
Demorou um pouco mais, porém a guilhotina implantada pelas Tvs abertas chegou aos maiores nomes e salários do jornalismo policial. Cinco anos antes o desmonte já tinha atingindo atores, escritores, diretores, produtores e repórteres.
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As ofertas impostas pelos patrões não são nada vantajosas para os antigos funcionários: fim da estabilidade, substituída por acordos apenas no período de realização da obra. Os poucos privilegiados que ainda mantém o modelo antigo, não tiveram reajuste ou sofreram significativa redução no valor recebido mensalmente. A terceira opção é ainda mais drástica: demissão com corte do vínculo com a emissora.
Band toma coragem
O medo de perder audiência com as saídas dos medalhões foi vencida após o quinto lugar de José Luiz Datena na corrida eleitoral para a prefeitura de São Paulo. Veio a desmistificar a percepção sobre a real influência desses profissionais. Até então havia entre os diretores uma indisfarçável sensação de dependência da popularidade de Datena. A situação agravou-se com a súbita morte de seu mais célebre jornalista, Ricardo Boechat.
Serviu de termômetro esse período em que o comandante do Brasil Urgente estava fastado para atender as exigências da legislação eleitoral. Como não houve alteração na média da audiência, concluíram que não era o veterano jornalista quem mantinha a fidelidade do público na Band, mas sim a conjunção de vários elementos, como: a força do hábito e a manutenção do tom empregado, formato e modelo editorial.
No modelo que vinha sendo desenvolvido quase toda a verba de produção acabava destinada ao alto salário do âncora sobrando pouco para manter o custo operacional, desenvolver conteúdos mais elaborados assim como investir na qualificação e retenção de sua mão de obra formada em sua maioria por profissionais mantidos com baixa remuneração.
Record segue o exemplo
Encorajada, logo depois, a rede do Bispo Macedo seguiu a cartilha da Band e dispensou o “seu menino de ouro”, Luiz Bacci já que algumas ausências pontuais do titular também não alteraram a performance da Cidade Alerta.
Pelo modelo antigo, apesar de populares,, em muitas ocasiões, seu faturamento mal conseguia cobrir seus custos. A audiência majoritária é formada por pessoas com baixo poder aquisitivo o que dificulta o retorno do investimento das empresas patrocinadoras.
Além disso, como agravante no quadro financeiro, os maiores anunciantes e agências fogem dos intervalos desses programas. A maioria não quer suas marcas associadas a crimes, sensacionalismo e, em alguns casos, condução acima do tom. Portanto, resta para esses horários campanhas de baixo investimento, oferta de produtos mais simples, televendas e merchandising ao vivo feitos pelos próprios apresentadores ou por televendedores.
Audiência alavancada
Em contraponto ao deficitário faturamento, a audiência costuma ser alta e fiel. Por isso, a estratégia é mantê-los como trampolins para o restante da grade seguinte. A missão é atrair e repassar o público para os os telejornais nobres, propositalmente programados na sequência. Esses, sim, figuram entre os conteúdos mais rentáveis para as emissoras.
Mesmo tendo os espaços publicitários entre os mais caros da TV, o departamento de vendas não encontra dificuldade em negociar suas cotas de patrocínio ou preencher os intervalos dos telejornais tradicionais com comerciais pulverizados.
Essa passagem de bastão entre o jornalístico popular e o prestigiado vem sendo repetida desde a estreia da primeira fase do lendário Aqui Agora em 1991, permanecendo bem posicionado até 1997. Os apresentadores da edição popular entregavam seus altos índices ao TJ Brasil, comandado pelo tradicional Boris Casoy.
Essa raiz quadrada implantada por Sílvio Santos multiplicou-se, recebendo também espaço nas concorrentes, que, ao contrário do SBT, mantiveram suas dobradinhas no ar: Cidade Alerta com Jornal da Record assim como Brasil Urgente com Jornal da Band. Com exceção da Globo, os demais canais também reproduziram esse formato, mas fracassaram pela óbvia exaustão.
Reprodução do gênero
Na Gazeta foi transmitido o Cadeia com Carlos Alborghetti. A CNT marcou presença com seu 190 trazendo o estreante Ratinho, depois substituído por Wagner Montes. A mais recente aposta no segmento foi o Alerta Nacional pela Rede TV.
O extremismo de Sikêra Júnior resultou na rescisão do contrato bem antes do prazo de validade. A promissora audiência inicial foi minguando rapidamente. Os cofres da empresa começaram a esvaziar com a fuga dos poucos anunciantes e custos com inúmeros processos judiciais colecionados pelo âncora, alguns tramitando até hoje.
O antecessor Repórter Cidadão chegou a atingir picos satisfatórios, mas em geral não conseguia manter a média de audiência. Foram incansáveis as tentativas com contratações das maiores estrelas do gênero policial, mas que nem chegavam a esquentar a cadeira:
Marcelo Rezende, José Luiz Datena, Ney Gonçalves Dias, Jorge Kajuru, Renato Lombardi e o falecido Vanilton Alves Pereira, vulgo Jacaré. Em apenas três anos essa atração registrou uma das mais altas rotatividades.
