Por preconceito, pessoas que trabalham com o corpo ou a beleza são tachadas de “desprovidas de inteligência”. Em um país machista como o Brasil, o clichê da burrice atinge bailarinas e assistentes de palco de programas de auditório. Com pouca roupa, elas esbanjam sensualidade na TV, mas nunca falam sobre outros assuntos. Em 2021, o jogo virou. Enquanto os verdadeiros burros estão no poder, as bailarinas protestam contra o presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.
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Já passou o tempo em que “bailarina indignada” era motivo de chacota. No Domingão do Faustão, em 2006, Carol Nakamura já respondeu que Lula seria o vencedor da Dança no Gelo. No dia da apuração do segundo turno da eleição presidencial, em 2014, Ana Flávia Simões abriu os braços perguntando “Que país é esse?”, enquanto Os Paralamas do Sucesso cantavam a música da Legião Urbana no palco. A imagem virou meme e é usada para ironizar pessoas despolitizadas que protestam por tudo mas, ao mesmo tempo, por nada.
A campanha de vacinação contra o coronavírus tem mostrado como bailarinas e assistentes de palco superaram a piada sem graça da “gostosa burra” conscientizando seus milhares de seguidores na internet.
Pâmella Gomes, que durante cinco anos foi bailarina, merchandete e repórter do Domingão do Faustão, recebeu na última terça-feira (27) a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Além de exaltar o SUS (Sistema Único de Saúde), escreveu “Fora, Bolsonaro” na legenda.
Pâmella, que atualmente compõe o balé do Hora do Faro, ainda partiu para o deboche ao utilizar o efeito de jacaré para brincar com o efeito da vacina e ironizar uma fala mentirosa do presidente Jair Bolsonaro para desestimular a imunização. Laura Zanforlin, demitida do balé do Faustão em fevereiro deste ano, também virou “jacaré” em sua rede social para se opor ao governo.
Grávida, Valeska Reis, assistente de palco do Hora do Faro, precisou trancar os comentários de seu Instagram no vídeo em que toma a primeira dose da vacina. O motivo: sofreu ataques com ofensas e ameaças por ter gritado “Fora, Bolsonaro” durante a aplicação.
Gaby Chantre, coreógrafa e bailarina do programa de Rodrigo Faro na Record, mostrou que sabe quem é o culpado pelas mais de 550 mil mortes por Covid-19 no Brasil ao escrever “Fora, Bolsonaro” na legenda da foto de seu cartão de vacinação.
Karina Barros, ex-bailarina do Faustão e ativista da comunidade LGBTQIA+, nem precisou ser vacinada para criticar Bolsonaro. Ela publicou esta imagem em 29 de maio, dia de protestos contra o governo pelo Brasil.
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