Opinião

Análise: Globo segrega Manoel Soares para inflar ego de Patrícia Poeta no novo Encontro

Emissora comete racismo ao invisibilizar apresentador como sucessor de Fátima Bernardes

Publicado em 01/07/2022

Desde o anúncio de Patrícia Poeta e Manoel Soares no lugar de Fátima Bernardes no Encontro, o público observa, com constrangimento e revolta, a Globo destacando apenas a nova apresentadora e escanteando o colega. A suspeita se confirmou na tarde desta sexta-feira (1°). No primeiro comercial da nova fase do programa, a vinheta incluiu a assinatura de Patrícia e de mais ninguém. E Manoel? É praticamente “invisível”.

Embora apareça no vídeo, exibido no intervalo da Sessão da Tarde, Manoel se limita a conversar com a parceira no cenário do É de Casa, que comandavam aos sábados. “O novo Encontro vai começar comigo”, disse Patrícia, emendando ao olhar para o colega: “Com a gente”. Em seguida, ele confirma: “É isso”. A chamada termina com o nome do programa e o autógrafo, que era de Fátima Bernardes, trocado pelo de Poeta.

Como empresa, a Globo praticou propaganda enganosa, segundo o Código de Defesa do Consumidor: “É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços”.

A discussão, no entanto, vai além do caráter comercial. Manoel Soares vem sendo invisibilizado com frequência, do comercial de Poeta ao lado de Ana Maria Braga e Maria Beltrão (nova grife do É de Casa) ao lançamento para a imprensa da programação matinal, em que o apresentador quase entrou mudo e saiu calado (mas contou uma divertida história em que foi “enquadrado” na rua por fãs da TV Globinho). Manoel também apareceu como figurante na passagem de bastão do Encontro, enquanto Fátima interagia com sua sucessora.

Manoel Soares, Fátima Bernardes e Patrícia Poeta no Encontro
Manoel Soares, Fátima Bernardes e Patrícia Poeta no Encontro

O escanteamento desrespeita a trajetória de duas décadas de Manoel Soares na Globo, somando o trabalho na RBS (afiliada gaúcha) e no Profissão Repórter, com Caco Barcellos. Patrícia Poeta, por sua vez, tem o mesmo tempo de casa: 22 anos. O que diferencia os dois?

O autógrafo de Poeta na vinheta do Encontro escancara a real função de Manoel Soares a partir da próxima segunda-feira (4) “Apêndice” e “Louro José” são alguns apelidos irônicos do público para a anulação do profissional. Patrícia também não ajuda ao tratá-lo como “colaborador”: “Fátima contou durante esses 10 anos com grandes parceiros, como o André Curvello, Lair Rennó e outros que estiveram com ela no palco. Poder contar com o Manoel vai ser muito bom também”.

Diferentemente de Lair Rennó e André Curvello, Manoel é chamado de apresentador desde o início da divulgação do novo Encontro, ao passo que Fátima sempre foi anunciada como única titular, tanto que a atração recebeu seu nome (Encontro com Fátima Bernardes).

Reduzir Manoel Soares a um “apoio” de Poeta serve apenas para inflar o ego da apresentadora (com ou sem o aval dela), igualando-a a Fátima. Como esta coluna escreveu em maio, a ex-titular do Jornal Nacional colocou sua credibilidade à disposição do público e das marcas. Tê-la na grade matinal significa prestígio, da mesma forma que não tê-la é sinal de alerta. O telespectador não quer se encontrar com qualquer pessoa, mas com Fátima Bernardes. Ela é a grife, o que Poeta ainda não é.

Por fim, invisibilizar Manoel Soares é uma forma de segregação, algo que ele, como ativista da causa racial e vítima do preconceito enraizado no Brasil, conhece bem. Não seria incorreto interpretar a situação como racismo. Enquanto eleva um homem negro à condição de apresentador titular de um programa diário, a Globo o discrimina das chamadas, das entrevistas e das passagens de bastão. A emissora parece não querer que o público encontre Manoel Soares no Encontro.

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