A inconsistência do SBT
As constantes alterações na sua grade fez com que a estação perdesse a vantagem da primazia. Mesmo com o velho Ibope em alta para alegria a Sílvio Santos, o departamento comercial acabou convencendo o empresário a cancelar o Aqui Agora seis anos após sua estreia, alegando baixa arrecadação publicitária.
A suspensão do noticioso anterior abalou negativamente a performance do telejornal de Boris Casoy, caiu sem o empurrão de sua mola propulsora. Percebido o erro, foram feitas três tentativas de ressuscitá-lo. Em 1997 retornou com o veterano Ney Gonçalves Dias.
Em 2008, com Luiz Bacci e o resgate de Christina Rocha integrante da primeira equipe. Logo depois, tentaram em vão uma sobrevida apostando em César Filho, que no ano passado voltou a casa para ancorar o novo SBT Brasil.
Mantendo o mesmo espírito e estratégia do velho Aqui Agora, as herdeiras de Sílvio Santos lançaram no ano passado o Tá na Hora, com a esperança de voltar a marcar presença na disputa entre os programas populares. Mais uma vez tentaram como coringa, Christina Rocha. A experiente comunicadora percebeu o equívoco bem antes da nova direção que manteve o jornalístico tocado por Marcão do Povo.
Sem espaço na Band, José Luiz Datena foi arrebatado com a missão de salvar o novo policialesco do SBT e reposicionar a emissora na disputa com suas concorrentes diretas. Herdou a audiência em baixa e poucos recursos para a remodelação. Acostumado a ter praticamente toda a estrutura da Band girando ao ser redor, seguiu com um voo solitário sem investimentos para levar consigo parte de sua equipe de confiança.
Ele agora depende de um enferrujado departamento de jornalismo há décadas desprestigiado, sem investimentos e sofrendo demissões constantes reduzindo ainda mais o pequeno quadro de funcionários. E diante da nova realidade da TV aberta, amarga o baque da redução de seus proventos. Exageros à parte, em suas constantes reclamações no ar firma estar ganhando dez vezes menos no SBT.
Sistema Brasileiro de Televisão nunca desiste
Mas como a sigla criada por Sílvio Santos tem a palavra “brasileiro”, e dizem que essa nacionalidade nunca desiste, não é que o SBT tenta voltar com o Aqui Agora? Com o sucesso do Cidade Alerta, a Record criou o genérico Balanço Geral, em edições no início da manhã e da tarde, ajudando a impulsionar os programas seguintes nessas faixas horárias.
E justamente para tentar recuperar a vice-liderança perdida para a estação da Igreja Universal, o SBT aposta novamente na força da marca Aqui Agora. A proposta é ocupar parte das atuais cinco horas e meia de duração do Jornal Primeiro Impacto, que além de reduzido deve trocar de nome para economizar com o pagamento de royalties internacionais ao dono deste título.
A estratégia é criar um tripé matinal fechando com o Aqui Agora antecedido pelo reocupação do horário por uma revista feminina após o cancelamento do fracassado Chega Mais, em dezembro. O Departamento Comercial insiste na potencialidade publicitária para esse tipo de programa
Ironia: História entre Datena e Bacci se repete
Um dos mais cotados para o resgate do Aqui Agora é o recém-desempregado Luiz Bacci. Pilotos estão sendo gravados para ajudar na escolha do nome do segundo apresentador, assim como o quadro de comentaristas. Com a proposta de mudar, mas com parcos recursos, a determinação é priorizar profissionais já disponíveis na casa:
Dani Brandi, que ficará sem espaço com a redução do Primeiro Impacto, foi testada na primeira leva, assim como Felipe Macedo da equipe do Tá na Hora, o jornalista de celebridades Felipeh Campos e a repórter Aryani Rolim. Esses dois últimos estão na geladeira desde a extinção do Chega Mais. Ainda no páreo: Kleber Leite e Guilherme Stoliar, respectivamente apresentador e repórter recém dispensados pela Record.
Stoliar é a segunda opção como apresentador-máster caso não fechem com o ex-menino de ouro. A favor de Guilherme, além do parentesco com a família Abravanel, tem laços históricos já que iniciou sua carreira do SBT carioca, chegando a apresentador regional antes de seguir para a concorrente.
Mesmo assim, a expectativa é de que Luiz Bacci acabe mesmo assinando o contrato mesmo com um salário inferior diante da retração do faturamento das estações abertas. Situação bem diferente de 2015, quando foi seduzido a peso de ouro pela Band para comandar um espaço no meio da tarde. A experiência durou poucos meses, sendo retirado do ar.
A justificativa oficial foi uma das históricas crises financeiras do canal. No entanto, declarações e notícias da época evidenciaram uma forte pressão por parte de Datena em seu auge de prestígio entre a família Saad. O veterano não queria que as pautas do Brasil Urgente fossem furadas pelo programa policial anterior comandado pelo jovem âncora pelo jovem âncora em seu próprio canal.
Por ironia, tudo indica que os dois vão voltar a ser colegas de trabalho e novamente com Bacci antecedendo Datena com um outro produto policial.