
Com a exclusividade obtida pelas empresas da Família Marinho, os telespectadores só poderão assistir às Olimpíadas pela TV Globo ou através das estações pagas do grupo, como os canais SporTV ou pelo streaming Globoplay. O Canal Casé furou o monopólio das imagens e transmite gratuitamente algumas competições através do YouTube.
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No entanto, apesar de ignorar os esportes olímpicos em seu dia a dia, a verdadeira competição se dará pelo rádio. A briga não ficará restrita às concorrentes no dial FM. Em um mundo digitalizado, meios diferentes cada vez mais competem entre si. Ou seja, o espectro radiofônico disputa o público com a TV e as mídias sociais.
Ex-canal do Esporte
Fora de campo, a Band, que já foi conhecida como a TV do esporte, tem como prêmio de consolação a garantia da presença de suas rádios na transmissão das disputadas em Paris. As afiliadas da BandNews e a Rádio Bandeirantes de São Paulo acompanham de perto a movimentação na França e algumas provas.
Apesar de serem do mesmo grupo e compartilharem alguns conteúdos no seu dia a dia, as transmissões esportivas serão independentes. Na Rede BandNews, o comando ficará a cargo dos narradores Marcelo do Ó, Silva Junior e Anderson Gonçalves, além do comentarista Marcelo Romano. Na tradicional Rádio Bandeirantes paulista, foram escalados Pedro Martelli, Pedro Ramiro, Ulisses Costa e Rogério Assis.
Sempre negligenciada, a Rádio Bandeirantes do Rio de Janeiro, mesmo tendo migrado para a estratégica frequência FM, não deve participar da transmissão. Não adquiriram a licença extensiva para a filial carioca, que continuará como o patinho feio da família, tocando músicas e sem investimento em programação própria.
Transamérica e CBN
A Transamérica adquiriu as licenças extensivas às suas sete filiadas, ficando os trabalhos de produção divididos entre as estações de São Paulo e do Rio de Janeiro. Conta com mais de 30 profissionais, entre eles o narrador Téo José, em sua 12ª Olimpíada.
Do mesmo grupo que abocanhou a exclusividades de imagem, o Sistema Globo de Rádio vai escoar o conteúdo olímpico pela rede CBN e pelas regionais Globo Rio de Janeiro e BH FM. Além das redes, duas regionais se fazem presentes. Superando todas as dificuldades por conta da tragédia climática no Rio Grande do Sul, a Rádio Gaúcha manteve a tradição e enviou seis profissionais.
Transmissão Compartilhada Rádio e TV
Também finca sua bandeira na capital francesa a mineira Itatiaia, maior rede de rádio daquele estado, comprada por Rubens Menin, dono no Brasil da marca de TV CNN. Seus executivos almejam, nas Olimpíadas, colocar em prática o projeto de produção de conteúdo conjunto entre a emissora de rádio e a de TV do grupo. Essa consolidação era tentada desde a aquisição em 2021, sem resultados e adesões satisfatórios. A equipe radiofônica é composta por 50 profissionais, sendo 23 in loco e o restante nos estúdios em Belo Horizonte.
Se a expectativa é positiva em relação à sinergia Itatiaia/CNN, o mesmo não se pode dizer da apliação de sua operação. A intensão era aproveitar as Olimpíadas para dar o pontapé inicial na extensão da rede fora das fronteiras de Minas Gerais. Nos últimos meses, representantes do empresário vinham conversando com as irmãs Kapeller visando algum tipo de atuação conjunta, seja através da compra da outorga, do arrendamento de parte dos horários ou de uma produção associada ao único bem que restou do Grupo Bloch.
Após a falência, fracassaram pelo menos seis tentativas de ressuscitar a emissora através de arrendamentos. No entanto, a Rádio Manchete do Rio agregou, este ano, um valioso ativo à massa falida. Por conta da reorganização do dial fluminense, o sinal migrou do AM para o espectro conhecido como FM estendido.
De olho nesse espaço nobre e de melhor qualidade técnica, a Itatiaia vinha tentando através desse canal expandir suas atividades para o mercado carioca, entre os maiores do país. Sem o acerto, como queriam os mineiros, não há nenhuma pista se as negociações foram canceladas, se estão apenas congeladas ou atrasadas.
Ausências das Rádios Nacional e Mec
Entre as grandes ausências brasileiras em Paris estão a da Rádio MEC do Rio de Janeiro — a primeira do Brasil — e a da Nacional carioca, estação mais emblemática do país e com forte tradição em transmissões esportivas. Na primeira gestão de Lula da Silva, essas emissoras foram incorporadas, junto com a TV Educativa, à criada Empresa Brasil de Comunicação, EBC. Desde então, essas rádios icônicas estão sendo descaracterizadas e desprestigiadas. É de fundamental importância a presença de empresas de comunicação públicas em um evento como este.
Exclusividade Lesiva
Pode até ser um bom negócio para os organizadores e as emissoras escolhidas, mas a exclusividade para grandes eventos é nociva para os espectadores e o mercado. A falta de concorrência, como no âmbito da televisão, gera acomodação e apatia produtiva na detentora dos direitos, deixa o público sem opções e ainda agrava as diferenças econômicas entre os veículos de comunicação.
Esse monopólio é ruim até mesmo para os patrocinadores. É convencionado na venda das cotas o veto a um segundo anunciante master do mesmo segmento. Ou seja, se tiver um banco, uma telefônica, uma companhia de aviação com cotas já garantidas, seus concorrentes não vão poder anunciar já que não existe outro canal alternativo por conta da exclusividade.
Além disso, acaba tendo uma concentração dos maiores e mais lucrativos eventos nas emissoras com maior poder financeiro que se fortalecem ainda mais reforçando a desigualdade em relação as menores. E não são raros os casos de empresas com mais recursos comprarem algumas exclusividades somente para tirarem as concorrentes do páreo. Com isso muitos eventos adquiridos acabam sendo subaproveitados ou sequer chegam a ser transmitidos.