
A nova dublagem de Os Cavaleiros do Zodíaco caiu como uma bomba nos corações dos fãs antigos da animação japonesa. Desde 1994, quando estreou na extinta Manchete, o anime nunca havia passado por uma reformulação tão profunda em sua versão brasileira quanto a anunciada nesta sexta-feira (11) pela produtora Toei Animation. A mudança, embora forçada, pode ser positiva e obrigará o público de 30 e poucos anos a (finalmente) crescer.
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As cinco primeiras vozes anunciadas foram: Wirley Contaifer (Seiya de Pégaso), Bruno Casemiro (Shiryu de Dragão), Samuel Fernandes (Hyoga de Cisne), Mari Guedes (Shun de Andrômeda) e Leo Caldas (Ikki de Fênix). Eles já estão trabalhando na segunda temporada do reboot em 3D e computação gráfica, lançada pela plataforma Crunchyroll (a primeira leva de episódios saiu em 2019, pela Netflix).
Por ser a primeira alteração completa no elenco, os fãs brasileiros de Cavaleiros do Zodíaco podem se sentir privilegiados. Afinal, não sofrem como fãs de outros produtos, como Os Simpsons e Sailor Moon. Graças ao público, as vozes da primeira (e malfeita, por causa da tradução) versão brasileira (na Gota Mágica) foram mantidas na redublagem (em 2003, na Álamo) e nos trabalhos inéditos (Saga de Hades e o filme Prólogo do Céu, por exemplo).
Cavaleiros escreveu uma página importante na dublagem brasileira. Durante a exibição na Manchete, os intérpretes de Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki, entre outros personagens, tiveram seus rostos revelados e ganharam destaque em revistas e jornais como responsáveis pelo fenômeno infantil dos anos 90. Até hoje, o elenco participa de eventos pelo Brasil como se fossem astros da cultura pop.
Entre 1994 e 1995, nenhum desenho foi tão popular na TV brasileira quanto Cavaleiros do Zodíaco. A base de fãs do anime nasceu ali, mas a maioria estacionou e não quer sair daqueles “anos dourados” de jeito nenhum. Ter seus heróis com as mesmas vozes representa, para uma porção do fã-clube, a oportunidade de ainda ser criança. Nostalgia traz sensações boas, conforto, aquele quentinho no coração… mas é traiçoeira. Infelizmente, não é possível voltar à infância.
Nos últimos anos, enquanto a Toei tentou modernizar a série para conquistar novas gerações, a versão brasileira não mudou por pressão dos adultos que não cresceram. Resultado: vimos um Seiya adolescente dublado por um excelente Hermes Baroli, mas quase quarentão, em A Lenda do Santuário (2014). Este filme, um reboot da Saga do Santuário, foi produzido para atrair crianças e adolescentes. Porém, marmanjos lotaram as sessões de cinema e saíram resmungando pelas mudanças na história.
O público “das antigas” conta com ótimas opções, como a série Alma de Ouro (estrelada pelos Cavaleiros de Ouro) e o mangá Next Dimension (continuação da história clássica que merece virar anime). A Lenda do Santuário e o atual reboot, em contrapartida não vieram para agradar homem barbudo. Por isso, a renovação, ainda que tardia e por motivos mesquinhos (pagamento adicional exigido por alguns dubladores), é bem-vinda na versão brasileira.
Com novas vozes, Cavaleiros tem mais chances de “renascer” e conquistar fãs jovens do que “morrer” com um fã-clube quarentão. Seiya de Pégaso, por exemplo, será dublado por Wirley Contaifer, o Homem-Aranha da franquia mais recente da Marvel. De herói para herói, Hermes Baroli já “abençoou” seu sucessor com a maturidade e a honradez que muitos adultos travados na infância não conseguem ter.
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