras pessoas além do homem que nomeia a atração mais tradicional da TV brasileira. De piadas a virais, a última fase do dominical salvou o SBT e o próprio “dono do Baú” do ostracismo.

O ano era 2003. O Programa Silvio Santos tinha Silvio apenas no nome, já que Gugu Liberato assumira os domingos. Em meio a uma crise financeira e criativa, com demissões em massa e reformulação de programas, uma mentira acelerou a queda da segunda maior emissora de TV do Brasil. Na noite de 7 de setembro, o Domingo Legal enganou o público com falsos bandidos do PCC (Primeiro Comando da Capital) ameaçando figuras públicas. O “terror” virou galhofa pelo nível grotesco da encenação. Gugu e SBT perdem credibilidade, dinheiro e audiência.

Semanas após ter conhecido o fundo do poço, o canal enxergou uma luz na RedeTV!. O recém-lançado Pânico na TV passou a debochar do SBT com imitações exageradas de Gugu (Viny Vieira) como gay enrustido e Silvio Santos (Wellington Muniz, o Ceará) como velho louco. A voz, a peruca torta e a dentadura gigante conquistaram os jovens, que passaram a curtir o ídolo dos pais e avós a partir da representação tosca do humorista cearense.

Enquanto o SBT definhava em praça pública, Silvio Santos tornou-se conhecido dos adolescentes e decidiu surfar no sucesso do Pânico. Tentou tomar a trupe da RedeTV! em 2005, mesmo ano em que os recebeu no Family Feud e foi abordado por Ceará (fantasiado de Silvio) e Repórter Vesgo (Rodrigo Scarpa) em frente ao salão do cabeleireiro Jassa. Este episódio gerou um dos principais momentos da televisão brasileira na década de 2000: a saga “Autoriza, Silvio” (referente à imitação de Muniz após o apresentador ter proibido Tom Cavalcante de copiá-lo na Record), estendida para “Renova, Silvio” (porque a liberação assinada valia por apenas dois anos), com um final épico no Qual É a Música.

Neste período, o SBT sofria com a falta de novidades. Refém de reprises de Chaves, destratava suas maiores grifes, como Hebe Camargo, Ratinho e Carlos Alberto de Nóbrega, escanteando seus respectivos programas para horários ingratos como as noites de sábado e as manhãs de domingo. Todas as mudanças, diga-se, ordenadas por Silvio, cada vez mais preocupado com o avanço da Record. O apresentador que mal dava as caras aos domingos estava “on fire” nos bastidores.

Em 2006, outro ato de insanidade do “patrão” pôs fim ao departamento de comunicação. No mesmo ano, o canal perdeu o segundo lugar no Ibope para a Record. Sem assessoria de imprensa e com a “grade voadora” beirando o traço de audiência, ganhou nova divulgação gratuita no YouTube. No início da página de vídeos, Silvio Santos estrelou os primeiros virais, como o trecho do Topa Tudo Por Dinheiro em que caiu em um tanque de água. Entretanto, um vídeo em preto e branco de uma garotinha mandando Silvio tomar no c… espalhou-se pela internet com repercussão incomum para o agonizante SBT daquela época. Depois de Ceará no Pânico, a “menina do bambu” rejuvenesceu o público do animador e teve sua importância reconhecida, já que foi convidada para o especial de 60 anos.

Embora tenha detestado a repercussão e tentado retirar o vídeo da web, Silvio aproveitou a visibilidade. Em 2007, espremeu o Pânico no SBT e reassumiu os domingos, com quatro programas em sequência. Em 2008, após sete anos, voltou a cantar “Silvio Santos Vem Aí”, inaugurando a nova fase de sua atração dominical.

É quando surge o terceiro fator de reconstrução do Programa Silvio Santos. Maisa, artista mirim, virou a “antítese” do apresentador. Ele fazia perguntas absurdas, e a menina de seis anos retrucava com uma espontaneidade e uma sinceridade cativantes. Esperta e debochada, tirava o “patrão” do sério ao se recusar a responder as questões do quadro e quando mexeu no penteado modelado por Jassa. Com a criança, por sinal, Silvio experimentou seu primeiro “cancelamento” virtual quando a fez chorar de medo e foi proibido pela Justiça de interagir com ela no palco.

A Maisa de 2023, considerada uma das maiores celebridades do Brasil, foi forjada ao lado do dono do SBT. A Maisa de 2008 catapultou a era final de Silvio na televisão, que durou até setembro de 2022, quando ele pisou no estúdio pela última vez (e voltará quando quiser, mas está aposentado).

O Programa Silvio Santos resistiu ao tempo e às maluquices de seu titular (hoje leva a assinatura da filha número 4). Celebrar seu aniversário é celebrar a TV brasileira. Entretanto, só chega aos 60 anos porque Daiza, Ceará e Maisa deixaram.

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