A coluna não sabe qual é o salário de Amanda Klein, uma das melhores jornalistas do Brasil, mas ela merece adicional de insalubridade. Única voz ponderada dos programas extremistas Opinião no Ar, da RedeTV!, e do 3 em 1, da Jovem Pan, é constantemente atacada no ar, por seus colegas de trabalho, e nas redes sociais, pela audiência composta por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
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Nas duas emissoras, Amanda Klein tem a companhia nada prazerosa de Rodrigo Constantino, um bolsonarista típico (aquele que nega ser bolsonarista). Em debates, tenta estimular a contradição e a “hipocrisia” de quem discorda de suas opiniões sem perceber que o único “hipócrita” é ele. O objetivo é desqualificar o debatedor e, com isso, “vencer” a discussão.
A tática é semelhante à de “exterminar” opositores, típica de regimes totalitários, inclusive os eleitos democraticamente, como o bolsonarismo. “As minorias se adequam às maiorias ou simplesmente desapareçam”, frase dita por Bolsonaro antes de se tornar presidente é seguida à risca por seus apoiadores em debates na imprensa.
Gabriela Prioli e Augusto de Arruda Botelho, por exemplo, deixaram O Grande Debate, da CNN Brasil, ao identificarem essa estratégia rasteira em seus “oponentes” no quadro, principalmente Caio de Arruda Miranda (mais conhecido por outro sobrenome, Coppolla).
Nesta quarta-feira (7), Amanda Klein tomou uma atitude à altura de seu caráter e de seu profissionalismo. Anunciou que deixará o 3 em 1 porque “em ambiente tóxico e com ataques pessoais não se faz jornalismo”.
O desabafo ocorreu um dia após ter sofrido ao vivo, mais uma vez, ataques baixos de quem não sabe debater. Ou melhor, prefere “implodir” o debate desqualificando seu “oponente”. Rodrigo Constantino, irritado com a defesa da jornalista sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a chamou de “hipócrita” e acusou de ser “socialista” (um dos xingamentos favoritos dos extremistas incapazes exercer o fundamento número um de um debate: trocar ideias).
Durante o 3 em 1 da última terça, um dos assuntos foi a sugestão de Bolsonaro para que André Mendonça ocupe uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Amanda Klein lembrou que o presidente declarou querer um ministro “terrivelmente evangélico” e questionou se esta era uma característica importante a um magistrado.
Constantino tentou distorcer a fala de Klein dizendo que ministros não precisam ser evangélicos, como também não precisam ser negros ou gays “como a esquerda defende”. Didática, ela explicou ao colega que preferir um evangélico não é reparação histórica como são, por exemplo, as cotas raciais a uma população discriminada desde a escravidão.
A partir daí, o debate virou assédio. Constantino insinuou que Amanda Klein não tinha inteligência para entender a lógica de sua comparação (que, como ela bem explicou, não tinha lógica). Em seguida, como extremista de direita que é, colocou na mesa a carta da orientação sexual ao repudiar o casamento gay por “não estar na Constituição”, embora o STF tenha reconhecido a união entre pessoas do mesmo sexo há dez anos.
“Sob a bandeira liberal, esconde-se uma ideologia conservadora e obscurantista. Pode ter certeza de que minha inteligência vai muito além disso, Constantino, e não me intimida”, rebateu Amanda Klein. Constantino baixou o nível chamando a jornalista de “desleal” e “cafajeste”. Em seguida, sacou a carta do “socialismo” ao ofender mais uma vez a colega.
“Exterminador” de opositores, como todo bolsonarista, Constantino comemorou a saída de Amanda Klein do 3 em 1 achando que “venceu” o debate. Entretanto, ele nunca debateu. Corajosa, Amanda derrotou o ódio e o negacionismo. Que ela estenda sua coragem contra os “não-debates” dos quais participa na RedeTV!. Parabéns, Amanda!
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